Economia Verde: Desafios e Riscos para a Sustentabilidade Global
A economia verde tem sido amplamente promovida como uma solução para os desafios ambientais e de sustentabilidade que enfrentamos atualmente.
Por Gilney Viana
No entanto, há duas questões cruciais que a economia verde não resolve adequadamente, e que nos expõem a riscos elevados. Esses desafios são a questão da desigualdade e os limites da capacidade ecológica da Terra.
Desigualdade e Consumo: Um Desafio Ignorado pela Economia Verde
Um dos maiores problemas da economia verde é que ela não aborda de forma eficaz a questão da desigualdade. A ideia de igualdade está em desacordo com o nível de consumo elevado dos mais ricos. Em média, um cidadão americano consome cerca de seis vezes mais do que um cidadão indiano.
Para alcançar a igualdade, seria necessário impor limites significativos ao consumo, algo que o atual sistema econômico, com seu foco na acumulação e no consumo ilimitado, recusa a aceitar.
A manutenção de padrões de consumo elevados pelos países ricos é incompatível com a promoção de igualdade global. A economia verde, ao promover práticas sustentáveis, muitas vezes ignora a necessidade de redistribuição de recursos e a implementação de limites ao consumo.
Sem uma abordagem que equilibre consumo e desigualdade, os esforços para uma economia mais verde podem ser insuficientes para enfrentar os desafios globais de maneira eficaz.
Limites da Terra e a Pegada Ecológica: A Necessidade Urgente de Redução de Consumo
A pegada ecológica da Terra está chegando a limites críticos. Se tentássemos universalizar o nível de consumo dos países ricos, precisaríamos de três planetas iguais à Terra para suportar a demanda.
Atualmente, estamos forçando a Terra além de sua capacidade de regeneração, resultando em eventos climáticos extremos como tufões, secas, enchentes e tsunamis. Esses eventos são respostas da Terra à pressão ambiental excessiva que estamos impondo.
A economia verde precisa, portanto, reconhecer e agir sobre a necessidade urgente de redução do consumo. Em vez de apenas implementar soluções tecnológicas ou práticas sustentáveis, é crucial adotar uma abordagem que inclua a diminuição do consumo e a promoção de uma sociedade mais compartilhada e equitativa.
Sem essas mudanças, os limites ecológicos da Terra serão superados, e as consequências podem ser catastróficas para a vida no planeta.
A Economia Verde e a Mercantilização dos Bens Naturais
Outro aspecto problemático da economia verde é a tendência para a mercantilização dos bens naturais. A voracidade das grandes corporações em lucrar com os recursos naturais pode levar à exploração de bens comuns essenciais para a vida, como água, aquíferos, rios, oceanos, atmosfera, sementes, solos, terras comunais, parques naturais, paisagens, línguas, ciência, informação genética, meios de comunicação, internet, saúde e educação.
Esses bens são fundamentais para a sobrevivência e o bem-estar da humanidade e não deveriam ser transformados em mercadorias para fins de lucro. A ideia de pôr um preço sobre os bens e serviços que a natureza oferece gratuitamente, e privatizá-los com a intenção de lucro, representa uma falha ética e prática da sociedade de mercado. Essa abordagem ignora o valor intrínseco desses recursos e coloca em risco a integridade ecológica do planeta.
A Mercantilização da Natureza: Exemplos e Consequências
A mercantilização dos recursos naturais não se limita apenas à exploração direta de matérias-primas. Por exemplo, a madeira da Amazônia não é apenas valorizada por seu valor material, mas também por sua capacidade de criar biodiversidade e umidade.
Da mesma forma, não se trata apenas de lucrar com o mel das abelhas, mas também de explorar sua capacidade de polinização. A transformação de bens e serviços naturais em commodities para o mercado é uma característica da economia verde que merece crítica e revisão.
O Perigo da Economia Verde como um Último Assalto à Natureza
Se a tendência atual da economia verde prevalecer, corremos o risco de enfrentar um desastre ambiental irreversível. A mercantilização desenfreada e a falta de limites ao consumo podem levar a um colapso ecológico, tornando impossível a sobrevivência das futuras gerações.
A destruição dos recursos naturais e a degradação ambiental não só ameaçam o presente, mas também comprometem o futuro da humanidade.
A economia verde, se não for reformulada para enfrentar esses desafios, pode se transformar no último grande assalto dos humanos vorazes e biocidas sobre a natureza. A tendência de tratar os bens naturais como commodities pode levar a uma crise ambiental tão profunda que nem mesmo as futuras gerações terão um mundo habitável para viver.
O caminho para um futuro sustentável exige uma abordagem mais integrada e ética, que vá além da mera sustentabilidade superficial e se concentre na preservação real e na justiça social.
Caminhos para uma Economia Sustentável e Justa
Para garantir um futuro sustentável, é essencial que a economia verde evolua para abordar as questões fundamentais da desigualdade e dos limites ecológicos.
A promoção de uma sociedade mais equitativa e a redução do consumo são passos cruciais para evitar a sobrecarga dos recursos naturais e os impactos negativos associados à mercantilização.
A economia verde deve adotar uma abordagem holística, que reconheça a interdependência entre justiça social e sustentabilidade ambiental.
Somente através de um compromisso genuíno com a equidade e a conservação dos recursos naturais poderemos construir um futuro em que as próximas gerações possam prosperar em um planeta saudável e equilibrado.