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A incrível não desaparição dos brasileiros em um mundo em pandemia

A incrível não desaparição dos brasileiros em um mundo em pandemia

A incrível não desaparição dos brasileiros em um mundo em pandemia

Por Kleytton Morais

Na edição de fevereiro da revista Xapuri, o Sindicato dos Bancários do Distrito Federal trouxe uma discussão sobre um novo vírus que havia deixado a China paralisada, sobre como seria a situação do SUS e quais seriam as perspectivas caso ele aqui chegasse. No dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial de (OMS) decretou um estado de pandemia em relação ao novo coronavírus e a doença . Agora, já temos um cenário no Brasil de rápido contágio, com a perspectiva de esgotamento do sistema sanitário nos próximos meses.

A falta de contato físico é o que existe hoje, em todo o mundo, para evitar a contaminação. Um dos grandes gargalos no nosso país é de fato promover o isolamento social em um cenário político em que o presidente desacredita dessas medidas, dizendo explicitamente que a economia é mais importante do que a vida humana. Outra grande dificuldade encontrada para a efetivação do isolamento social é que grande parte da população brasileira vive de trabalhos informais e de serviços prestados sem garantia contratual, então o isolamento zera a renda. Destaca-se que a previsão da OMS e da maioria dos governos mundiais é que não venceremos a pandemia neste ano.

Estima-se que o pico maior seja, no Brasil, ainda neste primeiro semestre, mas em todos os cenários a expectativa é de que aproximadamente 70% da população mundial será contaminada. O que se espera, com as medidas de isolamento social, é que menos pessoas sejam contaminadas ao mesmo , ou seja, que haja o achatamento da curva, o que evitaria uma sobrecarga ao sistema de saúde. Se for possível atender a todos que precisem de respiradores, por exemplo, haverá menos mortes. O que ocorre na Itália hoje é que a falta de equipamentos médicos exige que os profissionais de saúde tenham que escolher em quem colocar os aparelhos disponíveis, acarretando mortes que talvez pudessem ser evitadas.

Tal perspectiva reacendeu no Brasil a discussão sobre a renda mínima universal. A renda mínima garante uma quantia mensal para todos os cidadãos de um país, em detrimento de políticas mais focalizadas, como é o Bolsa Família ou o auxílio emergencial aprovado há pouco pelo governo. Os defensores de políticas universais defendem que esse tipo de auxílio não deveria ser emergencial, mas de fato um direito. Os argumentos variam para a fonte de recursos, como a taxação de grandes fortunas, de grandes heranças, renda proporcional dos milionários, bem como o retorno da taxação de dividendos recebidos de empresas.

A chamada medida emergencial aprovada pelo governo e que teve a iniciativa dos deputados federais, oferece um pequeno alívio financeiro aos trabalhadores mais afetados pelo covid-19. A estimativa é que o benefício possa atingir 100 milhões de cidadãos: os beneficiários do Bolsa Família, os já inscritos no Cadastro Único Federal, os trabalhadores informais e os Microempreendedores individuais (MEI) que tenham renda familiar per capita inferior a meio salário mínimo ou três salários mínimos no total. Até o fechamento deste artigo, quase 30 milhões de brasileiros já haviam se cadastrado.

Uma inovação institucional importante é que mães de família que sejam monoparentais podem receber duas parcelas do benefício, que é de R$ 600 mensais pelo período de três meses, podendo ser prorrogado. As famílias beneficiárias do Bolsa Família podem optar pelo benefício emergencial nesse período. O aplicativo foi criado pela Caixa Econômica Federal e permite o cadastramento e recebimento sem deslocamento até os bancos. Quem não tiver conta em banco poderá criar uma, livre de taxas ou outros custos, também na Caixa, e a expectativa é de que até 30 milhões de pessoas o façam. Um acordo do governo com a Febraban garante que o dinheiro depositado não será usado para cobrir pendências anteriores.

A iniciativa, que demorou a ser sancionada, é uma vitória para a população, mas não resolve o problema conjuntural e estrutural de profunda da sociedade brasileira. Aliás, o isolamento social torna evidentes essas desigualdades, trazendo incômodo para toda a sociedade. As populações pobres, incluindo indígenas e quilombolas, precisam de medidas diferentes para enfrentar a pandemia, medidas que atendam a sua realidade específica, medidas de proteção social e socioambientais. O que a população precisa é de um conjunto de ações estruturadas em várias frentes. Mais uma vez, o apoio da sociedade civil em campanhas solidárias pode ser um recurso decisivo. Como a resposta das favelas tem mostrado, a principal saída para combater o coronavírus hoje vem de baixo para cima, a partir de iniciativas da sociedade civil ou do ativismo.

O sindicato dos trabalhadores de estabelecimentos bancários do DF lança o projeto Campanha de bancária de combate ao corona. O objetivo é mobilizar, sensibilizar e promover medidas de enfrentamento aos efeitos sociais do Covid-19, com o desafio de transformar o paradigma de valores na sociedade. Foca-se no incentivo a ações humanitárias, acreditando-se que a emoção da solidariedade possa desencadear um exercício pedagógico capaz de superar o individualismo, sensibilizando e ampliando os gestos solidários, enquanto prática e compromisso diários.

O movimento consiste na criação de um fundo que financiará a aquisição de suprimentos básicos, capazes de garantir alimentar e proteção à exposição ao coronavírus, visto que a medida permite o cumprimento em segurança da quarentena e do isolamento social, cruciais à proteção de toda a sociedade.
O Sindicato conclama bancárias e bancários, sócios e ainda não sócios, e sociedade em geral, a exemplo da feliz campanha do Betinho “Quem tem fome, tem pressa”, a doarem valores cujo parâmetro corresponde a um dia do vale-refeição, ou seja, R$ 36,69, uma conquista histórica e assegurada nos acordos coletivos e na convenção da categoria.

Além da abordagem direta, ligando para cada bancária e bancário, a ideia é expandir a publicidade para toda a comunidade. A Campanha arrecadará recursos com o objetivo de promover ações de atendimento coletivo: apoiar entidades ou pessoas por meio da destinação ou entrega de gêneros alimentícios in natura ou processados; mobilizar, com máxima segurança, brigadas de solidariedade, grupos de voluntários na categoria, dirigentes sindicais e funcionários, de maneira a processar alimentos e distribuir às pessoas e comunidades em situação de vulnerabilidade, com sugestões de beneficiários a partir da comunidade bancária. A solidariedade social é importantíssima neste momento, para não entrarmos em colapso enquanto sociedade.

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Kleytton Morais- Líder Sindical. Presidente do Sindicato dos Bancários de Brasília.

 


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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