MAR DE CLASSES
A corja do mercado concentrador de renda que explora o turismo nacional tenta fazer de nosso mar o que fizeram na província de La Altagracia na República Dominicana, onde os endinheirados do mundo desfrutam da paradisíaca Punta Cana, lugar em que a exclusividade de acesso ao melhor do mar é garantido para os viventes dos resorts de luxo e suas praias particulares. A afluência ali é restrita, dispõe de ligação direta com o aeroporto internacional, e nenhum abastado “corre o risco” de conviver com a abundante pobreza ao redor, nem mesmo nos luxuosos ônibus do transfer que utilizam infraestrutura viária exclusiva, policiada e fiscalizada até os dentes.
O máximo que se vê nos trajetos, através das janelasescuras espelhadas (e apenas nos precários cruzamentos), sãopobres montados em frágeis motocicletas em busca de distantesopções de banho. É flagrante a percepção visual da deliberada desigualdade social em vigência, o que nos permite concluir que o lindo mar costeiro de águas cristalinas e areias brancas de Punta Cana é de classes, dividido entre os habitantes, majoritariamente pobres, e aqueles que usufruem dos espaços naturais privatizados ou fortemente comercializados para o turismo. No entanto, legalmente, na República Dominicana, as praias são públicas e qualquer pessoa tem o direito de acessá-las.
O problema é que, na prática, o acesso ao melhor do mar de Punta Cana é desestimulante para quem não está hospedadoem um resort. Construídos sob o conceito de barreiras artificiais de alvenaria, os resorts têm seções privadas de praia que são cercadas ou separadas de áreas públicas, tornando o acesso controlado e visualmente proibitivo. É o que os parlamentares brasileiros “doidos por cassinos” pretendem para os nossos mais belos espaços de mar, que suas praias sejam reservadas apenas para os ricos. Olho neles!
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p style=”text-align: justify;”>Antenor Pinheiro – Geógrafo. Membro do Conselho Editorial da Revista Xapuri.