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JUNHO DO ORGULHO LGBTQIAPN+

Junho do orgulho LGBTQIAPN+

O mês? Junho de 1969. Pleno verão no hemisfério Norte. Em Manhattan, um grupo de pessoas que frequentavam o Stonewall Inn, bar gay do Greenwich Village, parte boêmia da cidade de Nova York, resolveu dar um basta à violência da polícia, que costumava invadir espaços frequentados por pessoas gay, prendendo inocentes, apenas pelo fato de serem homossexuais. 

Por Zezé Weiss

Embora nos a homossexualidade tivesse deixado de ser considerada crime desde 1962, pessoas que se declaravam gays não tinham direito de se expressar, nem de frequentar sem serem incomodadas pela polícia. 

No dia 28, em mais uma das constantes batidas no local, quando a polícia tentou prender um grupo de lésbicas que estavam no Stonewall Inn, a turma que estava no bar reagiu ao ataque atirando garrafas, pedras, tijolos e moedas na viatura da polícia. O movimento, que ficou conhecido como a Revolta de Stonewall, se estendeu por semanas. 

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Fachada do bar Stonewall Inn em 2008 (Foto: Johannes Jordan/Wikimedia Commons)

Sob a liderança da transexual e drag queen Marsha P. Johnson que, junto com a prostituta Sylvia Rivera, transexual e imigrante latina, foi organizada uma passeata até o Central Park de Nova York, com placas e palavras de ordem reivindicando direitos. Esta teria sido, segundo historiadores, a primeira Parada do Orgulho Gay organizada no planeta

Registra também a história que começou, ali, naquele levante de Nova York, a luta pelos direitos da comunidade LGBTQIAPN+ nos Estados Unidos que, cada vez mais, se espalhou, fazendo de junho o Pride Month, o Mês do Orgulho LGBTQIAPN+, um marco contra a repressão policial e na luta por direitos em vários países do mundo. 

MOVIMENTO LGBTQIAPN+ NO  

No Brasil, o movimento LGBTQIAPN+ nasce como forma de resistência à perseguição policial no período da ditadura militar (1964-1985) que, embora tivesse por tática prender e torturar pessoas de grupos e movimentos de , optou por intimidar, silenciar e inviabilizar também a comunidade LGBT, cujas pessoas não podiam sequer ser mencionadas na mídia brasileira, exceto para anunciar as ações repressivas da polícia.  

Duas operações violentas simbolizam esse período de repressão e de resistência do movimento LGBTQIAPN+ brasileiro. 

OPERAÇÃO SAPATÃO

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Foto: Divulgação/ Ovídio Vieira

Em São Paulo, no dia 15 de novembro de 1980, o delegado José Wilson Richetti, do Departamento Estadual de Investigações Criminais, tocou o terror nos chamados “rondões”, colocando a PM na rua para prender arbitrariamente o maior número possível de lésbicas. Esta ação, que ficou conhecida como a “Operação Sapatão”, prendeu mais de 1500 lésbicas.

Depois desse ataque, mulheres lésbicas brasileiras, insatisfeitas por serem constantemente expulsas de bares como o Ferro’s Bar, Cachação e Bexiguinha, se organizaram pra lutar contra a repressão policial. O Ferro’s Bar passou a ser um ponto de encontro de organização política das mulheres lésbicas de São Paulo. Ali era distribuído o jornal “Chana com Chana”, da comunidade lésbica, até que, em 23 de julho 1983, o dono do bar resolveu usar a sua própria força física para proibir a distribuição. 

Como resposta, o GALF criou o Happeningfolheto onde apresentou, pela primeira vez, a proposta de uma manifestação contra o preconceito e a discriminação, convidando a comunidade lésbica a se revoltar e a se organizar “pela livre opção sexual”, “pelo livre direito de ir e vir”, “contra a repressão sexual” e “contra a repressão policial”.

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(Acervo Lésbico Brasileiro)

As mulheres partiram, então, para o movimento que ficou conhecido como o “Stonewall brasileiro”.  Em 19 de agosto de 1983, por volta das 22 horas, Rosely Roth, do Grupo de Ação Lésbico-Feminista (GALF), liderou uma ação de resistência em frente ao Ferro’s Bar (hoje extinto), ponto de encontro e de organização política do movimento das mulheres lésbicas em São Paulo. 

Em junho de 2008, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo decretou o 19 de agosto como o Dia do Orgulho Lésbico. 

OPERAÇÃO TARÂNTULA 

Depois de anos de tortura durante o regime militar, em 1º de maio de 1980, Dia do Trabalhador e da Trabalhadora, O Estado de São Paulo publicou: “Polícia já tem plano conjunto contra travestis”. O Brasil, em crise de histeria coletiva com medo do HIV, colocava a polícia para “caçar” travestis.  

