A fragmentação da luta sindical só interessa aos inimigos da classe trabalhadora

A fragmentação da luta sindical só interessa aos inimigos da classe trabalhadora

A extraordinária importância do movimento sindical nos combates que virão

José Álvaro de Lima Cardoso

O governo Bolsonaro apressa-se contra o tempo. Eleito através de uma descarada fraude (agora comprovada pelas revelações da Vaza Jato), decorrência do golpe de que tirou Dilma Roussef do poder em 2016, esse governo só conseguirá manter o apoio de quem o colocou lá, se aprofundar severamente a destruição de direitos e a entrega das riquezas nacionais. Operar isso, significa aumentar muito o grau de exploração, e de sofrimento para cima da população, num país onde o salário médio está em torno de R$ 1.500,00 (setor privado), e onde quase cinquenta milhões de patrícios dependem do Bolsa Família para não passar .

Além de ser um governo sem autoridade e legitimidade para realizar tais políticas, por ter sido eleito através de fraude, a não está ajudando. Após dois anos de uma das maiores recessões do país (2015/2016), a economia está há três anos patinando em torno de 1% de crescimento. Não só não veio a recuperação que prometiam, como segue velozmente a destruição da economia, com muitas falências e uma piora dramática nas condições de emprego e renda dos trabalhadores.

Claro que as revelações feitas pelo The Intercept, que desmascaram a cada semana a atuação criminosa da Lava Jato, pioraram muito a situação para um governo que é fruto daquela operação. A podridão da operação fica mais evidente a cada semana que passa. Está agora evidente a articulação com os EUA, a falsificação de provas e o uso ilegal destas, a seletividade política e ideológica, a permanente tentativa de derrubar forças que não estão alinhadas com os EUA e de conquistar mercados para a atuação das empresas dos EUA, a facilitação da apropriação das reservas do pré-sal, para empresas estrangeiras. Essas denúncias já vinham sido feitas há vários anos, mas a Vaza Jato trouxe as provas que faltavam, que são na prática, confissões dos transgressores da lei.

 

Há uma monumental crise, caracterizada por baixo crescimento, praticamente no mundo todo. Mas nos países onde houve golpes, a retomada do crescimento é ainda mais complexa, em função da absoluta ilegitimidade dos governos. No caso do Brasil a situação se agrava pela total bizarrice do núcleo de poder, para uma ação política e econômica mais eficiente, que possibilite à economia, retomar. Crescimento de 1% num país já estagnado há vários anos, é gravíssimo. O fato de que a economia, desde o golpe em 2016, não engatou um ciclo de crescimento, por modesto que fosse, e esse é elemento decisivo na conjuntura. Se o produto estivesse crescendo e a economia gerando empregos, o governo Bolsonaro – mesmo na condição de ser o mais incompetente da , e com tendências fascistas crescentes – poderia angariar alguma legitimidade para realizar aquilo para o qual lá foi colocado.

Apesar das dificuldades de se pensar cenários econômicos mais taxativos para os próximos meses, em qualquer deles as organizações sindicais (que resistirem) serão ainda mais fundamentais. Não conseguiremos enfrentar este turbilhão de desafios de forma isolada, pois desemprego, falta de dinheiro, falta de esperanças, não podem ser vencidos de forma individual. Esses problemas só conseguirão ser combatidos de forma eficaz através da organização coletiva, principalmente a sindical, que atua na esfera fundamental, que é a econômica. O isolamento e a fragmentação da luta só interessam aos inimigos da classe trabalhadora.

É verdade que não houve esforços sistemáticos, por parte da maioria das entidades sindicais, para mostrar que as conquistas obtidas ao longo da história são fruto de sangue, suor e lágrimas. Se não se revela didaticamente aos beneficiários que as conquistas são fruto de processos políticos específicos, as pessoas não têm como saber e não valorizam os direitos conquistados. É como se estes estivessem escritos em pedra nas santas escrituras. Especialmente considerando o fato de que a no Brasil é dominada por um sistema oligopolista de mídia, conservador e extremamente subserviente aos interesses externos. Ademais, não ocorreu a organização dos segmentos beneficiados com as melhorias que ocorreram no período anterior ao golpe de 2016, como por exemplo, a dos beneficiários do bolsa família.

Sem organização dos trabalhadores através de , não haveria regulamentação da jornada de trabalho, salário mínimo, seguro desemprego, sistema público de saúde e demais conquistas sociais, obtidas à duríssimas penas ao longo da história mundial do trabalho. Os que perpetraram o golpe entendem isso perfeitamente, razão pela qual estão bombardeando ações que visam destruir as entidades sindicais. A organização sindical é a melhor ferramenta dos trabalhadores brasileiros contra o , contra a pilhagem do pais, contra a destruição dos direitos trabalhistas e a pública. É a melhor ferramenta também contra a entrega das reservas de , a matança da população pobre, dos índios e , dos negros. Nesse momento, a organização e a luta são as melhores ferramentas também contra a destruição do Brasil enquanto nação soberana, que é o que está em jogo neste momento.

*Economista

Fonte: Facebook

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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