“Qual o mérito educacional para o filho do presidente virar Embaixador? Me responda, por favor”

“Qual o mérito educacional para o filho do presidente virar Embaixador? Me responda, por favor”

Por Edmar Scarabello

Família é homem e , o resto é ”, diz Bolsonaro, o cristão.

País só tem espaço para os melhores”, diz Weintraub a crianças e adolescentes.

Cine Privé

Caros senhores, Bolsonaro e Weintraub, por vezes me percebo confuso em conseguir distinguir a diferença entre vossa forma de fazer política e os filmes de pornografia. Talvez porque ambas as formas me parecem com a mesma essência, a putaria.

Perdoem-me minha deficiência educacional e falta de capacidade de análise e discernimento, ou talvez por eu ainda ser um garoto virgem na puberdade onde vê sexo em tudo.

Acho tão religiosos e eróticos os valores da família tradicional do presidente. Isso provavelmente explica o motivo que ele incentiva estrangeiros a vir fazer sexo com as brasileiras, e o motivo que ele troca de esposa igual troca de cueca.

Eu gosto de . Ainda mais nessa minha fase de virgem na puberdade onde eu, assim como o presidente, também desejo comer o mundo inteiro, de preferência usando tortura. O sadomasoquismo é uma deliciosa loucura. Coisa de família tradicional cristã e do bem.

Provavelmente esses valores também explicam o motivo de existirem mais de 5 milhões de crianças no Brasil sem o nome do pai no registro, e mais de 12 milhões de mães que criam seus filhos sozinhas. Como é lindo o Maravilhoso Mundo de da família tradicional brasileira.

Para deixar esse filme erótico ainda mais romântico, o senhor Weintraub lança programas de meritocracia. Com brutal corte de verbas do orçamento da Educação, afetando desde o ensino básico até o superior, Weintraub disse que o governo vai aumentar em 50% os repasses ao Ensino Fundamental, porém, seguindo a sua lógica meritocrática, o suposto aumento será “com critérios de desempenho, não para dar dinheiro a fundo perdido”.

Isso que eu chamo de sexo selvagem. Puberdade é uma fase muito excitante. Estou excitado, mais uma vez. Nada mais confortável para um governante do que tratar milhões de crianças e adolescentes como fundo perdido. Difícil mesmo é investir para assegurar acesso à Educação de qualidade para todos, especialmente num país tão desigual, com tantos “cristãos a la Bolsonaro” fazendo filhos por aí, abandonando famílias e brincando de bom pastor para continuar comendo as ovelhinhas.

Mais difícil ainda seria o governo, ao invés de tirar o mérito de cada ser humano ser um cidadão da , combater o real problema que assola esse país. Combater a de frente, inclusive dentro da própria Polícia Federal. Combater as milícias e os traficantes de drogas que dominam inteiras e transformam milhões de crianças e adolescentes, de famílias tradicionalmente desestruturadas, em dependentes ou aviõezinhos.

Qual seria o mérito desse combate? Sobrariam milhões e milhões de verbas do governo para investir em Educação de qualidade para todos. Pena que ninguém no governo tenha “culhão” para isso, não é mesmo, senhor ministro? Melhor continuar tomando “suco de laranja” nas orgias que os senhores promovem nos bastidores.

Talvez porque tanto o senhor quanto o presidente são a representação máxima do macho alfa que gosta de comer o , mas numa suruba com as milícias, traficantes e banqueiros são os senhores que acabam sendo comidos.

O senhor como ministro da Educação é um excelente economista. Pena que, ao invés de combater os juros abusivos dos bancos que batem recordes e recordes de lucro num país quebrado economicamente, escravizando a alma da de tanta gente humilde e assalariada, o senhor prefira separar essa gente e classificá-la como “fundo perdido”.

 
Em anexo uma foto do meu desempenho escolar quando eu estava no ensino fundamental. Se eu fosse depender do governo, eu teria me tornado um fundo perdido.
Peço para o senhor ministro não reparar meus erros de português, até porque o senhor não tem mérito nenhum neste quesito, mas, mesmo assim, se tornou ministro da Educação. Ironia ou putaria do destino? Qual o mérito educacional para o filho do presidente virar Embaixador? Me responda, por favor.
Para o presidente da família cristã tradicional eu gostaria de dizer que eu preferiria ser um filho adotado por um casal de gays do que tê-lo como pai. Talvez porque eu prefira estar num ambiente que as pessoas chamam de “lixo de família” do que ser um lixo de pessoa feito nosso presidente.
Para aqueles que só entendem a realidade através da música e da arte, finalizo com um trecho da música “Mama África”, do cantor, compositor e fundo perdido, Chico César.
“Mama África
A minha
É mãe solteira
E tem que
Fazer mamadeira
Todo dia
Além de trabalhar
Como empacotadeira
Nas Casas Bahia…
Mama África, tem
Tanto o que fazer
Além de cuidar neném
Além de fazer denguim
Filhinho tem que entender
Mama África vai e vem
Mas não se afasta de você…”
Gostou do filme de hoje no Cine Privé? Eu gozei.
Edmar Scarabello
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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