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Desobediência Civil: Por que não?

No século 19 surge o conceito da Desobediência Civil, definido pelo estadunidense Henry David Thoreau (1817–1862). Thoreau era , naturalista, historiador, filósofo e ativista que mobilizou a americana a lutar contra a cobrança abusiva de impostos pelo governo com o objetivo de financiar a guerra contra o México, durante as primeiras décadas do século.

A Desobediência civil pregada por Thoreau constitui-se em um tipo de manifestação legalmente aceita contra o regime imposto por um governo opressor, quando um grupo de cidadãos se recusa a obedecer a determinadas leis, em forma de protesto, por considerá-las imorais ou injustas.

O método permite defender todo o direito que se encontra ameaçado ou violado, é uma forma de pressão legítima, de protesto, de rebeldia contra as leis, atos ou decisões que ponham em risco os , políticos ou sociais dos indivíduos. Para que um ato de desobediência seja interpretado como um protesto político, este precisa ter como base argumentos que sustentem uma ação em prol da ética e da moral.

Nesse sentido, existem circunstâncias que justificam plenamente a desobediência civil. Por exemplo, a aplicação de uma lei injusta, ilegítima, por quem não possui o direito de legislar, ou quando se institui uma lei inválida, de cunho inconstitucional, em prejuízo da maioria da sociedade ou dos .

Os cidadãos têm o dever moral de seguir as leis, de acordo com o princípio da civilidade democrática. Mas, ao mesmo , os poderes legislativo, executivo e judiciário devem criar, executar e fazer cumprir leis justas, que sigam a e os princípios dos direitos civis e sociais. Quando esses poderes não seguem tais princípios, no âmbito jurídico, moral e ético, a desobediência civil faz parte do chamado Direito de dos cidadãos, assim como o Direito de Greve e o Direito de Revolução, que servem para garantir a proteção da soberania do , caso esta seja ameaçada por um regime opressor.

A Desobediência Civil é um ato legítimo, justificável por dois motivos: 1) é um instituto da cidadania, pois tem como finalidade manter, proteger ou adquirir um direito negado; 2) é fundamentado pelos princípios de e equidade.

No momento atual do Brasil, os motivos justificáveis já foram feridos por todos os poderes que se dizem republicanos. Instalou-se um governo de forma ilegítima ao arrepio da legalidade; o legislativo vota leis que ferem frontalmente os princípios constitucionais, quando precariza o trabalho com a lei da terceirização; retira direitos históricos dos trabalhadores, com um arremedo de Lei Trabalhista; tenta aprovar uma Reforma da Previdência com o intuito de satisfazer a volúpia do mercado; e o STF, de forma seletiva, abre mão de guardião da Carta Magna e toma decisões políticas a favor do patronato.

Assim, será um erro se pensar somente em 2018 como forma de solucionar os graves problemas por que atravessa a sociedade brasileira, principalmente os trabalhadores e os setores da sociedade organizados, que pelo visto são os alvos principais do tsunami neoliberal capitalista. Os sindicatos e suas entidades de grau superior têm que colocar na sua agenda de organização de lutas a possibilidade real de programar a forma de Desobediência Civil como meio legitimo de Resistência. Por que Não?

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Trajano Jardim
Jornalista e Universitário

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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