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Foto: Divulgação/ Juca Martins

Em 1987, dois anos depois do fim do regime de exceção, porém sob o rescaldo da transição da ditatura militar, ainda sob o comando de Richetti, a violência continuou. 

Na capital do estado de São Paulo, a polícia desencadeou a “Operação Tarântula”, caçando, prendendo, torturando e extorquindo travestis e transexuais que, conforme a polícia, se prostituíam nas ruas cidade. 

O próprio Richetti, segundo documentos mantidos no Memorial da Resistência de São Paulo, deixou registrado que seu objetivo era “limpar a cidade dos assaltantes, traficantes de drogas, prostitutas, travestis, homossexuais e desocupados, levando diariamente cerca de 300 a 500 pessoas à delegacia”. 

Contra a perseguição, membros da comunidade LGBT+ começaram a se organizar com publicações alternativas, como o Lampião da Esquina e o Chana com Chana, periódicos de nicho, vendidos às escondidas em bancas de jornal ou bares, que traziam informações sobre as operações contra gays, lésbicas e travestis.

Desde 2009, o dia 31 de março tornou-se o Dia Internacional da Visibilidade Transgênero, como forma de resistência e de reconhecimento das pessoas trans. 

PARADA DO ORGULHO LGBT+ 

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Foto: Divulgação/ foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

No Brasil, a Parada do Orgulho LGBTQIAPN+ de São Paulo reúne hoje milhares e milhares de pessoas, é transmitida completamente online e tornou-se uma das maiores do mundo.

 Muito diferente da primeira marcha que, apesar da articulação do movimento, só ocorreu em 1995, no Rio de Janeiro, com apenas algumas dezenas de pessoas caminhando pela Avenida Atlântica, em Copacabana, no encerramento da 17ª conferência da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersex (ILGA).

A primeira Parada do Orgulho LGBTQIAPN+, à época denominada Parada do Orgulho Gay, só ocorreu dois anos depois, em 1997, na Avenida Paulista, em São Paulo, com a participação de mais de duas mil pessoas. 

No ano seguinte, em 1998, a Parada ganhou o apoio de vários sindicatos, como o das costureiras e o dos bancários, e se espalhou por outras cinco capitais brasileiras: Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Rio de Janeiro e Salvador.

Segundo matéria do Jornal O Estado de São Paulo, naquele ano a Parada de São Paulo causou grande impacto na cidade: “Os carros passavam com os motoristas assustados, alguns com sorriso no rosto, admirando a passeata. Um arco-íris de balões coloridos abriu passagem para os participantes que aguardavam o início da Parada”.

Em 1999, adotando o nome Parada do Orgulho LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros, a Parada passou a fazer parte do calendário oficial da cidade de São Paulo. Com milhões de participantes, a parada anual de São Paulo é hoje a maior do mundo. 

A 27ª edição da Parada do Orgulho LGBT+ ocorreu em São Paulo, no dia 11 de junho de 2023, com o tema: Políticas Sociais para LGBT+ – Queremos por inteiro e não pela metade, para reafirmar o compromisso da comunidade LGBTQIAPN+ com a luta contra qualquer tipo de discriminação e para promover o respeito à diversidade e a construção de políticas públicas afirmativas. 

Em seu discurso em cima de um trio elétrico, na Avenida Paulista, o ministro Silvio Almeida, dos Direitos Humanos do Governo Lula, reafirmou o papel do Estado brasileiro na garantida de direitos. Confira o discurso o ministro, ovacionado pela multidão:  

“O dia de hoje significa que nós estamos fazendo uma grande virada no que significa pensar a luta por direito no Brasil. A luta por direito no Brasil, e eu quero dizer que o que se pede, o que se reivindica, o que se demanda aqui não é um favor, é um dever do Estado brasileiro, e eu estou aqui como representante do governo brasileiro, como representante do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e quero dizer o seguinte: é dever do Estado brasileiro zelar pela , garantir educação, garantir que todas as pessoas tenham acesso a emprego e renda, de forma digna, e essa é a luta que nós temos que fazer, é o acesso aos serviços públicos de qualidade. Portanto, senhoras e senhores, tenham orgulho, saibam exatamente que vocês estão lutando por unidade e pela verdadeira democracia no Brasil, e saibam que é dever do Estado brasileiro garantir que vocês tenham o direito de existir, dignamente, o direito de existir e de amar como vocês devem amar, como vocês quiserem amar. Isso é a essência da liberdade, e é isso a liberdade que nos interessa, não é liberdade de agredir as pessoas, de ofender, é a liberdade de existir tal como nós queremos existir. Senhoras e senhores, viva o Brasil, viva a democracia. Viva o orgulho!”

POPULAÇÃO LGBQIAPN+ NO BRASIL

Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS): Orientação Sexual Autoidentificada da População Adulta, realizada em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil existem cerca de 2,9 milhões de pessoas maiores de 18 anos que se declaram gays, lésbicas ou bissexuais.

