A Cantiga das Lavadeiras é Música que Ecoa na Floresta

A Cantiga das Lavadeiras é que Ecoa na

Onã , a poeta do cuidar, cuida e dedica seu talento às lavadeiras. Utilizando-se do poema fluido, lírico e livre, vai apresentando aos nossos sentidos o ofício da lavadeira. Seus costumes, suas vestimentas, sua comida e a alegria do encontro – lavadeira e rio. Onã nos faz apreciar o ofício e a , além do simples ato de lavar a roupa, conseguimos, pelo seu cordel ver “a alma de lavadeira”

Arrastando a alpercata de couro

Lá vem a lavadeira

A Rainha Equilibrista

E sua coroa de algodão

Uma trouxa balofa na cabeça

E uma lata de farofa na mão.

 

Cantarolando, some pela estrada

Atrás da procissão de lavadeiras

Caleja os pés no cascalho

Até encontrar o riacho risonho

Que corre às gargalhadas

E abraça o

cantando chuá, chuá!

 

A rainha do rio senta-se no trono

Uma pedra gorducha e cascorenta

Brinca com as piabas, conta .

Assobia com os passarinhos

O refrão das mulheres que lavam:

Ensaboa, esfrega

bate e torce.

 

Ajoelhadas, estas mulheres reinam nas águas

Reverentes, diante do quaradouro

– o altar verdejantemente carinhoso

Beija muda por muda de roupa

Deixando-as brancas, brilhantes,

cheirosas,

como a alma de lavadeira.

 

[authorbox authorid=”” title=”Sobre a Autora”]

 


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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