Algo de estranho acontece no mundo das abelhas

Algo de estranho acontece no das    

Elas estão aqui, ali, entre as , pelas matas, na colmeia. As abelhas, milhares delas, cada uma com sua função, trabalhando e vivendo em perfeita harmonia. Até que algo estranho acontece. De repente, sem motivo aparente, as abelhas surtam: simplesmente abandonam a colmeia, deixando para trás seus depósitos de mel e suas larvas, para não mais voltar.

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Em geral ninguém sabe para onde elas foram, nem se ainda estão vivas – pois não deixam rastros ou insetos mortos nos arredores da colmeia. Esse comportamento anormal está se espalhando pelo mundo: em 10 países, as abelhas já apresentaram essa síndrome, em Inglês batizada como Colony Collapse Disorder (desordem e colapso de colônia). Esse parece ser o caso entre os enxames que recentemente atacaram , trazendo a óbito uma pessoa.

Segundo o portal Planeta Sustentável, o caso é especialmente grave nos EUA, o país mais afetado pela doença, onde cerca de 50 bilhões de abelhas sumiram, esvaziando 40% das colmeias do país. Os primeiros casos da síndrome apareceram em 2006, mas só agora os descobriram o que está fazendo as abelhas fugirem. “É uma infecção por vírus, que danifica o código genético dos insetos”, afirma a entomóloga May Berenbaum, da de Illinois.

No Brasil, ainda não há registro oficial da incidência do vírus. Mas há uma evidente queda na presença da abelha, o que é atribuído ao modelo agropecuário, que retira a vegetação nativa e usa em larga escala. O apicultor Carlos Roberto Alves de Oliveira, dirigente da associação dos produtores de (GO), afirma que “o uso indiscriminado de inseticidas proibidos por lei deixa resíduos que atingem os enxames e os eliminam”. Um desses venenos, muito usado em todo o país, é o Regente, disponível no mercado paralelo.

Segundo Berenbaum, o vírus, que ainda não foi isolado, deve ser o causador das modificações genéticas que provocam o comportamento bizarro das abelhas, cujo desaparecimento pode ter consequências muito mais graves do que a falta de mel. As abelhas são responsáveis pela polinização de mais de metade das 240 mil espécies de plantas floríferas que existem no mundo. Sem as abelhas, essas plantas não teriam como se reproduzir e sobreviver. Se um mundo sem mel já seria ruim, um mundo sem flores não teria a menor graça.

Esta matéria foi produzida por Zezé Weiss, com a colaboração de Janaína Faustino, para a .

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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