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A Morte E A Esperança

A Morte E A Esperança

Por Antonio Villarreal

Tempos difíceis que estamos passando neste momento. Uma pandemia que se alastrou por todo o mundo nos fazendo voltar à história da peste negra (bubônica), na Europa, na Baixa Idade Média, entre os anos de 1347 e 1351, que causou a morte de milhões de vidas. Bem tratada com antibióticos, pode-se afirmar que está controlada.

Mas o foco deste ensaio é a morte. O fim de todo tipo de vida. A certeza da morte, por doenças, acidentes, guerras, assassinatos etc.: a única verdade que temos. Todos pereceremos, cessaremos nossa história. É o fim de quaisquer atividades biológicas. Óbito, falecimento, desencarne, um processo irreversível para a manutenção da vida na Terra.

Logo em seguida, temos a decomposição de todo o sistema vivo. No Egito antigo, a mumificação foi a tentativa de dar prosseguimento à vida. Temos também a ressurreição ou a reencarnação. E as várias interpretações sobre a vida após a morte.

Único a derrotar a morte e voltar à vida e, depois, ir ao encontro de seu pai, Deus, foi Jesus Cristo. Como sabemos e determinado em profecias, sua passagem pela vida entre os seres humanos já estava planejada e, ao final, morreu para salvar os seres humanos dos seus pecados e lhes dar uma nova chance. Lembrado todos os dias nas Missas com o ritual da Última Ceia. O pão e o vinho se tornaram a lembrança trágica de seu martírio.

Estamos sempre tentando esquecer da morte, talvez por estarmos tão apegados a nossos projetos de vida, na esperança de uma vida sem fim, na ilusão de aparecer uma tecnologia que nos façam imortais ou pelo menos estenda nossas vidas ao máximo.

Mas não adianta, a morte está sempre à espreita, a todo instante e bem do nosso lado. Sempre tem algo morrendo a nossa volta a todo momento e nem percebemos, como animais, vegetais, micro-organismos, pessoas.  “É assim mesmo, não tem saída por enquanto”, diriam algumas pessoas. A morte, a grande companheira de todas as horas e sinalizadora de que tudo tem início, meio e fim.

O ano de 2020, provavelmente, será lembrado como o ano da morte neste início do século XXI. Um ano amargo e desconfortante para todos, ricos ou pobres. Um ano que desnuda todas as mentiras construídas ao longo de nossas vidas, de um mundo de consumo sem limites, de indústrias a todo vapor, de classes abastadas achando que são diferentes e que estão livres de todas as privações e de todas as doenças. Com a busca incessante do lucro e do dinheiro fácil sem respeito às classes trabalhadoras, ao ou a qualquer limite moral e ético.

Mas a ilusão caiu por terra quando os hospitais e cemitérios ficaram abarrotados. Pessoas morrendo em grandes quantidades e sem direito a velório. Tudo por causa da pandemia da , que pegou o mundo despreparado, por irresponsabilidade de governantes e países que não deram importância a uma boa estrutura de saúde, não aplicaram as verbas dos impostos na construção de infraestrutura básica nas cidades ou deixaram a saúde para a inciativa privada, transformando em um grande negócio.

Tudo pela afirmação política de que o mundo precisa de um Estado mínimo e que a iniciativa privada consegue atender melhor. O lucro geraria prosperidade a todos. Constatamos exatamente o contrário: os ricos e seus negócios sendo atendidos em primeiro lugar e, o povo, em último. Continua triste a história das classes sociais e privilégios dos ricos.

Sob a ganância das classes abastadas, o mundo vai se reconstruindo, os principais conflitos que estavam arrefecidos aparecem com mais força, a luta contra o , contra a policial, contra a diminuição dos , contra o neofascismo.

A morte, a grande protagonista do ano, traz dentro de si a esperança de uma vida diferente daqui para a frente. De uma vida com respeito aos direitos do cidadão, ao meio ambiente, à construção de um Estado que proteja seus povos com justiça e igualdade e que afirma em alto e bom som que a Vida é e sempre será mais importante do que o lucro.

Antonio Villarreal  é Professor de história aposentado da Secretaria de Estado da do Distrito Federal

Fonte: SINPRO-DFlogo sinpro topo

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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