A PNS 2019 buscou averiguar a chamada “orientação afetivo sexual”, que basicamente detecta quem é gay, lésbica ou bissexual. Por essa razão, outas diferentes identidades de gênero, como cis e transgênero, não foram consideradas, nem mesmo a expressão de gênero (, masculino ou andrógino).

Por ser a primeira vez em que este dado é coletado e pela falta de familiaridade da população com os termos da pesquisa, o próprio IBGE reconhece que os números podem estar subnotificados. A subnotificação pode ter ocorrido, também, devido ao estigma e preconceito sofrido pela população LGBTQIAPN+, o que, segundo o Instituto, pode ter feito com que as pessoas se sentissem inseguras em declarar sua orientação sexual.

Segundo a PNS, 150,8 milhões de pessoas (cerca de 94,8% da população adulta) se identificam como heterossexuais, enquanto 1,8 milhão (cerca de 1,2%) se declaram homossexuais (sentem atração por pessoas do mesmo sexo) e 1,1 milhão (aproximadamente 0,7%) se declaram bissexuais, ou seja, têm atração por mais de um gênero ou sexo binário.

Por outro lado, 1,7 milhão de pessoas (1,1% da população) disseram não saber como responder à pergunta sobre sua sexualidade; 3,6 milhões (2,3%) se recusaram a responder e uma minoria, cerca de 100 mil pessoas (0,1% do universo pesquisado), informou se identificar com outras orientações. Dentre essas outras orientações estão as pessoas que se identificam como pansexuais (gênero e sexo não são determinantes na atração) e assexuais (pessoas que não tem atração sexual).

De acordo com os dados da pesquisa, as pessoas que se declaram como homossexuais ou bissexuais estão, em maior proporção, entre as que têm nível superior (3,2%), maior renda (3,5%) e mais jovens – idade entre 18 e 29 anos (4,8%). Entres as mulheres, 0,9% se declaram lésbicas e 0,8% homossexuais. Entre os homens, 1,4% se declaram gays e 0,5% bissexuais.

Segundo o IBGE, o resultado da PNS brasileira, que visitou 108.255 domicílios e entrevistou 94.114 pessoas, foi semelhante aos estudos de outros países. Na Colômbia, 1,2% se declaram homossexuais ou bissexuais. No Chile, 1,8%. Nos Estados Unidos, 2,9%. No Canadá, 3,3%. Entretanto, o Instituto esclarece que autodeclaração da orientação sexual não impede que pessoas trans, que tenham relacionamento com uma ou com um homem, tenham se identificado na pesquisa como heterossexuais.   

ORGULHO E PRECONCEITO

Embora a luta do movimento LGBTQIAPN+ seja razão de orgulho e inspiração para boa parte da brasileira, são muitos os desafios e as limitações enfrentadas pelas pessoas LGBTQIAPN+.

Em matéria recente sobre o tema, o site da Amazônia Real (https://amazoniareal.com.br/), registra a história de Davi Martins, 22 anos, um artista plástico independente e estudante de Jornalismo, um homem cis gay, que assim se identifica desde os 19 anos.

Segundo a matéria, desde que começou a ter uma vida sexual ativa, passou a frequentar postos de atendimento à saúde. Ele procura por exames rotineiros de DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis) e dermatologia, estes últimos por causa de quadros intensos de psoríase causados por estresses ligados à sua orientação sexual e vivência no mundo. 

Dependente do Sistema Único de Saúde (SUS), Davi já enfrentou experiências boas e ruins ao ser atendido em postos médicos e hospitais. Nem sempre davam a devida atenção a fatores emocionais ou psicológicos, recorda-se. Para começar a fazer testes rápidos de DSTs, sentiu-se desorientado.

Mas nada se compara ao que enfrentou no Hospital Tropical [nome popular da Fundação de Medicina Tropical de Manaus]. Na época, ele começou a perder peso e ficar muito mal, sentindo fraqueza e dores de cabeça. Imaginava que podia ser estresse, mas resolveu fazer novos exames no final de abril.

Ao fazer a testagem rápida, ele testou positivo para o HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana). “O resultado me chocou pouco, pois sei dos cuidados que devo tomar, mas que minha vida não acabou por conta disso. Porém o diagnóstico quando foi passado gerou muito desconforto”, afirma. 

Atendido por uma médica e um enfermeiro, foi questionado sobre sua vida sexual e gênero para tirar o sangue para exame. Na hora de receber o resultado, era nítido que havia dado positivo. Estavam presentes, além das duas pessoas iniciais que o atenderam, mais um médico e uma enfermeira, todos olhando-o na sala. Quatro pessoas para dar um diagnóstico. O médico que nem mesmo o atendeu inicialmente foi quem lhe deu o resultado. Sequer pôde marcar exames, e foi aconselhado a voltar no dia seguinte. 

