Betânia e Daniela
Betânia Ramos Schröder, mãe, filha de Oxum e Xangô, cria das mãos acolhedoras de Irene e Jorge, gerada pelo amor de Teófila e Breno, é mulher negra diaspórica, crescida na periferia da região metropolitana do Recife, na cidade de Paulista. Seus pais de criação se mudaram para a região quando Betânia tinha três anos de idade, depois de perderem tudo na “cheia” de 1975.
Por Zezé Weiss
Betânia Ramos
Betânia Ramos Schröder, mãe, filha de Oxum e Xangô, cria das mãos acolhedoras de Irene e Jorge, gerada pelo amor de Teófila e Breno, é mulher negra diaspórica, crescida na periferia da região metropolitana do Recife, na cidade de Paulista. Seus pais de criação se mudaram para a região quando Betânia tinha três anos de idade, depois de perderem tudo na “cheia” de 1975.
Betânia explica as razões do processo de migração: “A cidade expulsa os pobres, sempre que possível para as suas periferias mais longínquas. Perdemos o centro de vida e história da família, que era o bairro de Campo Grande, Recife.
Era lá que minha família vivia, desde a chegada do meu avô Joventino Cândido Ramos, refugiado de Maceió nos anos de 1930, pelas perseguições às lideranças do Partido Comunista”. E acrescenta: “hoje o que nomeamos de ‘racismo ambiental’ foi o destino da minha família e de milhares de famílias pobres, negras e indígenas nas periferias das capitais”.
Ao imigrar para a Europa por amor, trabalho e estudo, Betânia pôde entender “os desafios de território e pertencimento de um corpo negro, racializado e migrantizado”. Atualmente, vive em Frankfurt com o filho e trabalha como consultora e palestrante.
Na militância transnacional, colabora com Iniciativa AFRObras, BrasilNilê e.V. Kulturverein, Canal Pensar Africanamente. Vez por outra, também escreve a coluna “Vozes da Diáspora”, na revista Carta Capital.
Daniela Silva
Ambientalista, feminista negra, educadora e idealizadora do projeto Aldeias, Daniela Silva foi criada no bairro Aparecida, na área de baixões dos igarapés de Altamira, cenário característico das periferias das cidades amazônidas.
Seu interesse na luta por direitos humanos e pelas causas sociais e ambientais surge com os primeiros rumores da construção da Hidrelétrica de Belo Monte, em reuniões na comunidade, onde lideranças como o bispo Dom Erwin e Antônia Melo denunciavam a ameaça da construção desse projeto de infraestrutura, que viria, no futuro, impactar de forma brutal a identidade amazônica e o modo de vida das comunidades.
Diante da cruel realidade imposta pela construção da segunda maior hidrelétrica do mundo, Daniela assistiu Altamira liderar o ranking das cidades mais violentas do país, onde crianças e jovens perderam seus pais, dentre elas dois sobrinhos, Neymar e Maria, fato marcante que contribuiu para a criação do Projeto Aldeias, uma rede de apoio às infâncias e juventudes da Amazônia.
Hoje, Daniela sonha com a ampliação do projeto, que coordena, além de lutar para inspirar e conscientizar outras pessoas e organizações sobre a importância do olhar, da escuta e das ações em defesa dos direitos das crianças e juventudes, para que eles sejam de fato sujeitos de direitos neste país.
Zezé Weiss – Jornalista Socioambiental. Por limitação de espaço, os textos de Betânia e Daniela foram editados com base em perfis enviados por ambas para Edel Moraes.