Amazônia

: Navio Haidar polui de novo o Rio Pará, em Barcarena –

Por: Catarina Barbosa/Amazônia Real 

Barcarena (PA) – Na manhã do último dia 21 de dezembro, quatro dias antes do Natal, mensagens postadas na rede social WhatsApp desesperaram os moradores de Barcarena, no do Pará: “Mais um crime ambiental, em Barcarena”; “Meu Deus, o rio vai ficar ainda mais contaminado”; “Nos ajudem”.

As trocas de mensagens de moradores angustiados referiam-se ao rio Pará, que havia sido atingido por um novo vazamento de óleo do navio libanês Haidar na região do porto de Vila do Conde. A Secretaria de de Meio Ambiente e do Pará (Semas) disse que emitiu um auto de infração em desfavor da Companhia Docas do Pará CDP), mas não informou se multou a empresa por crime ambiental ou o comandante da embarcação.

O navio Haidar é o mesmo que afundou no porto de Vila do Conde em 6 de outubro de 2015. Na ocasião, 5 mil bois vivos morreram afogados e 700 toneladas de óleo contaminaram o rio Pará. Recentemente, a população ribeirinha atingida pelo crime ambiental começou a receber uma indenização imposta pelo Termo de Ajuste de Conduta (TAC) elaborado pelos Ministérios Públicos do Estado do Pará (MPPA) e Federal (MPF). O MPPA também denunciou cinco funcionários do navio por crimes de maus tratos (majorado), ambiental (qualificada) e deixar de cumprir obrigação de relevante interesse ambiental, todos previstos na Lei Federal nº 9605/98, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente.

Antes de se tornar público o novo vazamento de óleo combustível na semana passada, uma testemunha que preferiu não se identificar disse à reportagem que os funcionários do navio Haidar sofreram ameaças caso comentassem o assunto. “Eles disseram que se fossem identificadas as pessoas que fizessem qualquer tipo de registro seja foto ou áudio seria demitida imediatamente”.

Ao detectar a poluição no rio Pará, a população de Vila do Conde se mobilizou. Os funcionários de empresas terceirizadas do porto foram mobilizados para conter a mancha de óleo. “Vários mergulhadores foram para lá evitar que o óleo se espalhasse”, afirma a testemunha.

Barcarena Dilson Cardoso Presidente da Associa%C3%A7%C3%A3o Comunit%C3%A1ria de Vila do Conde 2 e1657466021892Dilson Cardoso, presidente da Associação Comunitária de Vila do Conde (Foto: Pedrosa Neto/Amazônia Real)

O presidente do Centro Comunitário de Vila do Conde, Dilson da Cardoso, 47 anos, disse à agência Amazônia Real que esta é segunda vez que ele sofre com acidentes ambientais provados pelo navio Haidar. O primeiro foi o de 2015, quando a embarcação adernou com os bois, e agora o novo vazamento de óleo. “Quando a gente soube do vazamento corremos para alertar os órgãos responsáveis, então, estão todos cientes”, diz. “O óleo estraga tudo: nossas redes, anzol, tudo. Sem contar o peixe que vai embora”, destacou.

Cardoso lamentou que ocorram tantos crimes ambientais em Barcarena. “Volta e meia a população tem de lidar com esse tipo de coisa. Temos a Hydro, a Imerys e os vazamentos de óleo e o mais triste é ver que a gente sofre constantemente com os impactos, mas que não vem nenhum benefício para as comunidades”, disse ele.

Em fevereiro deste ano, o Instituto Evandro Chagas (IEC) anunciou que um vazamento de rejeitos químicos das atividades de processamento da mineradora Hydro Alunorte, de capital norueguês, poluiu o rio Pará, provocando impactos socioambientais e riscos à dos moradores das comunidades ribeirinhas, entre elas e . Barcarena tem mais de 112 comunidades ribeirinhas e um total de 121.190 habitantes, segundo o último censo do IBGE. A empresa nega o crime ambiental.

