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“O ano em que eu completei 21 anos – e o FICA não. Viva o Festival de Cinema de Goiás!”

“O ano em que eu completei 21 anos – e o FICA não. Viva o Festival de de !”

Por  Mariana de Lima

Nos meses de Agosto e Setembro é quando em casa as serras e os morros queimam. Quando a casa inteira amanhece cheia de cinzas e a pele sangra com a secura que machuca.

Nasci no mesmo ano em que aconteceu pela primeira vez na o Festival Internacional de Cinema Ambiental. Acontecimento que por duas décadas movimentou uma cidade inteira, que fez os grupos de estarem nas ruas, os rios e as imagens virarem tema, que fez sair da boca das , de forma natural e íntima, palavras e gestos de cinema. A Cidade espera como quem espera a chuva, que mesmo quando demora chega, que vai chegar o FICA.

E foi no início deste ano que a notícia chegou. Arbitrária e violenta, como todas que vêm deles. O FICA não aconteceria. Anunciaram o sepultamento de um festival de 20 anos.

Nos meses de Agosto e Setembro é também quando em casa os ventos são ventos de pipa, quando os ipês começam a esbravejar no cerrado seco.

E hoje vai acontecer o que talvez seja a mais importante exibição do De Pássaros e Infância: Maria. Esse filme que escrevi quando ainda estava na e que virou imagem como resultado de um curso no IFG, com incentivo de uma ação do FICA e com esforços de professoras e colegas e da família.

Hoje vai acontecer sua mais importante exibição. Primeiro porque o retorno do filme para casa é sempre outra coisa. Segundo porque vai ser exibido no FESTIVAL DE GOYAZ. O primeiro. A resposta. A reação certeira. Se vão cortar e estancar e tentar não permitir que o FICA aconteça: fazemos nós. Celebro aqui a força e a coerência dos que puxaram esse movimento na Cidade e que reagiram tão bravamente a truculência dos coronéis que se forçam ao governo e tentam cavar a cova daquilo que temos de mais precioso.

E ao falar em cova não posso deixar de lembrar que nessa semana teve uma sessão com Kleber e Juliano e Emilie – e agora falo da casa de cá, a UFF – de Bacurau, esse filme gigante que é uma de ao . Penso que é momento de fazermos isso, escrever nossas cartas, não deixar sem resposta o autoritarismo e a tirania.

Quando entrou setembro, nesses tempos de enormes angústias, me senti abraçada, ora pelo amor, ora pela fúria dos amigos que me cercam – essa fúria direcionada que mobiliza tanto e que nos torna capaz de reagir.

Viva o cinema brasileiro! Viva o Festival de Goiás! Viva Bacurau! Viva a universidade pública e os institutos federais!

de Lima  –  Estudante de Cinema na Universidade Federal Fluminense

Do Facebook da Marina Sant’Anna

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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