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“Chico Mendes é irrelevante. Que diferença faz…”

Chico Mendes é irrelevante. Que diferença faz quem é Chico Mendes nesse momento?” diz Ministro do em entrevista ao programa Roda Viva

Tristeza. Feiúra,  para dizer o mínimo. Em mídia nacional, durante entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, nesta segunda-feira, 11 de fevereiro,  o ministro do Meio Ambiente,Ricardo Salles,  ligado aos ruralistas e defensor da flexibilização das licenças ambientais, reconheceu que não conhece Chico Mendes, disse  que tem cuidado em comentar sobre “coisas que não conhece“, como se Chico Mendes fosse coisa  e, acossado pelos entrevistadores, desrespeitou  o do grande líder brasileiro.

Logo em seguida, um twitter de Gabriel Thread distribuiu o vídeo do programa, onde fica claro  o grau de desrespeito com que Ricardo Salles trata Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes, herói do Brail. Em resposta ao entrevistador Ricardo Bessa, que quis saber do ministro o que achava de Chico Mendes, o ministro vociferou  “Chico Mendes é irrelevante. Que diferença faz quem é o Chico Mendes nesse momento?” O ministro  desqualificou também a Organização das Nações Unidas: “A ONU reconhece um monte de coisas erradas… a ONU tem coisas que…”

É lamentável que, 30 anos após o assassinato do Chico Mendes no quintal de sua casa em Xapuri, no Acre, no dia 22 de janeiro de 1988, pelas balas assassinas do latifúndio, um ministro de Estado trate assim um herói nacional.

Em dezembro de 2018, mais de 500 pessoas de todas as partes do Brasil e do mundo se reuniram nas barrancas do Rio Acre, em Xapuri, para honrar a memória e celebar o legado de Chico Mendes. O compromisso com a defesa os ideais e do legado de Chico Mendes ficaram registrados na “Carta de Xapuri”, construída coletivamente e lida pela atrriz e militante Lucélia Santos, ao final do “Encontro Chico Mendes 30 Anos”, no dia 17 de dezembro de 2018.

ANOTE: Foto de Capa de Denise Zmekhol, conforme informação da autora, a quem agradecemos a compreeensão pelo uso original sem crédito (por desconhecimento nosso) e o direito de uso nesta matéria, a nosso ver relevante para se fazer à memória e ao legado de Chico Mendes. 

Chico Mendes foi quem apresentou em outubro de 1985, na UNB, em Brasília, a proposta dos seringueiros para uma espécie reforma agrária ecológica na Amazônia, as Reservas Extrativistas, por meio da qual as comunidades extravisitas da floresta podem fazer o uso sustetável de eus recursos naturais, permanecendo a terra sob o domínio da União. Hoje, cerca de 13,2% da floresta amazônica encontra-se sob a guarda dos povos da floresta, em vários formatos de Reservas Extrativistas. O ataque fortuito a Chico Mendes é, em grande medida, um ataque à aos espaços protegidos de floresta amazônica. Oxalá a ignorância do ministro sobre quem é Chico Mendes o faça menos nocivo à Amazônia e aos povos que nela vivem.

SOBRE A SIGNIFICÂNCIA DO MINISTRO DO MEIO AMBIENTE

 Vale reler matéria de José Cassio no  Diario do Centro do Mundo com o título: “Ricardo Salles, o morto-vivo de um governo sem pé nem cabeça” para compreender a “significância” de quem se arvorou a julgar Chico Mendes irrelevante:

