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Logística de Baixo Carbono: Solução inteligente para a agricultura

Logística de baixo carbono é uma solução inteligente para a agricultura

A produção global de alimentos precisa aumentar 60% até 2050 para garantir o equilíbrio alimentar de uma população crescente, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a e a Agricultura (FAO).

A necessidade de ampliação expressiva dessa produção e o avanço das mudanças climáticas são grandes desafios que colocam o Brasil em posição de destaque internacional. O país é um dos raros lugares onde é possível conciliar expansão da agricultura e proteção das florestas, o que pode colaborar com a solução para esses problemas.

Isso ocorre porque o país ainda está longe de atingir todo o potencial produtivo das áreas já abertas. Grosso modo, dos 850 milhões de hectares do país, 550 milhões ainda estão sob a forma de vegetação nativa, em áreas protegidas, terras , assentamentos, propriedades privadas e algumas porções significativas na ainda não destinadas.

A área de lavoura, na qual exercemos liderança na produção mundial de vários produtos, ocupa aproximadamente 70 milhões de hectares ou 8% da área total. Além disso, temos 200 milhões de hectares de pastagens, com atividades econômicas muito pouco produtivas, com média de uma cabeça de gado por hectare.

É verdade que há muita discussão sobre a precisão desses números, mas as ordens de magnitude já pintam um quadro bastante claro: o país tem vastas extensões de , principalmente sob a forma de pastagens, com grande aptidão agrícola e que estão subutilizadas. Não é preciso desmatar para produzir mais.

Um instrumento para ajudar o país a utilizar o potencial das áreas já abertas e reduzir a pressão de desmatamento é o da logística. Corredores logísticos, fruto de um planejamento setorial e territorial alinhados e de um marco regulatório apropriado, podem criar os incentivos corretos para isso. Mas, até hoje, a relação histórica entre a construção de estradas e a ocupação desordenada em seus entornos explica mais de 80% do desmatamento na Amazônia.

Não precisa ser assim. O Brasil desenvolveu um eficaz mecanismo de monitoramento e combate ao desmatamento com base nas informações de satélite, em tempo quase real, e que ainda pode ser usado junto ao cadastro georreferenciado de cada imóvel rural, para controlar os efeitos adversos da expansão da infraestrutura logística. Com isso, o planejador tem ao alcance das mãos opções de políticas para a logística que podem influenciar na redução de emissões derivadas do uso da terra.

Portanto, uma logística mais inteligente pode reduzir as pressões por desmatamento ao longo das estradas e promover o desenvolvimento de lavouras em áreas de pastagens subutilizadas. Além disso, pode integrar modais de transporte como ferroviários e aquaviários, reduzindo as emissões de carbono diretas e indiretas de forma substantiva.

Este é o objeto do Grupo de (GT) de Logística de Baixo Carbono da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura: focar na logística de transporte de cargas das atividades florestais e agropecuárias do país e no processo de tomada de decisão sobre modais, incluindo suas emissões diretas e seus efeitos sobre padrões de uso da terra.

O objetivo principal do GT é promover a logística de baixo carbono com base em critérios ambientais, sociais e econômicos, por meio da produção de conhecimento, articulação política e formulação de propostas para incorporação no Plano Nacional de Logística Integrada (PNLI), nos Planos Decenais e de Longo Prazo de Energia (PNE e PDE) e, consequentemente, na meta climática (NDC) do Brasil.

E, para isso, o GT pretende apoiar a realização de planos setoriais de logística de transporte, indicando vias de realização dos planos nacionais. Além de evidenciar dados e casos práticos que promovam os caminhos para sua implementação.

Uma logística mais inteligente e moderna é essencial para a competitividade do país, afinal a vastidão territorial determina os custos de transportes. A exportação agropecuária, que responde por um terço da balança comercial do país, chega a percorrer 1.500 km em terras nacionais antes de chegar a um porto exportador.

Esse deslocamento é feito predominantemente através de rodovias, o modal de transporte de carga mais caro e com maior emissão direta de GEE. O custo dessa logística chega a representar 8% da receita líquida nas empresas do agronegócio, ou até 30% no caso de empresas do Mato Grosso.

O baixíssimo uso do transporte por água (11% para cabotagem e 5% para hidrovias) e por ferrovias (15% das cargas inter-regionais, segundo a Empresa de Planejamento e Logística) ignora que estes são os modais mais baratos para as distâncias percorridas pela produção agropecuária com fins de exportação.

Há uma clara necessidade de aprimoramento da matriz nacional, por meio do gerenciamento mais eficaz dos corredores logísticos, combinando modais de forma mais eficiente, para que a redução de emissões esteja alinhada à redução de custos.

Por todos esses motivos, é possível prever que o GT atua em uma questão central para a agricultura brasileira, pois a agenda da logística de baixo carbono se traduz em ganhos de competividade, preservação das florestas e manutenção do clima.

abc2Foto: Pau Pereira – Acervo Robson Eleutério

ANOTE AÍ:

Fonte originária do conteúdo integral desta matéria, assinada por Juliano Assunção, Ana Cristina Barros, Celina Carpi e Valéria Militelli: http://www.huffpostbrasil.com/coalizao-brasil-clima-florestas-e-agricultura/logistica-de-baixo-carbono-e-uma-solucao-inteligente-para-a-agri_a_22077450/, publicado com a seguinte observação: Este artigo é de autoria de colaboradores ou articulistas do HuffPost Brasil e não representa ideias ou opiniões do veículo. Mundialmente, o HuffPost oferece espaço para vozes diversas da esfera pública, garantindo assim a pluralidade do debate na .

Juliano Assunção é Diretor da Climate and Policy Iniciative e Professor de da PUC-Rio

Ana Cristina Barros é Diretora de Infraestrutura para América Latina na The Nature Conservancy

Celina Carpi é Membro do Conselho de Administração do Grupo Libra

Valéria Militelli é Diretora de assuntos corporativos da Cargill e Presidente da Fundação Cargill

Climate and Policy Iniciative, The Nature Conservancy, Grupo Libra e Cargill são membros da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura. Os autores coordenam o Grupo de Trabalho (GT) de Logística de Baixo Carbono da Coalizão.


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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