Indígena da etnia Omágua/Kambeba, a poeta e geógrafa Marcia Wayna Kambeba nasceu na aldeia tikuna, em Belém do Solimões (1979). “Silêncio Guerreiro” é uma de suas belas poesias.
Aos oito anos, mudou-se com a família para São Paulo de Olivença, onde estudou até o ensino médio. Por influência da avó, que era professora e poeta e lecionou por mais de 40 anos na aldeia onde nasceu, compartilhando toda sua vivência ribeirinha, Marcia Kambeba começou a escrever seus primeiros versos aos 14 anos.
Mais tarde, Marcia Kambeba fez nova mudança para Tabatinga, também no Amazonas, onde se graduou em Geografia pela UEA.
Apesar das dificuldades, trabalhou como radialista por mais de 10 anos, passando a conciliar o trabalho com os estudos em determinado momento. Junto com o marido, lutava para conseguir quitar o apartamento em que moravam, bem como as demais despesas.
Marcia Kambeba precisou abrir mão inclusive de refeições para adquirir material de estudo, mas, no fim, conseguiu se especializar em Educação Ambiental e fazer seu mestrado, o qual traz a cultura do povo Kambeba desde o século XVI até os dias atuais, na UFAM. Após a conclusão dessa especialização, voltou a escrever depois de um longo período afastada desse ofício.
Atualmente, reside no Pará e tem investido na carreira artística e em suas poesias, que têm semelhanças com o cordel e repercute sobre a violência contra os povos indígenas, além dos conflitos gerados pela vida na cidade.
Com a excelência da dissertação com a qual concluiu seu mestrado, que tinha como tema a identidade e o território do povo Omágua/Kambeba, Marcia Kambeba teve a ideia de transformar o trabalho em poesia.
Assim nasceram “Ser indígena, ser Omágua” e “União dos povos”, que elucidam sobre a afirmação indígena e sobre os índios que não perderam sua essência e ancestralidade mesmo morando nas cidades.
A partir disso, também escreveu seu primeiro livro, “Ay kakyri Tama”, que significa “eu moro na cidade”, nome também de um dos poemas que o compõe e que acabou se tornando música.
Geografia, arqueologia, antropologia e história podem ser encontradas na sua escrita sob um viés educativo. Seus textos não são apenas belos, mas propõem um processo de descolonização e podem ser trabalhados em sala de aula a fim de proporcionar uma melhor compreensão da cultura indígena. Através de sua arte, crianças e adolescentes podem entender onde vivem os povos indígenas, o que eles desejam, como querem ser conhecidos e como ajudá-los a continuar resistindo para manter a sua diversidade.
Seu trabalho resgata a mulher de várias formas, como escritora, cantora, contadora de história, líder, sábia e guardiã da floresta. Quanto ao feminismo, embora não o enxergue na cultura indígena, acredita que o feminino é muito presente: há um cenário que permite que a mulher, porta-voz e representante da nação, se apresente de várias formas.
Leitora não só de literatura indígena (Eliane Potiguara, Ailton Krenak, Daniel Munduruku), mas também de Machado de Assis, Graciliano Ramos, Cecília Meireles e Cora Coralina, a poeta percebe a mulher como um rio que dribla as pedras e segue seu curso.
Atualmente, Marcia Kambeba escreve poemas, contos, resenhas, ensaios e críticas sobre a luta das mulheres indígenas, além de compor em tupi e português e realizar exposições de seu trabalho como fotógrafa. Classifica seu trabalho como lítero-musical, uma vez que une a música indígena à poesia e faz parcerias com pessoas não indígenas que são pesquisadoras da sua cultura, como o Edu Toledo, pianista e compositor, com o qual compôs quatro músicas.
Ademais, Marcia Kambeba está organizando quatro livros a serem publicados, três de poesia e um de contos. Um deles se chama “De almas e águas índias: identidade e cultura na voz da mulher indígena”, que traz a valorização da mulher e a terra, água e mata enquanto alma feminina.
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
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