“O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, encerra a semana pós Brumadinho na condição de morto-vivo dos escombros da tragédia da Vale. Deu tudo errado para ele nos últimos sete dias.
Primeiro, logo após a tragédia que matou até aqui [165] pessoas e deixou centenas de desaparecidos, descontando o estrago ambiental, teve de negar, numa entrevista claudicante, sua intenção de flexibilizar o processo de licenças ambientais de empresas de mineração. “Não há nem nunca houve nesse sentido”, disse, sem que ninguém acreditasse.
Em seguida, viu o general Augusto Heleno, chefe do gabinete de Segurança Institucional da presidência da República, fazer a lição de casa que ele não foi capaz. “Parece que há alguma coisa que está falhando nesse licenciamento”, afirmou o general, atropelando Salles.
“Flexibilizar licenciamento ambiental significa ter regras rígidas, que permitam que algumas obras que dependem de licenciamento ambiental saiam do papel e aconteçam. Não afrouxar”. Daí pra frente o presidente do movimento Endireita Brasil literalmente desapareceu.
Agora, para coroar a semana perfeita, viu o Conselho Superior do Ministério Público de determinar a retomada de um inquérito civil em que é citado por ter favorecido empresas de mineração em 2016, ao acolher mudanças nos mapas de zoneamento do Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Tietê. Nesta época, Salles comandava a pasta do Meio Ambiente de São Paulo na gestão de Geraldo Alckmin.
Acabou demitido, mas ao contrário do que muitos imaginam não por ter usado as prerrogativas de secretário para beneficiar e gerar mais lucros para empresas privadas. Foi dispensado pelo conjunto da obra, numa gestão considerada um desastre em todos os sentidos.
Salles na secretaria do Meio Ambiente fez o que Bolsonaro condena no PT: politizou e ideologizou o setor. Foi permanentemente criticado por pesquisadores e por ambientalistas por tomar decisões sem levar em consideração aspectos técnico-científicos e por ter aparelhado a secretaria com contratações de políticos para chefias de .
Além de ter alterado o zoneamento da várzea do Tietê, uma área de proteção ambiental, teve de lidar com um inquérito do MP por dar andamento a uma proposta de negociação do imóvel da sede do Instituto Geológico, na capital, contrariando parecer de sua própria Consultoria Jurídica que considerava a iniciativa “de risco inaceitável” para o estado.
Em outro inquérito, respondeu por ter realizado chamamento público, sem autorização legislativa, para a concessão ou venda de 34 áreas do Instituto Florestal. Nenhuma dessas iniciativas, porém, teve tanta repercussão quanto a ordem para a retirada de um busto de Carlos Lamarca de seu pedestal, e também de um painel com fotos e informações, do centro de exposição temático do Parque Estadual Rio Turvo, na região do Vale do Ribeira. Alegou, confundido Lamarca com Carlos Marighella, que o material exposto era proselitismo ao comunismo. “O parque está plantando o comunismo no coração das ”, justificou.
Com uma folha corrida dessas, e movimentando-se politicamente como um elefante em loja de cristais, não tardou para virar um problema para Alckmin, que àquela altura organizava a sua candidatura à presidência. Dispensado, vagou solitário por um período até ingressar no partido Novo e ser derrotado na tentativa de conquistar uma cadeira na câmara dos deputados no ano passado. Até ressurgir das cinzas como indicado ao ministério do Meio Ambiente por Bolsonaro.
A melhor definição sobre ele é de alguém despreparado, sem compromisso público, e que vai com muita sede ao pote. No governo, seu primeiro gesto foi suspender – depois voltou atrás – convênios com entidades não-governamentais. Em seguida, falou em flexibilizar as licenças ambientais, sem imaginar que a lama da Vale iria cobrir-lhe até o pescoço de vergonha. Salles é um morto-vivo que só não foi enterrado ainda pela incapacidade de Bolsonaro de lidar com os próprios erros.

REPERCUSSÕES DA DECLARAÇÃO DO MINISTRO 

Chamar Chico Mendes de insignificante na noite de ontem (11/02), no Roda Viva, não somente mostrou que o ministro desconhece a história de luta do , mas também que é pessoa mal informada sobre quem foi Chico Mendes, hoje referência na defesa do meio ambiente no Brasil e no mundo inteiro. Em consequência, o ministro recebe, no dia de hoje, uma enxurrada de respostas nas . Algumas delas:

“Chico Mendes é tão relevante, senhor ministro, que mesmo anos depois de morto tá fazendo gente como você passar vergonha em rede nacional”, respondeu a usuária Ana Lia.

Guilherme Boulos @GuilhermeBoulos:  “Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente acusado de fraude ambiental, sugere que Chico Mendes “usava os seringueiros para se beneficiar”. Parece de fato que a ignorância e estupidez foram “critérios técnicos” indispensáveis para a escolha do Ministério de Bolsonaro.”

Alexandre Aragão  @araga0: “O comentário do ministro do Meio Ambiente sobre o Chico Mendes é mais um exemplo do elogio à ignorância. É a arrogância de quem não sabe, não quer saber e tem raiva de quem sabe.”

Lula @LulaOficial:  “Sera que essas pessoas são tão burras que imaginam que matando o Chico Mendes mataram a luta do Chico Mendes?”. Chico Mendes foi covardemente assassinado na porta de sua casa em Xapuri, por fazendeiros que queriam invadir terras e derrubar a floresta. #timeLula
 
O VÍDEO ENTREVISTA DO MINISTRO NA ÍNTEGRA 

 

 
 

O PRIMEIRO TWITTERVISTO PELA XAPURI SOBRE A ENTREVISTA, 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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