Extrativistas lançam Manifesto: Nós Somos a Amazônia!
Neste dia 5 de setembro, Dia da Amazônia, o Conselho Nacional das Populações Extrativistas – CNS, lançou um Manifesto ao povo brasileiro com a seguinte chamada: “Para nós, povos da Amazônia, todo dia é Dia da Amazônia. Ela não é apenas a nossa causa, é nossa CASA, É NOSSA VIDA.”
Reconhecendo o trabalho das gerações que vieram e lutaram antes, o Manifesto celebra a conquista, pelos povos da floresta, de “760 unidades territoriais de uso coletivo que protegem 66 milhões de hectares de florestas, rios, lagos e áreas marinhas, representando 13% da Amazônia.”
A nota repudia, no Dia da Amazônia, “as medidas que o governo Temer vem impondo ao Brasil, à proteção do meio ambiente e às populações extrativistas, ” uma vez que “o Brasil não pode retroceder,” nem o governo pode retirar direitos dos povos da Amazônia, “nem pode fazer da Amazônia uma mercadoria.”
O Manifesto relembra a luta de Chico Mendes, e mantém a posição de se manter em EMPATE contra a destruição dos meios de vida das populações extrativistas da Amazônia. “Não descansaremos na proteção da Amazônia e da vida. Não faltaremos com nosso dever de defesa do meio ambiente para as presentes e futuras gerações. Queremos a Amazônia viva para sempre,” diz o Manifesto.
Juruena, MT, Brasil: Antônio Bento de Oliveira caminha em busca de castanheiras por área da reserva legal comunitária do assentamento Vale do Amanhecer. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
VEJA O MANIFESTO DO CNS NA ÍNTEGRA:
Manifesto do Conselho Nacional das Populações Extrativistas – CNS
Nós, mulheres e homens seringueiras(os), ribeirinhas(os), castanheiras(os), pescadoras(es), pequenas(os) agricultoras(es), coletoras(es) de açaí, quebradeiras de coco babaçu;
Nós, moradoras(es) de reservas extrativistas, reservas de desenvolvimento sustentável, reservas extrativistas marinhas, projetos de assentamento extrativista, projetos de desenvolvimento sustentável, projetos de assentamento florestal, florestas nacionais e estaduais, demarcados e em processo de demarcação;
Nós, que pela luta nossa e das gerações que nos antecederam, conquistamos 760 unidades territoriais de uso coletivo que protegem 66 milhões de hectares de florestas, rios, lagos e áreas marinhas, representando 13% da Amazônia:
Temos o dever de manifestar, no Dia da Amazônia, nosso repúdio às medidas que o governo Temer vêm impondo ao Brasil, à proteção do meio ambiente e às populações agroextrativistas.
Tais medidas têm levado à desconstrução das políticas públicas voltadas para a proteção da Amazônia, ao aumento de mortes de lideranças, ao avanço do agronegócio sobre os territórios protegidos e ao descumprimento de acordos internacionais de proteção ambiental, além de patrocinar uma política de entrega das riquezas da região aos interesses do capital especulativo internacional, evidenciado pela tentativa de extinção da RENCA por meio de decreto presidencial cuja eficácia foi suspensa pelo Poder Judiciário.
Muito do que foi construído ao longo das últimas décadas baseia-se no legado da luta do Chico Mendes que, trinta anos atrás, tombou pela causa que nos move até hoje, a Amazônia, região de recursos naturais imensuráveis e estratégicos para a sociedade brasileira e global.
O Brasil não pode retroceder! A Amazônia não é mercadoria. Dizemos não à redução dos territórios protegidos, não às hidrelétricas com impactos ambientais devastadores, não à violência contra a população agroextrativista, não a esse modelo econômico concentrador e excludente.
O EMPATE à destruição dos nossos meios de vida continuará. Não descansaremos na proteção da Amazônia e da vida. Não faltaremos com nosso dever de defesa do meio ambiente para as presentes e futuras gerações. Queremos a Amazônia viva para sempre.
Nós, em aliança com os indígenas, somos legítimos defensores desse patrimônio nacional e a floresta nos une frente ao perigo comum. Clamamos a sociedade brasileira e mundial para nos ajudar a proteger e lutar pela Amazônia, pois desta maneira asseguraremos a continuidade da vida de todos no Planeta.
Para nós, povos da Amazônia, todo dia é Dia da Amazônia. Ela não é apenas a nossa causa, é nossa CASA, É NOSSA VIDA.
CONSELHO NACIONAL DAS POPULAÇÕES EXTRATIVISTAS,
05/07/2017.
ANOTE AÍ:
Este Manifesto foi publicado originalmente na página do CNS no Facebook:
Para saber mais sobre o legado de Chico Mendes e as lutas do CNS, entre e curta a página, ou faça contato pelo e-mail: chicomendes30anos@gamil.com
Colniza, MT, Brasil: Crianças na escola da comunidade de ribeirinhos de São Lourenço. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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