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Abelhas nativas, abelhas sem ferrão

ABELHAS NATIVAS, ABELHAS SEM FERRÃO

nativas, abelhas sem ferrão

O Brasil tem mais de 300 espécies de abelhas nativas. Também conhecidas como melíponas, nossas abelhas originárias formam seus ninhos em ocos nos troncos das árvores, se alimentam do pólen que elas mesmas extraem das e apresentam uma característica que é só delas, não têm ferrão…

Por Eduardo Pereira

Para sobreviver, elas dependem da conservação de seus habitats naturais, que são principalmente as matas e as florestas. Existem hoje muitas espécies ameaçadas, com algumas delas sobrevivendo apenas nos meliponários. Uma das alternativas para a conservação das abelhas sem ferrão é, portanto, a meliponicultura.

No Brasil, alguns estados do , como , Rio Grande do Norte e Pernambuco, têm polos bem sucedidos de meliponicultura, baseada na produção de mel por espécies locais, entre elas a jandaíra, a tiúba e a uruçu. Também são comuns nos meliponários, a jataí, a marmelada, a mirim-guaçu, a mirim-preguiça, a iraí e a mandaguari contribuem para a excelência da produção do mel nordestino advindo de abelhas originárias.

O Programa Nacional de Abelhas Nativas (PNAN), da Universidade Federal do Maranhão (), em parceria com a Amavida – Associação Maranhense para a Conservação da Natureza (), sistematizou uma lista dos principais tipos de abelhas nativas e de suas especificidades:

 Melipona scutellaris – uruçu, urussu, urussu-boi, irussu, eiruçu, iruçu: é uma abelha grande, famosa por seu porte avantajado, que poliniza culturas de abacate, pimentão e pitanga, e é encontrada na região Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Sergipe).

Na Bahia é uma espécie bastante explorada devido à facilidade de criação e à excelente produção de mel. Embora esteja sendo amplamente distribuída para além de suas áreas limites por meio do tráfego ilegal, é reconhecida como ameaçada de extinção nas suas áreas de distribuição natural (fragmentos de  do Nordeste).

Melipona quadrifasciata – mandaçaia, mandassaia, mandasái, manassaia, amanassaia: essa espécie se adapta muito bem às regiões Sul             e Sudeste do país e tem grande incidência em toda a Costa Atlântica. É uma abelha robusta que poliniza culturas de abóbora, pimentão, pimenta-malagueta e tomate.

Melipona fasciculata – uruçu-cinzenta, tiúba, tiúba-grande, jandaíra-preta-da-Amazônia: as abelhas dessa espécie são também excelentes produtoras de mel, havendo registros de colônias estocarem até 12 litros por ano. Encontrada no Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil (Maranhão, Mato Grosso, Pará, Piauí, Tocantins), a espécie é importante na polinização de açaí, berinjela, tomate e urucum.

Melipona rufiventris – uruçu-amarela, tujuba, tujuva: é comum nos estados da Bahia, de , Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Piauí, e no Tocantins. Seu mel é muito saboroso, por isso muito procurado. Dependendo do tamanho da colônia, e em uma área de boa florada, conseguem produzir até 10 kg de mel ao ano. É uma espécie reconhecida como ameaçada de extinção, porque suas áreas naturais de      distribuição (cerradão) estão desaparecendo.

Nannotrigona testaceicornis – iraí: abelha , pertencente à tribo dos Trigonini, é encontrada principalmente em zonas tropicais (Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo). Também constrói ninhos em muros de concreto, blocos de cimento e tijolos, adaptando-se bem às áreas urbanas.

Tetragonisca angustula – , virginita, virgencita, angelita, abelha-ouro, mariita, mariola, jataí, españolita, inglesa, mosquitinha-verdadeira, my-krwàt, jimerito, ramichi-amarilla, moça-branca, jatahy-amarelo, três-portas, jatihy, jataí-pequeno, jatay, jaty, jatahy, mosquito-amarelo: abelha indígena, pertencente à tribo dos Trigonini, amplamente distribuída na América tropical (Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela, Guianas, Suriname, Honduras, Nicarágua, Guatemala, Panamá,         Costa Rica, México).

É uma espécie que se adapta bem a ambientes urbanos. Talvez seja a mais criada nacionalmente, pela facilidade de adaptação          em caixas e porque requer pouco espaço. Seu mel é denso e muito apreciado. A sabedoria popular indica o mel de jataí para o tratamento da visão.

Além de contribuir para a preservação das espécies e para a conservação da natureza, a criação racional de abelhas sem ferrão tem-se tornado uma excelente alternativa de geração de renda para a agricultura familiar, as nações indígenas, as comunidades quilombolas, extrativistas e para outros povos tradicionais.

Para quem quiser saber mais sobre abelhas sem ferrão, ou criar seu próprio meliponário, a Embrapa Meio Norte (https://www.embrapa.br) disponibiliza o folheto “Criação de abelhas sem ferrão”, com informações sobre a escolha das espécies, a instalação e o cuidado com as colmeias, a produção de mel, além de citar  bibliografia para mais consultas.

Imagem de Capa: CPT

Eduardo Pereira –Sociólogo.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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