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A ninguém será dado o benefício do Silêncio

A ninguém será dado o benefício do silêncio

Abertura em forma de Manifesto
(Teatro Casa Grande, Rio, 16 de janeiro de 2018)

Por Pedro Tierra

A ninguém será dado o benefício do silêncio. Nessa hora que requer o grito. Desembarcamos num mundo sem confortos. Onde “Tudo que era sólido se desmancha no ar”. Olhamos em volta e só vemos escombros. A árdua construção que consumiu vidas e mortes; esperanças e sonhos; ilusões e erros – como tudo que é humano –, envolveu generosidade e partilha. E, num relâmpago se converteu em fúria, desatou séculos de ódios acumulados, fundidos no fogo lento dos banguês e no coração dos manejam com punhos de renda as mãos do feitor, os cordões da vida e da morte nesta atormentada geografia.

A ninguém será dado o benefício do silêncio. Nessa hora que requer o grito. Aqui se encontram, nesta noite, os criadores de símbolos. Os que erguem espelhos diante do nosso rosto, para mostrar quem realmente somos. Os que engendram metáforas para sustentar a representação do país. Os que trabalham a palavra, o corpo, a música, a cena, a tela, o verso, a imagem, a antiga virtude da indignação. Os que trabalham o pensamento, os empenhados em decifrar os sentidos da brutalidade de uma história que escraviza, que expulsa, que segrega, que converte o outro em animal e depois o mata. Ou o dissolve na paisagem e assim desaparece com ele para que sua miséria, seu abandono, seu clamor não nos incomode os ouvidos.

A ninguém será dado o benefício do silêncio. Nessa hora que requer o grito. Os que lidam com os símbolos renunciam, quando nascem, ao direito à indiferença. A dor do outro, a alegria do outro, a miséria do outro, a paixão do outro ferem nossa própria pele. Penetram pelos poros. Porque é nos olhos, nos ouvidos, no coração do outro que o verso, o relato, a tela, a escultura, a música, a imagem, para nós se realizam. Para tocar, mobilizar, comover. É o olhar do outro, o olhar da multidão que justificam o quotidiano labor da criação.

Lula, “O Filho do ” será submetido a julgamento num Tribunal de Exceção. O Povo será condenado por um Tribunal de Exceção. Pelos crimes de ousadia e insubmissão. Por ter posto os pés profanos no espaço sagrado da Casa Grande. Por ter, em breve tempo, virado “esse mundo em festa, trabalho e pão…” Por ter defendido os recursos naturais para sua própria gente. Por ter exercido com altivez sua soberania diante do mundo. A Democracia é filha da participação! Não convive com a indiferença, mãe do fascismo.

Por isso, a ninguém será dado o benefício do silêncio. Nessa hora em que a praça grita: Justiça não rima com trapaça!

Chegará o dia em que Povo julgará os Juízes!

pedro tierra

Uma canção para 24 de janeiro
(à maneira dos cantadores nordestinos)

Por Pedro Tierra

Onde eles dizem paz,
eu digo Justiça.

Onde eles dizem Justiça,
eu digo caça.

Onde exibem convicções,
exijo provas.

Onde impõem o silêncio,
entoo canções.

Enquanto lustram algemas,
invento caravanas.

Onde defendem mercado,
afirmo pátria.

Onde dizem casta,
respondo classe.

Onde erguem o Tribunal,
convoco a praça.

Onde dizem ordem,
eu digo Liberdade!

Não me venham com crepúsculos
que chego armado de auroras
para reacender as cinzas
do nosso vasto coração…

Brasília, estação das chuvas e do plantio, 2017.


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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