Desmatamento

Desmatamento na Terra Indígena Cachoeira Seca supera 2017 em apenas um mês

Em um único mês, destruição na Terra Indígena Cachoeira Seca supera o total desmatado em 2017

Isabel Harari

Campeã de , a área protegida sofre com retirada ilegal de madeira, avanço da pecuária e invasões. Em outubro, contabilizou 1.800 hectares de floresta no chão

Quem passou em outubro pela estrada Maribel, que liga Altamira à Uruará, no Pará, encontrou inúmeros caminhões carregados de toras de madeira. Essa é o caminho que liga a Terra Indígena (TI) Cachoeira Seca aos centros urbanos da Transamazônica e à rota de escoamento de madeira ilegal do interior da área protegida para as serrarias da região. Em apenas um mês, foi desmatado o equivalente a 1.800 campos de na TI, superando o total de floresta destruída ali durante todo o ano de 2017.

Desmatamento
Caminhão com toras de madeira ilegalmente saindo da TI Cachoeira em outubro de 2018

 

De janeiro a outubro, foram desmatados 2.900 hectares na Cachoeira Seca, mesmo com denúncias e intensa pressão do  Arara, que pela integridade territorial de seu território. O roubo de madeira, avanço da pecuária e a intensificação da grilagem são as principais causas do avanço do desmatamento. Apenas em 2016, ano de pico da invasão, foi retirado o equivalente a 1,2 mil caminhões de madeira ilegal. Desde 2009, mais de 17.000 hectares de floresta foram derrubados, colocando a TI no topo das mais desmatadas no país.

Os dados foram detectados pelo Sirad X, o sistema de monitoramento de desmatamento desenvolvido pelo ISA. Acesse aqui o boletim nº9

Para Juan Doblas, especialista em geoprocessamento do ISA, o aumento no mês de outubro pode ser explicado pelo início do período das chuvas e a consequente intensificação da nebulosidade, o que dificulta a detecção de desmatamento via satélite e a fiscalização. Outra possibilidade é o cenário político que, afirma Doblas, se anuncia como muito desfavorável à dos crimes ambientais e, adicionalmente, às reivindicações territoriais indígenas.

Desde que foi interditada para estudos em 1985, a Cachoeira Seca foi sujeita a contestações de grileiros que reivindicavam a posse da . Homologada mais de 30 anos depois, em 2016, invasores ainda ocupam o interior da TI, alimentando uma espiral de e insegurança fundiária. A principal reivindicação dos Arara e seus parceiros é pela desintrusão dos ocupantes não indígenas da área e a efetiva implementação de um plano de proteção no território.

A desintrusão da TI e a construção de duas bases de proteção são condicionantes da Usina Hidrelétrica (UHE) Belo Monte que ainda não foram cumpridas. Esse processo faz parte de um plano de vigilância e fiscalização que deveria ter sido implementado antes da construção da usina, em 2009, mas que ainda não foi completamente implementado. [Saiba mais]

Desmatamento
Desmatamento recente detectado em sobrevoo sobre a TI Cachoeira Seca, em setembro de 2018

Floresta no chão

O desmatamento voltou a aumentar na Bacia do , registrando mais de 13 mil hectares de floresta derrubada apenas em outubro, um aumento de 70% comparado com os quase 8 mil registrados no mês passado. Nas áreas protegidas, os números impressionam: foram desmatados 5.852 hectares entre setembro e outubro, um aumento de 141%.

Na Terra Indígena Ituna Itatá, de 3 hectares detectados em maio, o número pulou para 1.800 hectares em outubro. A TI localiza-se a menos de 70 quilômetros do sítio Pimental, principal canteiro de obras de Belo Monte, e a destruição das vem aumentando exponencialmente desde 2011, início da construção da usina.

TI Apyterewa ficou em terceiro lugar no ranking das TIs mais desmatadas em outubro. Foram registrados 919 hectares derrubados no interior do território dos Parakanã, também na porção paraense da Bacia.

ANOTE AÍ

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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