O que diz a Semas?

Procurada pela reportagem para falar sobre o novo vazamento de óleo do navio Haidar, a Semas disse que assim que soube do acidente deslocou uma equipe para o porto de Vila do Conde. Segundo a secretaria, a Companhia Docas do Pará foi notificada para manter, de forma permanente, uma barreira de contenção de óleo, juntamente com uma manta de contenção do produto ao redor do referido navio, evitando que o óleo se propague e disse que monitora o ocorrido e acompanha a execução das medidas que foram determinadas.

Amazônia Real não localizou representantes da Companhia Docas do Pará para falar sobre o acidente com o navio Haidar.

Poluição recorrente

Para o presidente da Associação dos Pescadores de Vila do Conde, Domingos Rodrigues Cardoso, 74 anos, não há indenização que pague os prejuízos ambientais que acontecem em Barcarena. “O óleo acabou com o nosso material e hoje o que eles nos pagaram com a indenização não dá nem para pagar as dívidas que fizemos, quanto mais comprar material de pesca novo”, reclama.

Domingos Rodrigues Cardoso lembra dos prejuízos causados em 2015. “Esse óleo é horrível. Ele queima a nossa pele e mata tudo com o que tem contato. Ele corta até o náilon da nossa rede de pesca”, alega.

Atualmente, a associação tem 130 pescadores associados e todos sofreram com os impactos do vazamento ambiental de 2015. Com o caso de sexta-feira (21) estão todos em alerta novamente.

Apesar de saber que o navio Haidar está imerso, Domingos Cardoso fala de uma má vontade sem solucionar a questão do óleo que está dentro do navio. “Eles poderiam flutuar o navio para tirar o óleo ou até mesmo enviar mergulhadores para fazer o trabalho, mas acredito que eles não querem tirar por falta de vontade”, diz.

Fotos a%C3%A9reas do Porto de Vila do Conde da Companhia de Portos do Par%C3%A1 CDP Local onde adernou o navio Haidar em 2015 4 1Mancha de óleo no Porto de Vila do Conde da Companhia de Portos do Pará (Foto: Pedrosa Neto/Amazônia Real)

Rosemiro Brito, 43 anos, membro da diretoria do Centro Comunitário de Vila do Conde, diz que todo ano acontece um acidente na área portuária, sobretudo na época de fim de ano.

“Em novembro e dezembro sempre tem um acidente desses. Mas o pior é olhar para trás e ver que nunca foi feito um processo de despoluição do rio. Os crimes são cometidos e para a população só vão ficando as mazelas”, lamenta.

Outro líder que também denunciou o caso foi Paulo Feitosa, presidente do Instituto Barcarena Socioambiental (IBS) e do Movimento Social de da Bacia Hidrográfica do Rio Pará. A entidade, atualmente, representa 82 comunidades e mais de 10 mil famílias impactadas da região.

“Acionamos vários órgãos, até o Procurador da República no Pará, Ricardo Negrine. Agora, esperamos providências. Esse crime é classificado como muito grave e deve haver punição com base na lei de crimes ambientais qualificada no Art 54 § 2°, v, da lei 9605/98”, diz Brito.

Barcarena Domingos Cardoso Presidente da Associa%C3%A7%C3%A3o de Pescadores de Vila do CondeO pescador Domingos Cardoso, presidente da Associação de Pescadores de Vila do Conde (Foto: Pedrosa Neto/Amazônia Real)

ANOTE AÍ:

Fonte: http://amazoniareal.com.br/navio-haidar-polui-novamente-o-rio-para-em-barcarena/

Barcarena Fotos a%C3%A9reas do Porto de Vila do Conde da Companhia de Portos do Par%C3%A1 CDPMancha de óleo no Porto de Vila do Conde (Foto: Pedrosa Neto/Amazônia Real).

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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