CONSCIÊNCIA NEGRA: REPARAÇÃO, MEMÓRIA E FUTURO

Consciência Nergra: 20 de novembro é reparação, memória e futuro

Feriado do Dia da Consciência Negra representa a história de luta e resistência de um povo contra a dominação

O feriado 20 de novembro foi instituído oficialmente pela Lei 14.759/23

Às vésperas da realização da 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras — um ato político que deve se reunir na próxima semana, em Brasília, cerca de um milhão de mulheres,  com delegações da América Latina, África e Caribe — o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra ganha ainda mais força.
Instituído como feriado pela Lei 14.759/23 , o 20 de novembro marca a memória da morte de Zumbi dos Palmares, último líder do maior quilombo da história do Brasil, e simboliza a resistência de um povo contra a escravidão e todas as formas de dominação.
Ao longo dos séculos, inúmeras mulheres negras foram protagonistas na luta pela liberdade, cidadania, cultura e direitos. Apesar de superarem várias barreiras e de serem sistematicamente apagadas dos livros, das escolas, dos espaços de poder e dos monumentos oficiais, elas ergueram — e seguem erguendo — como bases de um país diverso, forte e único como o Brasil.
Foram as mãos, as vozes, os corpos e os saberes de mulheres negras — guerreiras, intelectuais, lideranças, artistas, trabalhadoras — que sustentaram a luta por dignidade e por políticas públicas que salvam vidas. 
No contexto da Marcha das Mulheres Negras, torna-se, portanto, urgente recuperar a memória daquelas mulheres que transformaram o Brasil, seja na política, no pensamento, na cultura ou nos quilombos.
Para a Secretaria Nacional de Mulheres do PT, comemorar o 20 de novembro é assumir um compromisso permanente: escrever e reivindicar a história do Brasil com as mulheres negras que a construíram, e a constroem diariamente.  E que apesar dos desafios impostos, continuam contribuindo para o fortalecimento da identidade e da cultura negra no país. 

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Consciência Negra: Viva Zumbi dos Palmares!

Parlamentares destacam importância dos dados e das ações do governo Lula 

Em entrevista à Rádio PT , a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) afirmou que a luta antirracista continua necessariamente no Brasil. “Porque o racismo ainda estrutura as nossas desigualdades mais profundas em nosso país. A cor da pele segue determinando quem tem acesso às oportunidades, quem escuta, quem trabalha e muitas vezes quem vive ou morre. Pessoas negras são maioria entre os pobres, entre as vítimas da violência e minoria nos espaços de poder.”
Também à Rádio PT, a primeira deputada federal negra eleita no Espírito Santo, relatora da lei da igualdade racial e coautora do projeto que se tornou dia 20 de novembro o feriado nacional, Jack Rocha classifica o 20 de novembro como um dia de afirmação, de memória e de luta. Para ela, com o presidente Lula e o PT, o Brasil voltou a ter olhar, investimento e compromisso real com a vida do povo negro. 
“Reconstruímos o Ministério da Igualdade Racial, ampliamos as cotas, garantimos o maior orçamento da história para as comunidades e territórios quilombolas, mas ainda não é suficiente. A gente luta pelas titulações, porque não podemos deixar ninguém para trás.
Fortalecemos a cultura negra e retomamos políticas que mudam a vida concreta das famílias. E quando a gente fala dos avanços da política de cuidado, nós estamos falando que salário mínimo é cuidado. Falamos também que, quando reduzimos o preço da cesta básica, nós estamos garantindo comida na mesa. Quando a gente isenta o imposto de renda para quem ganha menos, é uma política de reposição”, pontuou Jack.
Ela complementou observando que essas têm medidas cor, têm gênero e têm impacto direto no cotidiano das mulheres negras que sustentam as famílias, o trabalho e a comunidade.
“Avançamos também na saúde da população negra, na visão de que o racismo é um determinante social de adoecimento. Ou seja, precisamos enfrentar a mortalidade materna, o racismo institucional e garantir que cada mulher, cada criança, cada jovem negro tenha a cesta básica. Acesso digno à saúde, à prevenção e ao cuidado integral”, concluiu a capixaba.

A força das mulheres negras moldou a nossa história

Abaixo, algumas mulheres que fizeram e fazem história e que reforçam o papel fundamental da mulher negra na formação do país.
Dandara dos Palmares
Guerreira, estrategista e liderança central no Quilombo dos Palmares, Dandara comandou batalhas, especificações de defesa e articulou a participação das mulheres na vida política do quilombo. Recusou qualquer forma de submissão ao sistema escravizado e, capturado na queda de Palmares, escolheu a morte para não ser reescravizada.
Tereza de Benguela
Rainha e líder do Quilombo do Quariterê, no Mato Grosso, governou um território livre por décadas, estruturando um sistema político próprio, com parlamento, produção coletiva e defesa organizada. Morta por tropas coloniais em 1770, tornou-se símbolo nacional — o dia 25 de julho é dedicado a ela.
Benedita da Silva
Parlamentar Constituinte e referência histórica da política nacional, Benedita foi a primeira senadora negra do Brasil e, em 2002, tornou-se governadora do Rio de Janeiro. Sua trajetória rompeu barreiras de raça, gênero e classe, consolidando um marco no acesso das mulheres negras aos espaços de poder. Defensora incansável da população periférica e das trabalhadoras, que atacou o racismo institucional em todas as frentes. Foi relatora da PEC das Domésticas e coordenadora da Bancada Feminina na Câmara dos Deputados (2023–2025).
Aqualtune
Princesa e comandante militar do Reino do Congo, foi capturada após vencer batalhas contra o avanço colonial português. Enviada ao Brasil como escravizada, fugiu e chegou a Palmares, onde se tornou uma das principais articuladoras políticas e militares do quilombo. Sua liderança influenciou diretamente a estratégia de defesa e a organização interna da comunidade.
Antonieta de Barros
Filha de uma mulher negra ex-escravizada, Antonieta rompeu o elitismo da política brasileira. Em 1934, tornou-se a primeira deputada negra do Brasil e a primeira mulher eleita em Santa Catarina. Jornalista, educadora e defensora da alfabetização de mulheres, foi pioneira no combate ao racismo e na defesa dos direitos civis.
Carolina Maria de Jesus
Nascida em 1914, em Sacramento (MG), Carolina estudou apenas dois anos, mudou-se para São Paulo em 1937 e sustentou a família como catadora de papel. Moradora da favela do Canindé, registrada em diários da vida cotidiana das periferias. Esses escritos deram origem a Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada , publicado em 1960 e traduzido em mais de 40 países. Tornou-se uma das maiores vozes da literatura brasileira.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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