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AS ANDANÇAS DE VILLA-LOBOS EM BUSCA DA ALMA BRASILEIRA

AS ANDANÇAS DE VILLA-LOBOS EM BUSCA DA ALMA BRASILEIRA

As andanças de Villa-Lobos para sonhar, imaginar e propor  a Alma Brasileira
 
Selecionei algumas peças de Villa-Lobos pra se ouvir em grupo e conversar a respeito das suas viagens pelas florestas da . Como estas andanças e aventuras o levaram a sonhar, a imaginar e propor o que veio a chamar de Alma Brasileira, assim como o inspiraram a compor diversas obras.
Villa participou bravamente da Semana de 22, onde foi vaiado num concerto no Teatro Municipal em São Paulo, mas se deu conta que era reação do público ao Novo e tirou de letra. Em outras ocasiões também foi vaiado, subestimado, criticado mas não abriu mão da ousadia e inovações que sua obra trazia, agregando traços da musica popular (que conhecia desde o berço carioca) ao repertório erudito.
VIILA lOBPSUm corajoso defensor do violão, numa época em que nas altas rodas o instrumento era considerado vulgar.
 
Esteve por sete anos vivendo em Paris do inicio da década de 20, onde chegou com o auxilio de amigos mas com altivez, pra mostrar suas composições, dar aulas e divulgar a musica brasileira.
 
Frequentando a casa da pintora Tarsila do Amaral, fez amizade com artistas de vanguarda como Picasso, Jean Cocteau, Leger, Erik Satie e o grupo dos Surrealistas.
 
Também confluiu junto a músicos espanhóis, a partir de seu lendário encontro com Andres Segóvia: encarando o desafio do célebre violonista que havia pedido a ele um…
 
Villa compôs 12 estudos pra violão dedicados ao mestre. Ao voltar, aclamado nos palcos europeus, contribuiu pra elaborar um projeto de musical, que na década de 30 começou a ser implantado nas escolas brasileiras.
 
Villa-Lobos foi uma referência decisiva junto aos artistas do movimento Modernista : Mario de Andrade, Di Cavalcanti, Raul Bopp, Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade entre São Paulo e Rio de Janeiro: Manuel Bandeira, Portinari, Cecília Meireles, Raquel de Queiroz…
 
Artistas que afirmando valores nativos, a riqueza do amálgama étnico cultural do Brasil, fizeram frente ao conservadorismo da elite colonizada de sua época.

PERFIL BIOGRÁFICO 

Considerado, ainda em vida, o maior compositor das Américas, Heitor Villa-Lobos compôs cerca de mil obras. Sua importância reside, entre outros aspectos, no fato de ter reformulado o conceito brasileiro de nacionalismo musical, tornando-se seu maior expoente.

Foi também com Villa-Lobos que a música brasileira de concerto se tornou amplamente reconhecida em outros países.

Filho da dona-de-casa Noêmia Villa-Lobos e do funcionário da Biblioteca Nacional e músico amador Raul Villa-Lobos, Heitor Villa-Lobos nasce a 5 de março de 1887, na rua Ipiranga, 7, no Rio de Janeiro. 

Além da cidade do Rio, Villa-Lobos reside com a família em cidades do interior do estado do Rio de Janeiro (Sapucaia) e de Minas Gerais (Santana de Cataguases, Bicas e Mar de Espanha) durante os anos de 1892 e 1893.

Nessas viagens – conforme depoimento colhido décadas mais tarde pelo biógrafo Vasco Mariz -, conhece as modas caipiras e os tocadores de viola, que formam parte do musical brasileiro e que, mais tarde, tornam-se referência para suas obras.

De volta ao Rio, os Villa-Lobos transformam sua casa num ponto de encontro de nomes respeitados da época, que ali se reúnem, todos os sábados, para tocar até altas horas da madrugada. Esse hábito, que dura anos, influi decisivamente na formação musical de Villa-Lobos, que, logo cedo, inicia-se na música.

