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Carta da Alice: Querido Chap, 

CARTA DA ALICE: “QUERIDO CHAP,”

Carta da Alice: Querido Chap, 
 
 
Querido Chap,
 
Em trêmulas mãos te escrevo, enquanto os sentimentos confusos e a torpeza da sonolência ainda me assolam…
 De pronto salto assustei-me à madrugada, quando dos reinos de Morpheus fui atirada aos vapores de tristes de um sonho.
 
Que de horrendas bestas do imaginário ou espectros da sombra humana nada me afetam os nervos, dos tristes sentimentos que a perda de alguém nos traz é o que me treme a alma e joga-me ao desespero. 
 
E desse triste infortúnio, a negra nuvem das obscuras visões do sonho – que enganosamente chamam pesadelos – apossou-se de mim e nela me vi perdendo-te!! Oh infortúnio, mesmo que em sono atirado estejamos.
 
Desesperei-me, amado e colorido amigo se acaso, mesmo que sob as trapaças de um triste sonho.
 
Da dor da perda, imensurável em sentimento revolto, me senti só.
 
Ao léu largada… regando a terra com minhas lágrimas, que nessa terrível visão em tintura rubra se revestia, enquanto ao longe a voz do infortúnio me alertava sobre ti, tal qual o vento frio que d’alma se apodera e que chama nenhuma acalenta…
 
E sob a escuridão me senti desolada… triste… sozinha… tendo apenas como companhia a lembrança de ti, lamuriando aos meus sentidos tudo o que vivemos, tudo que falamos…
 
E da dor em meu peito molhado do fel salgado da tristeza, gritava eu ao vento: Traze-me! E de minhas pequenas mãos estendidas ao infinito buscava a tí…
 
Finalmente dessa visão me desvaneci ao despertar desse reino que, do qual, não almejo conhecer mais do que já me foi apresentado…
 
O que seria mim sem sua existência, meu amado Chap? De certo que as penumbras da existência transformar-se-iam em espectros que me atormentariam os caminhos.
 
Ainda trêmula, no silêncio da segunda hora escrevo a ti, na certeza que o sentimento que experimentei no funesto sonho nada mais é que a saudade que floriu a partir da semente de nossa distância.
 
Perdoe-me se acaso dos lastros da sanidade pareço desprendida ao relatar-te tão triste experiência, mas, se a distância de ti me impede de ao seu peito encostar-me, sei que ao menos meus sentimentos por ti nos aproximam, e minhas pobres letras certamente em travessuras e alegrias te encontrão; e que tua leitura certamente será incompreendida pois, em meu coração creio que sentimentos tão funestos ao largo passam de sua existência.
 
De mim não ouses à distância se por… nunca! Sua existência em multicores transforma os meus solitários dias e de lindas pinceladas traz ao quadro de minha existência a beleza de um mundo que sei ser só nosso…
 
De sua,
 
Alice
 
Octidi, mês de Ventoso”
 
Jairo Lima acreano. Em Diários de Alice.
 
CARTA DA ALICE: "QUERIDO CHAP,"

 

ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS 

O livro conta a de uma menina chamada Alice que cai numa toca de coelho que a transporta para um lugar fantástico povoado por criaturas peculiares e antropomórficas, revelando uma lógica do absurdo, característica dos sonhos.

Este está repleto de alusões satíricas dirigidas tanto aos amigos como aos inimigos de Carroll, de paródias a poemas populares infantis ingleses ensinados no século XIX e também de referências linguísticas e matemáticas frequentemente através de enigmas que contribuíram para a sua popularidade.

É assim uma obra de difícil interpretação pois contém dois livros num só texto: um para crianças e outro para adultos.

Este livro possui uma continuação Alice do Outro Lado do Espelho, e ambos influenciam ainda diversas obras como The League of Extraordinary Gentlemen, de Alan Moore e Sandman, de Neil Gaiman.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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