A lenda da Mãe-do-ouro

A LENDA DA MÃE-DO-OURO

A lenda da Mãe-do-Ouro

Contam os mais antigos que desde meados do século 18, tempo do Ciclo do Ouro, a Mãe-de-Ouro, ou Mãe-de-Ouro,  anda pelo interior do Brasil, especialmente nas regiões onde existe o cobiçado metal. Aqui em não há quem já não tenha ouvido falar nela.

Por Lúcia Resende 

Tida como grande defensora da , a entidade aparece sob a forma de uma bola de fogo, pairada no ar, indicando os locais onde se encontram jazidas de ouro que não devem ser exploradas.

Dizem que é uma espécie de protetora desses depósitos naturais de ouro e que graças a ela ainda não devastaram tudo. Todo garimpeiro sabe que a desobediência ao aviso é certeza de infortúnio. E dizem também que poucos usam desobedecê-la.

Em muitos lugares do brasil, a Mãe-do-Ouro toma a forma de uma mulher bonita que habita cavernas e locais sombrios, e, após atrair homens que maltratam as esposas, os faz largar suas famílias, mas trata de não deixar a mulher sofrendo, e coloca outra pessoa em seu caminho.

A lenda diz que a Mãe-do-Ouro é ainda mais implacável ao saber de um caso de contra a mulher. Aí, durante a madrugada, a bola de fogo se transforma em uma belíssima mulher, trajada com um vestido longo de seda e com cabelos dourados refletindo muita luz, e sai voando pelos ares até o local onde a sofredora mora com seu algoz.

Usando do seu fascínio, atrai o malvado e o leva para uma caverna de onde nunca mais o liberta.

Desaparecido o fulano, ela trata de colocar outra pessoa na da mulher, um companheiro ou companheira de verdade, para partilhar conquistas e enfrentar as lutas cotidianas.

Eu mesma, nunca vi. Mas não sou garimpeira e nem homem que maltrata mulher. Mas, considerando quem me contou, não posso duvidar que exista.

A LENDA DA MÃE-DO-OURO
Brasil

Como é representada Mãe-do-Ouro 

 Por se tratar de uma lenda, com mais de dois séculos de existência, diversas versões existem sobre a aparência da Mãe-de- Ouro, mas geralmente ela é representada como uma bela mulher, vestida de branco e com cabelos dourados.

Ela também pode se manifestar como uma bola de fogo, que aparece por breve tempo ou ainda como uma estrela cadente.

Em pesquisa realizada em São Paulo, Augusto Meyer apontou que a Mãe-de-Ouro é descrita de formas diferentes no , podendo ser representada como um passarinho, lagarto, como uma bela mulher ou um facho de luz.

Em Brotas, os depoimentos coletados na pesquisa apontam a Mãe-de-Ouro como um lagarto dourado.

No vale do Rio São Francisco, em Minas Gerais, a Mãe-de-Ouro pode aparecer como uma estrela cadente ou como uma serpente encantada, semelhante ao boitatá.”

A LENDA DA MÃE-DO-OURO
Coisas da Roça

Outras Versões da Lenda da Mãe-de-Ouro

A habilidade da Mãe-de-Ouro está em encontrar tesouros escondidos ou mesmo jazidas de ouro. Sendo assim, a Mãe-de-Ouro tem o poder de voar e, portanto, consegue localizar os lugares onde há tesouros enterrados.
Por esse motivo, ela é conhecida como a protetora dos tesouros e do ouro. Além disso, é considerada protetora da natureza, principalmente dos rios e .
Mas é durante a noite que ela atua, especialmente nas noites escuras sem lua e . Sua forma de bola de fogo percorre os céus onde ela detecta exatamente o local em que há algo escondido.
Note que sua intenção não é indicar aos homens os locais onde podem ser explorados, mas sim, proteger o ouro para que ele não seja extraído. Acredita-se que por conta de sua atuação, ainda existam algumas jazidas de ouro que não foram exploradas.
Noutra versão da lenda, a Mãe-de-Ouro também cuida das maltratadas pelos maridos e, portanto, infelizes nos casamentos.
Assim, com sua beleza estonteante, ela leva os maridos indesejados para uma caverna longe de sua família. Ali, a Mãe-de-Ouro os prendem o resto de suas vidas. Igualmente, ela arruma outros maridos que farão felizes as esposas.

A Mãe-de-Ouro e o Escravo

Por fim, há também uma versão muito conhecida da lenda em que um escravo trabalhava dias procurando ouro para seu patrão cruel.

Em troca, o escravo lhe oferece o que ela havia pedido: fitas coloridas e um espelho. Além disso, a Mãe-de-Ouro deixou claro que o ajudaria, mas ele nunca deveria dizer as pessoas o local da mina. No entanto, após levar ouro suficiente para seu patrão, ele quis logo saber onde o escravo tinha encontrado.
Embora tenha tentado guardar o segredo, acabou por revelar o local, isso claro, depois de receber muitas açoitadas de seu patrão maldoso. Ao chegar no local, os escravos escavaram e finalmente encontraram o ouro. No entanto, um grande desabamento matou todos, inclusive o mineiro cruel.

Origem da Lenda da Mãe-de-Ouro

Há controvérsias sobre a da lenda, mas acredita-se que ela surgiu na época do ciclo do ouro (final do século XVII e início do XVIII).
Nesse período, a extração de ouro era a principal atividade econômica no país, que ocorreu, sobretudo, nos estados de Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais.

Explicação Científica

Alguns ufólogos investigam o aparecimento de bolas de fogo no interior do Brasil. Segundo eles, são OVNIS (objetos voadores não identificados) que aparecem nos céus nas noites mais escuras.

A LENDA DA MÃE-DO-OURO
Toda Matéria

Deixe seu comentário

UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!