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9 atitudes para apoiar a cultura e os direitos dos Povos Indígenas

9 atitudes para apoiar a cultura e os direitos dos Povos Indígenas

No dia 9 de agosto é comemorado o Dia Internacional dos Povos Indígenas. Antes de qualquer comemoração, a data – assim do Dia dos Povos Indígenas, de 19 de abril -, é um momento de reflexão. Por isso elencamos nove atitudes que um brasileiro não indígena pode fazer neste dia que podem ajudar a preservar a cultura do povo nativo do nosso país. 
 

Cobrar investimentos responsáveis dos bancos, consumir de forma sustentável e até o simples ato de buscar referências sobre a história indígena são ações que estão ao alcance de qualquer pessoa e podem fazer a diferença. Veja como você também pode ajudar: 

1. Dê adeus aos estereótipos

“Índio gosta de mandioca, usa cocar, e anda pelado. Mas hoje tem um monte de gente que se diz índio e não é mais: tem TV, carrão, usa roupa de marca.” Aposto que você já ouviu algo assim sempre que a questão indígena fica em evidência. Esse estereótipo é um dos mais arraigados na cultura brasileira e coloca os indígenas como coisa (sim, coisa) do passado e que, portanto, devem “evoluir” e se integrar a um padrão de civilidade europeu e cristão. Negar-lhes acesso à educação e às benesses que outros grupos da população têm é uma visão míope do que é ser indígena. Alguns indígenas optam por ficar em suas comunidades, alguns querem ir pra universidade, outros querem entrar na política… Assim como na sociedade não indígena, há uma diversidade de pontos de vista, sonhos e vivências que deve ser respeitada. Não tente fazer um povo indígena parecer menos indígena porque ele não se encaixa em estereótipos ultrapassados.

2. Saiba que os povos indígenas não estão só na Amazônia

Um dos maiores equívocos das generalizações do dia-a-dia é achar que só existe indígena vivendo no meio da mata, especialmente na Floresta Amazônica. O que quem reproduz esse estereótipo não sabe é que cerca de 36,2% da população indígena está nas cidades. Este dado do último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),  de 2010, também mostra que apenas três dos 10 estados com maior número de indígenas se localizam fora da região Norte. Além disso, a capital de São Paulo é a 4ª cidade com o maior número de habitantes indígenas. 

3. Conheça os direitos indígenas

A Constituição Federal de 1988 selou muitos dos direitos indígenas, graças à mobilização dessa população, conhecida principalmente pelo histórico discurso de Ailton Krenak na Constituinte. A Carta Magna sela os direitos originários dos povos indígenas às suas terras, pois esses povos a ocupavam desde muito antes da chegada do colonizador português. Diferentemente de leis anteriores que prezavam o fim das culturas indígenas, por meio de uma “assimilação”, desde 1988 lhes foi garantido direito à diferença, de expressarem sua cultura como bem entenderem. A partir da Constituição, diversos outros direitos foram reconhecidos, como à educação e à saúde,  que devem ser diferenciados para reforçar a autodeterminação desses povos.

4. Entenda, de uma vez por todas, que não tem muita terra para pouco índio

As pessoas que buscam deslegitimar o direito constitucional dos povos originários às suas terras costumam dizer que as Terras Indígenas demarcadas são “terra demais para pouca gente”. O primeiro grande erro desse argumento é entender a terra apenas como fonte de renda e valor, mentalidade distinta daquela praticada pelos povos indígenas, que possuem modos diferentes de viver e de enxergar os seres vivos. Além disso, como bem pontua um estudo da APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), os Povos Indígenas compõem 5% da população mundial, mas suas terras detêm 80% de sua biodiversidade. Ou seja, as Terras Indígenas e o trabalho ativo dos povos que vivem nelas são a última barreira contra o desmatamento e a degradação ambiental, fenômenos que afetam negativamente a vida de todo o planeta.

5. Conheça os povos indígenas do Brasil

São mais de 300 etnias indígenas, e cada uma tem uma cultura muito diferente da outra. Por exemplo, os Ashaninka têm vestimentas muito parecidas com os tecidos tradicionais peruanos, enquanto o alimento mais importante dos Guarani é o milho, e não a mandioca. O Instituto Socioambiental criou o portal Povos Indígenas do Brasil, onde é possível encontrar os nomes e detalhes de mais de 256 etnias indígenas. Esse é um bom começo para entender mais a diversidade que há dentro da categoria.

6. Ouça o que eles dizem

Felizmente hoje é possível encontrar diversos indígenas em maior evidência no debate público nacional, como Ailton Krenak, Davi Kopenawa, Raoni Metuktire (o cacique Raoni) e Sônia Guajajara. Entretanto, essa é uma voz ainda muito marginalizada e sub representada, por isso é preciso que busquemos cada vez mais ouví-la. Em uma busca rápida você vai achar inúmeros resultados úteis. Para conhecer a cultura de alguns povos de forma lúdica, o projeto Vídeo nas Aldeias pode ser um caminho. Acompanhar as redes sociais da Mídia Índia também é uma ótima forma de ficar sempre em contato com a pauta.

7. Consuma com consciência

Atualmente, a produção agropecuária irresponsável, a mineração, a geração de energia e a especulação imobiliária estão entre as maiores ameaças para os povos indígenas de todo o Brasil. Confira como as marcas que você costuma comprar tratam os direitos indígenas e em caso de dúvida, pergunte. O direito à informação é garantido aos consumidores e por isso você pode sempre questionar seu supermercado, açougue e loja de materiais de construção de onde vem o produto que você está consumindo. Se você não ficar satisfeito com a conduta da marca, busque alternativas.

8. Pressione seu banco

Um elo muito importante da economia que contribui com a violação de direitos dos povos indígenas é o setor financeiro.  Por exemplo, a já chamada “nova corrida do ouro” em curso na Amazônia passa pela (ir)responsabilidade de instituições financeiras. O Guia dos Bancos Responsáveis mostrou que nenhum dos maiores bancos brasileiros menciona a consulta livre, prévia e informada dos povos indígenas em suas políticas de financiamento e investimento. Essa é uma exigência mínima para que empreendimentos econômicos respeitem as terras e vivências indígenas. Dessa forma, mesmo sem querer, seu dinheiro pode acabar fomentando as violações contra a população indígena. Por isso, é possível enviar um ultimato ao seu banco, exigindo dele políticas de respeito e inclusão dos povos indígenas. Não deixe que eles se isentem da responsabilidade, pressione! 

9. Apoie os povos indígenas

Os povos indígenas foram sistematicamente silenciados, assassinados e marginalizados ao longo da história brasileira. Seguir essas dicas que listamos ajuda na mudança desse cenário, para que essas populações possam continuar reproduzindo suas culturas e tendo as oportunidades, espaço e voz que merecem. Considere apoiar o trabalho de organizações que atuam na defesa dos povos indígenas e na disseminação de informações contra os estereótipos. Muitas etnias têm suas próprias associações, enquanto diversas outras agregam várias etnias e não-indígenas comprometidos com a pauta. O protagonismo da luta por direitos deve ser dos próprios povos indígenas, mas a suas atitudes e o seu engajamento também são essenciais para garantir avanços.

Fonte: Redação/IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. Foto: Tiago Miotto / Cimi. Este artigo não representa necessariamente a opinião da Revista Xapuri e é de responsabilidade do autor.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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