“A morte não adormece nos olhos das mulheres”
Por Iêda Leal
Em 14 de março de 2020 são dois anos sem Marielle Francisco da Silva (1979–2018). Dois anos sem notícias de quem mandou matar a vereadora Marielle Franco, mulher negra, favelada, feminista, rebelde, lésbica, ousada, livre e resistente.
Dois anos distante da verdade sobre o assassinato da filha de Marinete e Francisco, da irmã de Anielle, da mãe de Luyara, da moça preta da Maré, da representante do povo pobre do Rio, que a elegeu parlamentar com 46.502 votos.
Para homenageá-la, e também ao motorista Anderson Pedro Gomes, expressamos nossa indignação por meio desta frase lapidar de Conceição Evaristo, “a morte não adormece nos olhos das mulheres” e do poema “Recado”, da mineira Ana Elisa Ribeiro.
#MarielleVive em cada passo das mulheres negras neste país.
RECADO
Ana Elisa Ribeiro
astuta a morte,
que prega peças;
quantas vezes ouviste,
quando foste criança,
menina, não mexas no vespeiro!
mas a todas as meninas pretas
dizem as mesmas tolices;
e a todas as meninas, afinal.
até o dia em que,
incomodados com tanta ousadia,
executam-nas a céu aberto,
devolvendo-as ao silêncio.
tua voz, no entanto, semeia,
e o silêncio jamais será o mesmo,
cravejado de mil gritos.