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O outro lado da Independência do Brasil

O OUTRO LADO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

O outro lado da Independência do Brasil

O Brasil comemorou mais um sete de setembro. Quem pesquisou profundamente História do Brasil, principalmente o nosso 07 de setembro, sabe muito bem que a famosa tela de Pedro Américo, retratando a cena do Ipiranga, estampada em todos os livros desta matéria, nada mais é que um photoshop…

Por Marco Antonio Poletto

Na realidade, o cavalo não era cavalo (era uma mula), nem o uniforme era de gala (o regente vestia roupa simples de viagem). E, foi no alto da colina e não às margens do Ribeirão Ipiranga que D. Pedro emitiu um desabafo, declarando a Independência do Brasil.

Outro fato curioso (e que teve outra versão) é que, junto a ele, estavam apenas dois mensageiros e quatro cavaleiros que faziam um “paredinha”, enquanto mais uma vez o regente se aliviava de um problema estomacal fecundo, causado pelas costelinhas de porco que comera na noite anterior em Santos, na casa dos Andradas.

Independentemente destes fatos, a Independência do Brasil foi um “arranjo político”. Ela implicou uma acirrada luta social. Várias camadas sociais disputavam a liderança, desejando imprimir ao movimento libertador o sentido que mais convinha e interessava a cada uma. No final, venceu a aristocracia rural dos grandes proprietários escravistas.

Pelo que se sabe, não houve derramamento de uma gota de sangue, apenas um grito, o do Ipiranga. A partir daquele momento, teria marcado na História do Brasil a ruptura com a tutela portuguesa.

O saudoso ministro da era Vargas, Gustavo Capanema, costumava dizer que na política existem fatos e versões. E o que vale são as versões! Na Independência do Brasil, a história ficou com a versão do fato.

Era normal, nas minhas aulas de História, polemizar se o grito decorreu do sonho de uma pátria independente ou da ambição de um império tropical. Até hoje fica o grito parado no ar, eternizado em rostos das figuras do nosso mestre Portinari, no romanceiro de Cecília Meireles, no samba agônico de Chico Buarque, no coração desolado das sofridas mães brasileiras.

Sob o grito da independência ressoam os gritos dos índios trucidados pela aristocracia rural colonizadora brasileira, que encaminhou a independência do Brasil com o cuidado de não afetar seus privilégios, representados pelo latifúndio e escravismo. Dessa forma, a independência foi imposta verticalmente, com a preocupação em manter a unidade nacional e conciliar as divergências existentes dentro da própria elite rural, afastando os setores mais baixos da sociedade representados por escravos e trabalhadores pobres em geral.

A independência não marcou nenhuma ruptura com o processo de nossa história colonial. As bases socioeconômicas (trabalho escravo, monocultura e latifúndio), que representavam a manutenção dos privilégios aristocráticos, permaneceram inalteradas. O “sete de setembro” foi apenas a consolidação de uma ruptura política, que já começara 14 anos atrás, com a abertura dos portos.

O grito dos excluídos ecoa neste mês dos 193 anos da independência. Ecoa na contramão dos caminhos que restauram o passado, traçados por aqueles que ainda incensam a ditadura e reforçam o apartheid social. Ecoa indignado sobre a avalanche de corrupção que ameaça nossa democracia. Ecoa por clamor de ética na política, transparência nos poderes constituídos e severa punição aos que traem os anseios do povo, inoculando-nos o medo de ter esperanças.

Hoje, sabe-se muito bem que a nossa independência se deu muito mais por interferência velada de Dona Leopoldina que propriamente pelo esforço de seu marido. Mas isso é uma outra história.

Mas independência não é só isso.

Independência nós temos que fazer todos os dias, com crianças nas escolas e fora dos faróis vermelhos das ruas,  com muita ética na política brasileira, sem preconceitos sob todas as formas. Independência é um país distribuindo terras improdutivas sem privilégios, demagogias e batalhas medievais, preservando suas florestas e matas. Independência é uma melhor distribuição de renda, direitos iguais para todos e não só privilegiando alguns. Independência é…

É isso.

Fonte: A Tribuna na Web   Edição: Xapuri

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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