A casa de Jorge e Zélia, a casa do Rio Vermelho
Na casa de Jorge e Zélia, a casa do Rio Vermelho, a arte está nos Caribés pendurados, no chão salpicado de cacos quaisquer cobrindo caminhos que entremeiam o quintal, que é jardim e bosque.
Está nos cestos de palha do teto da cozinha, na biblioteca escancarada, na estante das bonecas de pano que têm caras e nomes, nos pratos de iguarias da cozinha baiana e por todo canto de todos os cantos, misturados aos cantos dos pássaros que continuam a cantar.
Zélia e Jorge Amado? Presentes!
Por Laurenice Noleto e
A Casa do Rio Vermelho é o m 1961 e fechada em 2003, tornou-se um memorial aberto ao público, graças a uma parceria entre os herdeiros e local onde viveu Zélia Gattai (1916-2008) e Jorge Amado (1912-2001), no número 33 da Rua Alagoinhas, no bairro do Rio Vermelho, em Salvador, na Bahia.
Desde 2015, a casa, compradaherdeiras do casal e a Prefeitura de Salvador.
Com seus 20 espaços temáticos, vídeos, efeitos de som e interatividade com o público, o memorial conta histórias da vida de Jorge e Zélia, que viveram apaixonados por mais de 50 anos. Dentre elas, a história do jardim onde foram depositadas as cinzas dos dois escritores.
A DECLARAÇÃO DE AMOR MAIS LINDA DA FACE DA TERRA
“Para mim, nem Amado, nem Gattai, apenas Zélia, quando não Zelinha.”
Após trinta anos de vida em comum, de amigação – gosto demais da palavra amigação, usada para nomear o que o código de família denomina concubinato, tenho aversão à palavra concubinato, má e feia, filha do preconceito e da discriminação -, Zélia requer, no uso da lei, o direito de usar meu sobrenome, assinar-se Amado.
Na Bahia perde a causa, o juiz encagaçou-se ignomínia; em São Paulo ela a ganha, junta Amado a seu nome de solteira.
Não tarda, Nelson Carneiro vence a guerra do divórcio, eu e Zélia nos casamos.
Três anos depois, dona Zélia sai do sério, escreve e publica um livro, ‘Anarquistas, graças a Deus’, em cujas páginas narra sua infância filha de imigrantes, italianos anarquistas e católicos, no quadro de uma São Paulo afarista onde nasciam o capitalismo com os matarazzos e os crespi e o movimento operário na sede das Classes Laboriosas e de outros grêmios culturais e reivindicados.