Uma enfermeira se espantou ao saber que ele recebeu o diagnóstico de uma maneira tão fria. “Lá na emergência não deveriam ter me passado o resultado daquela forma, com várias pessoas me olhando”, lembra Davi. “Somente a médica que me atendeu deveria ter me passado. Ela deveria ter me orientado a passar pela triagem com a enfermeira para me falar das opções de tratamento”.

Também do site Amazônia Real, vem a história de discriminação sofrida pela doadora de sangue Júlia Roberts de Souza, pansexual de 22 anos, barrada da última vez que tentou doar seu sangue para salvar a vida de outras pessoas.

O motivo? Sua orientação sexual fez os profissionais acharem que ela tem DSTs, mesmo quando apresenta os exames em dia. Antes das doações, ela não declarava sua orientação (“pansexual”, que na PNS é identificada como “outra”), e acredita que, por essa razão, não enfrentava problemas.

“Na semana passada, fui doar e a mulher foi bem rude em relação a isso. Eles não escondem, mas também não falam diretamente. Sempre fecho a cara e eles falam ‘ah, você pode mesmo doar’. Sempre tem algum preconceito revestido. É ruim porque você está lá para ajudar alguém. Sofrer esse tipo de preconceito desmotiva”, afirma Júlia Roberts. 

Desde muito cedo, Júlia passou por transtornos psicológicos e chegou a ter depressão e ansiedade. Aos 11 anos, ela se mutilava ao ouvir tantos comentários que negavam sua existência e por temer ser descoberta pela família. “Você não consegue falar, se expor, contar o que sente; as pessoas não te escutam, só preferem te julgar. Eu não conhecia outra forma de lidar com isso”.

Com o passar dos anos, as crises tornaram-se mais intensas e numa dessas vezes ela acabou perdendo muito sangue. Ao ser levada ao hospital e levar 9 pontos em seu braço, mais uma vez não se sentiu acolhida pelos profissionais de saúde. “Eles foram bem diretos, falaram que isso não era normal e que tinha um psicólogo no final do corredor”.

Atualmente Júlia não frequenta mais o psicólogo nem o psiquiatra. Da última vez que foi ao Centro de Atenção Psicossocial, ela teve o atendimento negado. “Disseram que eu tinha que ouvir vozes, ser perturbada e já quase ter partido para uma agressão em alguém. Desisti porque é muito difícil, não tinha mais vaga para mim e acabei sendo excluída”, afirma.

Ao já ter buscado diversas formas para um atendimento digno, que não a discrimine por ser quem é, a jovem Júlia se questiona: “Que tipo de sistema é esse? As pessoas não querem te ajudar?” A PNS, certamente, não é a solução, mas pode ser o começo para acolher a diversidade dos brasileiros.

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Foto: Divulgação/ Arquivo Associação da Parada do Orgulho LGBT

 VIOLÊNCIA E LGBTQUIAPN+FOBIA

O Brasil da exclusão social, da desigualdade, da discriminação, do racismo, do machismo, da misoginia e da violência contra as pessoas e comunidades mais vulneráveis é também um país eivado de homofobia.

Apesar da homofobia e da transfobia serem consideradas crimes e de o casamento civil estar previsto em lei, o Brasil é um dos países mais violentos para a população LGBQIAPN+, sendo que, segundo a pesquisa Trans Murder Monitoring, de 2020, nosso país é o que mais mata transexuais no mundo.

Dados do Relatório Anual de Mortes Violentas de LGBT+, do Grupo Gay da Bahia (GGB), mostram que a cada 36 horas uma pessoa LGBTQIAPN+ brasileira é vítima de homicídio ou comete suicídio por conta da repressão que sofre todos os dias. Segundo o Relatório, em 2021, 300 pessoas LGBT+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e outros) sofreram mortes violentas. Em 2020, segundo o mesmo Relatório, foram assassinadas 276 pessoas e 24 se suicidaram. Ou seja, de um ano para o outro, houve um crescimento de 8% nos dados da violência.

Aqui, nessa nossa terra de Pindorama, pessoas continuam sendo atacadas, inferiorizadas e assassinadas, todos os dias, por razões de origem religiosa, de cor da pele ou biológica.

Celebrar o mês de junho como o Mês do Orgulho Gay é, portanto, uma forma de se solidarizar com a comunidade LGBQIAPN+ em sua luta constante por acesso à educação, à saúde, ao mercado de trabalho e a todos os direitos e liberdades.

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Zezé Weiss – Jornalista e Editora da Revista Xapuri. Foto: Divulgação.

 

 

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Foto: Divulgação/ Ovídio Vieira
 
 
Publicado originalmente em 19 de junho de 2023

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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