Mutirão contra a jagunçada
Em [1º de setembro de 1979], o maior movimento rompeu-se no Acre, no município vizinho do Acre, fronteira com o Acre, [no Seringal Paraisópolis, na BR-317], no município de Boca do Acre, do estado do Amazonas, um grupo de seringueiros são ameaçados por jagunços, por pistoleiros, e o Acre, aqui, nós mandamos 300 homens pra cercar o acampamento dos pistoleiros, tomamos todas as armas, eu não fui, mas o companheiro Raimundo, meu primo, foi, e foi o primeiro movimento mais forte que se rompe, que cresce no Acre, liderado pelo companheiro Wilson de Souza Pinheiro, presidente do Sindicato de Brasiléia.
Isso deu uma repercussão muito forte, e como naquele momento Wilson Pinheiro era a figura principal, nos empates de derrubada, em todo o Acre, os fazendeiros, no mês de junho, todos os fazendeiros da região fazem uma reunião e decidem pela morte de Wilson Pinheiro e de Chico Mendes, que também estava começando a crescer naquele momento.
No dia 21 de julho de 1980, eu estava numa Assembleia Sindical no Vale do Juruá, no outro lado do Acre, e Wilson Pinheiro estava na sede do Sindicato, assistindo uma televisão com seus companheiros. E nessa noite, um pistoleiro se deslocou pra Brasileia e outro aqui pra Xapuri.
O que chegou aqui em Xapuri perdeu a viagem, porque aqui eu não estava. O de Brasiléia acertou em cheio no Wilson Pinheiro. Por ali, no canto da casa, deu três tiros e matou o Wilson Pinheiro [em]1980.
Aquele momento, taticamente, os fazendeiros avaliaram que o Sindicato de Brasiléia apesar de ser forte tava centralizado numa liderança que era o Wilson Pinheiro e que ele deveria morrer, porque matando o Wilson Pinheiro o Sindicato recuaria e eles conseguiriam com isso seu trunfo principal, que era o domínio sobre a terra.
Chico Mendes – Depoimento para Lucélia Santos, em maio de 1988. Transcrito por Agamenon Torres Viana, da Revista Xapuri. Foto de capa: Élson Martins
EMPATES DE DERRUBADA
Com a chegada dos pecuaristas, vindos do sul do país em meados dos anos 1970, pra botar por terra nossas áreas de floresta, a situação ficava cada vez mais difícil pro nosso lado. Foi aí que nós começamos a usar um instrumento muito importante aqui na nossa região, que batizamos de empate.
Por Júlio Barbosa de Aquino
Assim como nos jogos de futebol, a gente sempre queria pelo menos empatar, então, no nosso caso, o empate era para resistir, para que, ao menos, o fazendeiro não derrubasse nossas árvores e não destruísse nossas colocações, que é o lugar onde moramos com nossas famílias.
No começo, as famílias tentavam resistir por elas mesmas. Depois, a comunidade passou a ser mobilizada pelo Sindicato, que organizava a ida para a área que estava pra ser desmatada. Era uma forma simples e pacífica, mas muito organizada, de resistência.
A gente montava uma barreira humana, formada pelas pessoas que viviam no seringal, as mulheres e as crianças iam junto, os velhos também, e todo mundo se colocava em frente às foices dos peões e jagunços onde havia tentativa de desmatamento.
Como os peões e jagunços eram pessoas simples, muitos deles eram até parentes nossos que estavam ali só cumprindo ordens dos patrões, a gente tentava explicar pra eles que, se fizessem o desmatamento, a vida deles e das famílias deles também estavam sendo ameaçadas.
Às vezes funcionava, ou pelo menos a turma ganhava tempo pra alguém de nós tentar algum recurso na cidade, outras vezes não funcionava. Dos cerca de 45 empates que fizemos entre 1976 e 1988, o último com a participação de Chico Mendes foi o empate do Cachoeira, em maio de 1988. Em uns 15 conseguimos, de fato, empatar a derrubada.
Os empates foram muito importantes em nossa luta, porque fortaleceram nossa união, serviram de base para a formação do CNS e também para a construção do nosso modelo de reforma agrária para a Amazônia, as Reservas Extrativistas.