A partir dos seis anos de idade, aprende com o pai a tocar clarinete e violoncelo (este último em uma viola especialmente adaptada). Raul Villa-Lobos ainda lhe obriga a exigentes exercícios de percepção musical que incluem o reconhecimento de gênero, estilo, caráter e origem de músicas, de notas musicais e ruídos.

Raul Villa-Lobos morre de malária no dia 18 de julho de 1899. A família passaria por dificuldades financeiras a partir de então, e Noemia, para complementar a renda modesta da pensão deixada por Raul, prestaria serviço nos anos seguintes para a Confeitaria Colombo, tradicional reduto intelectual do Rio, como lavadeira e engomadeira.

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Noemia – Foto: MVL

A música praticada nas ruas e praças da então capital federal também passa a exercer sobre ele um atrativo especial. É o “choro”, composto e executado pelos “chorões”, músicos que se reúnem regularmente para tocar por prazer e, ainda, em festas e durante o carnaval. Tal interesse leva-o a estudar violão escondido de Noêmia, que não aprova sua aproximação com os autores daquele gênero, considerado marginal.

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Músicos reunidos com Villa-Lobos

Em 1905, Villa-Lobos parte em viagens pelo . Visita os estados do Espírito Santo, Bahia e Pernambuco, passando temporadas em engenhos e fazendas do interior. Em 1908, na condição de caixeiro-viajante de uma fábrica de fósforos de duas cabeças, chega à cidade de Paranaguá, no Paraná, onde permanece por alguns meses.

Em 1912, viaja novamente pelo país. Após algumas semanas em Salvador, parte para Fortaleza, onde se junta como violoncelista a uma companhia de operetas. No início de abril, Villa-Lobos e a trupe partem para Belém, onde realizam apresentações no Theatro da Paz. Semanas mais tarde, viajam para , onde a companhia se desfaz. É em 1912 que Villa-Lobos conhece a Amazônia, um fato que marca profundamente sua obra.

De volta ao Rio de Janeiro, conhece aquela com quem se casa em 1913: a pianista, professora e compositora Lucília Guimarães (1886-1966). O ano de 1915 marca o início da apresentação oficial de Villa-Lobos como compositor, com uma série de concertos no Rio de Janeiro. Na época, casado com Lucília, ganha a vida tocando violoncelo nas orquestras dos teatros e cinemas cariocas, ao mesmo tempo em que escreve suas obras. 

Visto na cena musical brasileira como um músico moderno, Villa-Lobos participa, a convite do escritor Graça Aranha, da Semana de Arte Moderna de 1922, apresentando, entre outras obras, as “Danças Características Africanas”.

Já bastante conhecido no Brasil, alguns de seus amigos começam a incentivá-lo a ir à Europa, e apresentam à Câmara dos Deputados um projeto para financiar sua ida a Paris. Em meio a protestos que condenam a iniciativa, a proposta é aprovada e Villa-Lobos parte, em 1923, para o que seria sua primeira viagem ao Velho Continente.

Ao chegar, Debussy – uma de suas grandes inspirações – já não é mais vanguarda, e artistas e intelectuais da efervescente capital francesa voltam seus olhos e ouvidos para os compositores russos, como Igor Stravinsky, que fazem música original, moderna e de caráter nacionalista.

Villa-Lobos começa a entrar no ambiente artístico parisiense através de Tarsila do Amaral e de outros artistas plásticos brasileiros; Arthur Rubinstein – que já o conhece do Brasil – e a soprano Vera Janacópulos divulgam suas obras emrecitais por vários países.

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Arthur Rubinstein – Foto: MVL

 Em função de um drástico corte no orçamento inicial solicitado, e apesar do apoio financeiro de um grupo de amigos e mecenas, Villa-Lobos se vê, em 1924, forçado a voltar ao Rio de Janeiro.

