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Monarquia em xeque: protestos conduzem coroação de Charles

Charles é coroado sob protestos e com monarquia em xeque

Número de britânicos que consideram a monarquia “muito importante” (29%) é o menor em 40 anos

Por André Cintra/Portal Vermelho

Não será exatamente tranquila a vida do rei Charles 3º após sua coroação neste sábado (6), na Abadia de Westminster, em Londres. Além da sombra da mãe, a rainha Elizabeth 2ª – que morreu há oito meses na condição de uma das monarcas mais populares do Reino Unido –, Charles sofrerá com o desgaste da instituição milenar.

Aos 74 anos, ele é o britânico mais velho a se tornar chefe de Estado do Reino Unido e de outros 14 países, além de liderar a Commonwealth (Comunidade das Nações, que reúne 56 antigas colônias britânicas). A seu favor pesa a sintonia com pautas que a Coroa tradicionalmente esnobou, como o meio ambiente. Em 2021, ele chegou a sair em defesa da sueca Greta Thunberg, ao dizer o mundo impunha uma série de decepções a ativistas ambientais. “Todos esses jovens acham que nada acontece. Assim, é claro que ficam frustrados”, comentou.

Ao mesmo tempo, num momento em que a economia britânica está às voltas com o risco de uma recessão, a pompa da cerimônia de Coroação soa escandalosa. Da carruagem dourada ao cetro portado por Charles, com um diamante de 530 quilates, tudo parece desconectado da realidade.

Não à toa, a solenidade foi precedida por diversas manifestações em Londres que cobravam o fim da monarquia. De acordo com agências, “o movimento, que tem como sentença a frase ‘Not my king’ (‘Meu rei, não’), é encabeçada pelo Republic, um dos maiores grupos ativistas antimonarquia do Reino Unido”. A polícia chegou a prender manifestantes e apreender cartazes ao longo da semana, mas não esvaziou os atos este sábado.

Levantamento realizado pelo Centro Nacional de Pesquisa Social aponta uma rejeição crescente à Coroa. O número de britânicos que consideram a monarquia “muito importante” (29%) é o menor em 40 anos, e a reprovação cresce especialmente entre os mais jovens. Um rei de 74 anos terá credenciais para mudar essa imagem e salvar o que está em xeque?

Também na África do Sul, houve protestos. Manifestantes pediram a devolução do maior diamante do mundo, o Star of Africa (Estrela da África), justamente o que está no cetro real. O diamante foi descoberto no país africano – que ainda era colônia do Reino Unido – e presentado à Coroa.

“O diamante precisa vir para a África do Sul. Precisa ser um sinal do nosso orgulho, da nossa herança e da nossa cultura”, diz o advogado e ativista sul-africano Mothusi Kamanga, líder de um abaixo-assinado online que conta com 8 mil adesões. “O povo africano em geral está começando a perceber que descolonizar não é apenas deixar as pessoas terem certas liberdades – mas também recuperar o que foi expropriado de nós.”

Rainha morta, rei posto – mas a sucessão é uma das mais controversas na história dessa monarquia tão midiática. A Coroa, essa instituição tão anacrônica e perdulária, faz mesmo sentido ainda para os britânicos?

Fonte: André Cintra/Portal Vermelho   Capa: Getty Images


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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