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O VALOR ECONÔMICO DA BIODIVERSIDADE PRESERVADA

O VALOR ECONÔMICO DA BIODIVERSIDADE PRESERVADA

O valor econômico da biodiversidade preservada

O acesso às informações relacionadas ao tema da conservação da biodiversidade e a habilidade de incorporá-las é uma tarefa complexa e desafiadora para a maioria dos gestores públicos.

Por Marina Cioato

A real compreensão dos benefícios de investir em oportunidades em prol do patrimônio natural nas cidades exige, sobretudo, visão de futuro.

Atualmente as consequências da degradação ambiental são tangíveis e os prejuízos bastante significativos. Curitiba (PR), por exemplo, mundialmente conhecida e afirmada como capital ecológica, nunca passou por uma crise hídrica tão profunda como a atual. Os efeitos das mudanças climáticas e as consequências desses eventos extremos nunca estiveram tão presentes nas agendas de lideranças nacionais. O mundo jamais se viu em uma pandemia com consequências tamanhas como a Covid-19, que já se sabe tem origem em um desequilíbrio da relação humana com a natureza.

A necessidade de mudança no paradigma econômico, de maneira a envolver modelos que considerem o cenário de mudanças climáticas, é fato cada vez mais concreto. Nas últimas semanas, Angela Merkel, chanceler da Alemanha, anunciou que o governo deve investir em estímulos à proteção do clima para a recuperação econômica do país pós pandemia.

Ainda, Marieke van Doorninck, prefeita de Amsterdã, na Holanda, anunciou que o princípio da reestruturação econômica da cidade será o de prosperar em equilíbrio com o planeta, baseado numa economia mais justa e solidária.

No Brasil, prefeitos de três capitais que participam do C40 Cities (um grupo de grandes cidades mundiais, empenhado em debater e combater a mudança climática), se comprometeram no último dia 11 com um cenário de investimentos em uma economia mais sustentável para os próximos anos, iniciativa acompanhada por outras 32 cidades de todo o mundo.

A conservação de áreas naturais é um instrumento para mitigação de riscos, para a consolidação do compromisso público com um assunto de interesse e impacto coletivo, que cada vez mais suscita a atração de novos negócios e gera benefícios duráveis que incluem bem-estar coletivo, capacidade de resiliência das cidades e perenidade de serviços ecossistêmicos. No entanto, o tema ainda é discutido de forma tímida e os compromissos apontam estratégias esparsas nesta direção.

A expectativa é clara: padrões de governança pública e de negócios que se aproximem do conceito de produção de natureza terão êxito nos próximos anos. Instituições e governos que já compartilhavam desta percepção devem assumir um papel de protagonismo e liderança ao fornecer modelos que possam ser compartilhados e replicados em diferentes contextos.

Um importante case neste sentido é compartilhado pelos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. A região concentra mais de duas milhões de áreas bem conservadas do bioma Mata Atlântica. Estas florestas garantem ainda o fornecimento de água a diversos municípios incluindo duas das grandes metrópoles do país (São Paulo e Curitiba), segurança a importantes negócios como o Porto de Paranaguá, oportunidades a inúmeros mercados locais com turismo, além de um standard de qualidade de vida incomparável a outras cidades brasileiras.

Neste território, governantes, lideranças sociais, pesquisadores, empresas, representantes do terceiro setor e sociedade civil já trabalham há anos para estabelecer um modelo de negócio que permita e favoreça a conservação da biodiversidade. O planejamento de objetivos, metas e indicadores compartilhados sob a iniciativa chamada de Grande Reserva Mata Atlântica fornece uma janela de oportunidades a novos investimentos e representa um modelo consistente e amparado por resultados sólidos para ser constituído em outras regiões do mundo.

Nos próximos anos, os governos devem tratar a biodiversidade como um tema econômico. A constituição de parcerias com negócios e o estabelecimento de uma agenda de responsabilidade comum devem ser o foco de atuação. Cases como a Grande Reserva Mata Atlântica fornecerão novos quadros de atuação. A valorização do patrimônio natural será o core business, afinal, a manutenção de negócios também depende diretamente da biodiversidade e demais serviços ecossistêmicos.

Sendo assim, negócios que ainda enxergam haver dicotomia entre natureza e desenvolvimento devem perder cada mais espaço. A evolução de iniciativas que incorporem a conservação de serviços ecossistêmicos será preconizada e a percepção de um futuro viável, racional e produtivo deve ser uma meta plenamente perseguida, gerando um legado de oportunidades e benefícios. Assim espera-se.

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p style=”text-align: justify;”>Marina Cioato é assistente de comunicação da SPVS

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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