Juventude

Juventude da floresta escreve carta ao presidente Lula com reivindicações. Confira!

Juventude da floresta escreve carta ao presidente Lula com reivindicações. Confira!

Em 6 de setembro de 1988, a liderança ambientalista Chico Mendes escreveu uma carta aos jovens do futuro, que se tornou um marco para a juventude que vive nas , para os guardiões do de Chico.

Por Mídia Ninja/Redação

Essa semana, no aniversário da carta, que originou o Festival Jovens do Futuro, com sua terceira edição nessa quarta-feira, 6 de setembro, também levou jovens que estão na Semana da Sociobiodiversidade em Brasília a escrever uma carta ao atual presidente, Luís Inácio Lula da e aos Ministros e Ministras de Estado com reinvindicações importantes para que sigam vivendo com respeito e dignidade em seus territórios, respeitando também a diversidade, e que possam trabalhar de forma sustentável, protegendo os biomas em que vivem, incluindo o repúdio à tese do marco temporal, que afeta os territórios indígenas. A Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima Marina Silva estava presente no encontro da juventude durante o evento, e recebeu o documento.

Juventude
Foto: Myke Sena

Confira a carta:

Carta da juventude das florestas ao Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, aos Ministros e Ministras de Estado

Brasília – DF, 06 de setembro de 2023.

Nós, as juventudes extrativistas, indígenas, beiradeiras, ribeirinhas, quilombolas, e de outros Povos e Comunidades Tradicionais do bioma amazônico, reunidas de 31 de agosto a 6 de setembro de 2023, durante a Semana da Sociobiodiversidade: fortalecendo economias sustentáveis, pessoas, culturas e gerações, em Brasília, Distrito Federal do Brasil, reafirmamos o legado de nossos ancestrais e antepassados que muito lutaram e resistiram pela defesa dos nossos territórios, da floresta e da vida. Nós, as juventudes da floresta aqui identificadas, reafirmamos a aliança dos Povos da Floresta para a continuidade da nossa luta e o nosso compromisso pela vida dos nossos e pela garantia dos nossos direitos.

Nós, jovens, guardiões do legado de Chico Mendes, possuímos papel fundamental na defesa da Amazônia, do cerrado, da caatinga, dos manguezais, dos maretórios e demais biomas que tornam este país um espaço comum e diverso em culturas, identidades e povos. Deste modo, em nossa diversidade e pluralidade, precisamos garantir que as políticas públicas sejam abrangentes e proporcionem oportunidades da decisão de permanecer em nossos territórios, maretórios e demais biomas.

Neste momento em que passamos por significantes reconstruções e retomadas das Políticas Públicas, precisamos dialogar sobre as nossas diversidades. E que estas políticas estejam contextualizadas as nossas vivências, cultura e identidades específicas, considerando as realidades amazônicas. Também precisamos assegurar condições para que a participação na construção dessas políticas nos coloque como sujeitos principais, conforme a convenção 169 da OIT que nos assegura: “o direito à consulta livre, prévia e informada e a participação efetiva da comunidade sobre medidas que as afetam”.

Para isso, abaixo apresentamos nossas reivindicações:

