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Brasil: país onde o pobre passa fome e o rico ri à toa

Brasil: país onde o pobre passa fome e o rico ri à toa

A retomada de desenvolvimento com progresso social está a depender de a futura nova ordem governante – na expectativa de um governo de centro-esquerda – dispor, ademais de firme decisão política, de sustentação em uma nova maioria, de que careceram os governos Vargas (1951-1954), Jango e Dilma, com as consequências conhecidas…

Por Roberto Amaral/Brasil 247

Em meio à revolução tecnológica – alterando profundamente o caráter da sociedade moderna –, a humanidade vive a transição da hegemonia ocidental para a eurásia, anúncio do fim da atual ordem mundial. Se o desfecho é certo, o novo cenário é uma incógnita.

O Brasil, que perdeu a primeira revolução industrial (porque a casa-grande optou pela persistência de  uma arcaica sociedade agrário-exportadora fundada no latifúndio e no escravismo), corre o risco de mais uma vez deixar passar vazio  o bonde da história; quando o mundo avança tão celeremente  no domínio de novas tecnologias, abrindo um leque  inimaginável de transformações políticas  e sociais, com a atividade econômica exigindo cada vez mais conhecimento científico e tecnológico, ou seja, mais escolaridade, o Brasil do capitão Bolsonaro, da burguesia financeira e dos engalanados que lhe dão sustento vira as costas para o ensino, a pesquisa e a inovação. Breve, o fosso tecnológico que já nos separa dos desenvolvidos – os países produtores de conhecimento – será intransponível, condenando as futuras gerações a novas formas de subdesenvolvimento,  com seu contingente de fome e injustiça social.

Quando se exacerbam as rivalidades de blocos, anunciantes do confronto entre o imperialismo norte-americano e a emergência eurasiana, liderada pela China,  ensejando a países com as nossas características a oportunidade de abrir seu próprio caminho, o governo do capitão, dos generais  comissionados e dos empresários sem pátria opta pela aliança subalterna à geopolítica do grande irmão do Norte. É o preço de uma classe dominante alienada e forânea, refletida no bolsonarismo.

Este verdadeiro antiprojeto nacional, no qual se empenha o bolsonarismo, é, contudo, obra partilhada pela classe dominante, porque dele usufrutuária; não se ouve, até aqui, um pio de protesto do chamado empresariado quando o governo, com o concurso de um congresso dominado pelo fisiologismo do “centrão”, corta quase todo o orçamento do CNPq, 90% das verbas destinadas à pesquisa. O país vai mal; o povo, desempregado, subempregado ou desalentado, de mal a pior; mas a casa-grande ri a bandeiras despregadas.

O neoliberalismo do ministro da Economia levou o país à estagnação, os trabalhadores ao desemprego; no entanto, quanto mais aumenta a pobreza, mais crescem os dividendos da burguesia rentista, beneficiária de um capitalismo de marginalização social, cujo leitmotif é aumentar o lucro dos que já têm tudo.  Dos pobres se extrai o salário, a previdência, o trabalho e a esperança. Se o real –arrastado pela estagnação econômica – é desvalorizado, os especuladores, como o inominável Paulo Guedes, acumulam dólares nos paraísos fiscais onde enfurnam suas fortunas, que não param de crescer enquanto  a economia nacional desliza ladeira abaixo.

Possuímos uma orgulhosa agricultura,  altamente capitalizada, de alta produtividade e de alta lucratividade,  mas que não alimenta a população. Hoje, na segunda década do terceiro milênio, 112 milhões de brasileiros sofrem algum grau de insegurança alimentar e 20 milhões enfrentam a fome, diariamente (Dados  da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar).

A produção industrial, enquanto a FIESP nem tuge nem muge, observa a quarta queda mensal consecutiva e a sétima em nove meses, imposta por redução de demanda.  Caiu em outubro (0,4%) quando em setembro já estava em 19,4% abaixo de maio de 2011, assinalando um comportamento negativo persistente. Qualquer hipótese de desenvolvimento vai requerer investimento, uma dependência do mercado interno que não se conjuga com concentração de renda e desemprego.

Por Roberto Amaral Cientista político e ex-ministro da Ciência e Tecnologia entre 2003 e 2004

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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