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Curau

SABE FAZER CURAU DE MILHO VERDE?

Sabe fazer curau de milho verde?

Atualmente, pouca gente sabe fazer o curau, daquele jeito tradicional, que demanda paciência, paladar apurado e cronometrado.

Por Lúcia Resende

Conhecido como canjica no , por aqui essa delícia é também chamada de mingau de milho verde, sobretudo se a consistência é mais leve, mais mole.

Fazer um bom curau demanda e paciência. , com medida certa, quase ninguém tem. Geralmente aprendemos com as pessoas mais velhas a fazer “pelo rumo” e vamos transmitindo às novas gerações. Assim a receita veio perdurando através dos tempos. Eu aprendi com minha mãe, dona Odete, que fazia o melhor curau desde !

Diante da iminência de que esses saberes acabem se perdendo ou fiquem restritos às cozinhas comerciais, porque a geração atual vem se acostumando a comprar tudo pronto, a Xapuri tem se preocupado em publicar tradicionais, para que, escritos, esses modos de fazer as delícias da nossa cozinha possam ser aprendidos por quem se interesse.

O curau vem nessa esteira. Para passar a receita, fui pra cozinha, medi o meu “jeito de fazer pelo rumo”, testei, aprovei e faço aqui o registro. Claro que não sem o “pulo do gato”, que é o segredo que toda boa receita tem!

Ingredientes

• 5 xícaras de milho verde ralado ou batido no liquidificador (7 a 8 espigas, aproximadamente)

• 2 litros de

• 2 xícaras de açúcar

• 1 colher de chá de sal

• Canela em pó

Modo de fazer

Descasque o milho, cate, rale as espigas ou corte e bata no liquidificador com parte do leite. Depois, em uma peneira fina, vá colocando a massa, aos poucos, regando com leite e espremendo, até tirar bem o caldo. É sempre bom reservar um pouco do leite (uma xícara, mais ou menos), para acertar o ponto. Em seguida, lave a peneira, coe novamente o caldo numa panela, acrescente o açúcar e o sal e leve ao , mexendo sempre, para que o amido não se acumule no fundo e não grude.

Depois que abrir fervura, o mingau vai engrossar rapidamente. Acrescente então o leite restante, se preciso. Agora, vem o “pulo do gato”. Sem isso, não há curau que preste. Marque 15 MINUTOS (depois de engrossado), no . Nem mais, nem menos, pois o cozimento tem de estar no ponto certo. Passados os 15 minutos de cozimento (mexendo sempre), desligue o fogo, despeje o curau nas vasilhas e polvilhe com canela. Pode ser servido quente, frio ou gelado, questão de preferência!

ATENÇÃO!

• Importante observar o ponto do milho, as espigas devem estar bem granadas e bem amarelinhas, os grãos firmes, mas não duros.

• Se quiser um curau mais molinho, mais leite; mais duro, pra cortar, menos leite. Ajuste o açúcar e o sal, se retirar ou acrescentar leite.

• Se fizer e aprovar a receita, conte pra gente!

Lúcia Resende – Professora
@mluciares

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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