  • Regularização fundiária e ambiental, que garanta nossa permanência em nossos territórios, garantindo a preservação de nossos modos de vida, nossos direitos, vivências e tradições;
  • Construção de políticas de reparação à formação educacional das populações extrativistas, de modo a considerar a Lei nº 12.711/2012, que trata sobre a afirmativa ao acesso do sistema de cotas e permanência universitária, dando condições financeiras de auxílio para todos os PIQCTs;
  • Transformar o Programa Jovens Protagonistas em uma política pública de formação de PIQCTs e que ela contemple a criação de oportunidades institucionalizadas, como estágios em órgãos e instituições que realizam a gestão territorial, controle, monitoramento e incentivo à produção da sociobiodiversidade;
  • Construção de um Programa Nacional de Capacitação e Formação da Educação escolar, contextualizada as nossas vivências e culturas ancestrais, para as mulheres e jovens PIQCTs, trabalhem a gestão territorial e as economias da sociobiodiversidade;
  • Programa de Combate à Violência contra mulheres e pessoas LGBTQIAPN+ específico para os PIQCTs. De modo a construir campanhas permanentes de ampliação do debate contra todas as formas de violência nos territórios;
  • Transformar o Programa Bagagem das Mulheres da Floresta em política pública para a saúde e educação sexual de jovens e mulheres dos PIQCTs;
  • Construção de creches e escolas nos territórios tradicionais coletivos, que assegurem às crianças espaços seguros, educativos e culturais, de modo a fomentar o acesso, a participação e a permanência das mulheres nos espaços de tomada de decisão;
  • Criação de um programa de educação midiática, que proporcione a formação de uma rede de jovens comunicadores da floresta, para a ampliação e a reverberação das vozes das juventudes amazônicas, aprimorando atividades produtivas e combatendo a desinformação;
  • ATERF Jovem, como programa de assistência técnica e capacitação para sucessão territorial das cestas socioprodutivas;
  • Fortalecimento e ampliação do Programa Nacional de Fortalecimento da Familiar (PRONAF JOVEM), com a construção de editais específicos para a região amazônica;
  • Intercâmbio entre povos indígenas e comunidades tradicionais, de modo a fomentar o turismo de base comunitária e o reconhecimento das diversidades, vivências, histórias e resistências;
  • Programas de formação continuada em gestão, associativismo, cooperativismo, social e pessoal para jovens, mulheres, LGBTQIAPN+ dos PIQCTs;
  • Política de prevenção continuada e tratamento da saúde mental dos jovens, homens, mulheres, LGBTQIAPN+ dos PIQCTs nos territórios;
  • No âmbito dos Pagamentos Por Serviços Ambientais (PSA), a juventude da floresta destaca a necessidade de valorização do estoque e pagamento de créditos de das florestas vivas em nossos territórios, e a garantia da recuperação das áreas degradadas. Considerando o nosso histórico ancestral de e uso sustentável de seus recursos, é indispensável a nossa presença e participação nesta pauta;
  • Reivindicamos que, no Marco Regulatório do PSA, haja destinação de pelo menos 10% da repartição de benefícios para o fortalecimento das atividades mencionadas anteriormente, como oportunidades de visibilidade e protagonismo da conservação realizadas pelos PIQCTs;
  • Criação do Fundo da Juventude das Florestas para o fortalecimento das organizações de base e atividades recreativas e as anteriormente mencionadas;
  • Requeremos como salvaguarda que o tempo dos contratos de REDD+/PSA não ultrapasse gerações, a exemplo dos contratos existentes dos mercados voluntários, e considere as nossas culturas, identidades e modos de vida tradicionais;
  • A Juventude da Floresta ao reafirmar a aliança dos povos destaca, a urgência de ações de combate ao aquecimento global, sugerindo a criação de novas unidades de conservação de uso coletivo, a exemplo a criação da RESEX Marinha de Viriandeua e Filhos do Mangue, no estado do Pará;
  • Por fim, manifestamos o nosso repúdio e indignação sobre a tese do Marco Temporal, que atinge diretamente a nossa e ancestralidade, ferindo nossa existência e o direito de viver em nosso território.

Concluímos que, para alcançar as reivindicações apresentadas nesta carta, é necessário que a juventude da floresta continue mobilizada. Por isso, é necessário debate coletivo contínuo e qualificado, como o que se realizará no 4º Encontro Nacional da Juventude Extrativista em Brasília, com a presença de jovens extrativistas, indígenas, quilombolas e PIQCTs de todos os biomas, planejado para acontecer no primeiro semestre de 2024, orçado em 1,5 milhão de reais, com a presença de pelo menos 500 jovens.

Para que seja possível, requisitamos de todos os parceiros aqui presentes, ONGs, sociedade civil organizada, e também os Ministérios do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Ministério dos Povos Indígenas, Ministério da , Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Ministério da Educação, Ministério Da Saúde e os demais que se aliem a nossa luta.

Juventude da floresta

A hora é agora!

Fonte: Mídia Ninja. Foto: Myke Sena.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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