Em 1927, o compositor retorna a Paris para uma temporada de três anos, desta vez em companhia de Lucília Villa-Lobos, para organizar concertos e publicar várias obras pela editora Max-Eschig, à qual foi apresentado quando de sua primeira ida à França.

Faz mais amigos, e artistas como Magda Tagliaferro, Leopold Stokowski, Maurice Raskin, Edgar Varèse, Tomás Terán, Florent Schmitt e Arthur Honneger frequentam sua casa e participam das feijoadas de domingo.

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Edgar Varèse – Foto: MVL
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Florent Schmitt – Foto: MVL

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Leopold Stokowski – Foto: MVL

Nas duas estadias em Paris, Villa-Lobos ganha prestígio internacional, apresentando suas composições em recitais e regendo orquestras nas principais capitais europeias. Causa forte impressão no público e na crítica, ao mesmo tempo em que provoca reações por suas ousadias musicais.

No segundo semestre de 1930, Villa-Lobos retorna ao Brasil, provisoriamente, para a realização de um concerto em São Paulo. Contudo, não prevê que, neste seu retorno, está inaugurando um novo capítulo em sua biografia.

Com a crise econômica de 1929, seguida do movimento civil-militar de 1930, diminuem as chances de retorno do compositor à Europa. Em 1931, apresenta na cidade de São Paulo a primeira grande concentração orfeônica de sua carreira, chamada de “Exortação Cívica” – que chega a reunir cerca de 12 mil vozes.

Em fevereiro de 1932, após meses de trabalho no estado de São Paulo, Villa-Lobos foi convidado oficialmente por Anísio Teixeira, então diretor-geral de Instrução Pública do Distrito Federal, para reorganizar o ensino de música e do canto coral nas escolas do Rio de Janeiro a partir de referências do movimento Escola Nova, e dirigir o Serviço de Música e Canto Orfeônico, transformado em setembro do ano seguinte em Superintendência de Educação Musical e Artística (SEMA).

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Canto Orfeônico – Foto: MVL

Como consequência do seu trabalho educativo, é indicado – junto de Sá Pereira, professor do Instituto Nacional de Música – pelo Ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema, para representar o Brasil no Congresso de Educação Musical em Praga. Embarca para a Europa em 1936. Ao retornar, assume sua relação com a professora e assistente Arminda Neves d´Almeida.

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Arminda Villa Lobos
Arminda Villa Lobos

Com o crescente apoio do então presidente da República, Getúlio Vargas – que em 1937 institui a ditadura do “Estado Novo” -, as concentrações orfeônicas iniciadas em 1932 sob a chancela da Prefeitura do Distrito Federal chegam a reunir cerca de 40 mil escolares e músicos de banda sob a sua regência.

Em 1942, cria o Conservatório Nacional de Canto Orfeônico , cujos objetivos são formar candidatos ao magistério orfeônico nas escolas primárias e secundárias; estudar e elaborar diretrizes para o ensino do canto orfeônico no Brasil; promover trabalhos de musicologia brasileira; realizar gravações de discos etc.

Em novembro de 1944, Villa-Lobos viaja pela primeira vez aos , a convite do maestro estadunidense Werner Janssen e com o apoio financeiro e operacional de instituições vinculadas à chamada “ da Boa Vizinhança”, que buscava estreitar a relação dos Estados Unidos com os países latino-americanos.

A partir daí, retorna àquele país várias vezes, onde rege e grava suas obras, recebe homenagens e encomendas de novas partituras, além de estabelecer contato com grandes nomes da música mundial, fechando, assim, o ciclo de sua consagração internacional.

Em 1948, descobre ter câncer de bexiga, e é submetido no Memorial Hospital, em Nova York, à primeira cirurgia. Nos anos seguintes, passaria a compor dezenas de obras encomendadas por importantes instituições e personalidades da música.

Villa-Lobos morre de câncer, em 17 de novembro de 1959, no Rio de Janeiro.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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