A nova ordem territorial do Cerrado

A NOVA ORDEM TERRITORIAL DO CERRADO

A nova ordem territorial do Cerrado

No transcurso das últimas seis décadas, ocorreram profundas transformações econômicas, demográficas e socioculturais no conjunto do território nacional, e estas se acentuaram a partir da ascensão dos militares ao controle do Estado brasileiro, principalmente nas décadas subsequentes ao golpe de 1964, com o advento do modelo de capitalista neoliberal. 

Por Altair Sales Barbosa

Com segurança, pode-se afirmar ser a nova matriz ambiental/territorial resultante da convergência de três estratégias preestabelecidas pelo capitalismo internacional pós Segunda Grande Guerra Mundial, que impôs aos países considerados “subdesenvolvidos” uma Nova Divisão Internacional do Trabalho (NDIT) e, consequentemente, do espaço geográfico. No caso do Brasil, o objetivo pretendido foi incorporar o campo à lógica do capital financeiro – oficial e privado – internacional.  

Inicialmente, no final da década de 1940, os ideólogos pragmáticos da NDIT colocaram em prática a denominada “ Verde”, financiada por governos e instituições internacionais, a exemplo das fundações Ford e Rockefeller, do Instituto Kellogg e outras que passaram a utilizar como laboratórios experimentais os espaços regionais favoráveis de determinados países dependentes de capitais, ciência e , com o intuito de avaliar o alcance dos resultados das pesquisas científicas e tecnológicas implementadas pós-guerra. 

México, Índia, Filipinas, Ceilão, atual Siri-Lanka, entre outras nações, são exemplos de cobaias nacionais-territoriais utilizadas como área de teste das novas pesquisas agroquímicas e agro técnicas, em termos de:

  • Uso de sementes selecionadas e geneticamente modificadas;
  • Aplicação de poderosos produtos agroveterinários destinados ao combate das pragas nas lavouras e pastagens – pesticidas orgânicos e inorgânicos, inseticidas venenosos como o DDT, herbicidas, fungicidas, carrapaticidas etc. –, intencionalmente rotulados de “defensivos químicos”, sabiamente denominados pela sabedoria popular de agrotóxicos ou “ofensivos agrícolas” venenosos;
  • Incorporação de novos adubos e fertilizantes, macro e micronutrientes, destinados à correção de solos portadores de carências minerais;
  • Emprego de técnicas agrícolas mais eficientes de manejo dos solos e de utilização dos recursos hídricos;
  • Uso intensivo de equipamentos, máquinas, ferramentas e implementos agrícolas;
  • Plantio de espécies vegetais exóticas para a formação de pastagens;
  • Agregação de melhoria na reprodução genética do plantel de gado vacum, via seleção de matrizes e inseminação artificial etc.

No conjunto, todo o planejamento teorizado pelos ideólogos da Revolução Verde passa a ser colocado em prática com a finalidade de incorporar o campo à lógica do capital financeiro internacional, agregando capitais, ciência e tecnologia à grande produção agrícola e agropastoril e direcionando-a ao mercado global, principal objetivo da NDIT. 

Concomitantemente à Revolução Verde, no período de 1946-1950, o governo do Marechal Eurico Gaspar Dutra cumpria, à risca, o papel ideológico de apoio logístico à estratégia planejada ao escancarar as portas do País ao capital norte-americano, contribuindo dessa maneira para acentuar o grau de dependência política, econômico-financeira e científico-tecnológica do Estado brasileiro ao capitalismo internacional. 

No governo Vargas (1950-1954), eleito pelo voto popular, acirram-se as contradições entre as forças nacionalistas, que lutavam por um Brasil para os brasileiros, e, o lado contrário, que se posicionava contra a política do governo central e as forças populares que o apoiavam; o governo JK (1955-1960) lança o Plano de Metas – cinquenta anos em cinco – subsidiado pelo capital externo de empréstimo, centrado no desenvolvimento da infraestrutura viária, energética e industrial do território nacional, assim como da construção da nova capital geopolítica do Brasil.  

Subordinado à política de empréstimos concedidos pelos detentores do capital financeiro internacional para executar o seu ambicioso plano de governo, JK serviu aos interesses das empresas montadoras multinacionais, interessadas em viabilizar, na prática, a produção e comercialização de veículos, autopeças e acessórios, máquinas e ferramentas. Seu governo implementou o rodoviário e praticamente congelou o ferroviário. 

No mandato seguinte (1960-1964), “em que foram eleitos, com expressiva votação popular, Jânio Quadros – que renunciou após seis meses de administração pública – e Joao Goulart, vice – conduzido à presidência após intensa campanha pela Legalidade –, as contradições entre forças civis e militares se agravaram, provocando em 1964 o golpe político-militar, com a ascensão e permanência dos militares, por mais de vinte anos, no poder político do Estado brasileiro, consolidando-se, definitivamente as condições objetivas favoráveis aos magnatas do capital financeiro internacional. Em troca de empréstimos obtidos, a sucessão de governantes brasileiros vêm liberando às empresas “concessões” quanto ao uso do território.

Em 30 de novembro de 1964, o governo do general Humberto Castelo Branco, seguindo a lógica da estratégia estabelecida pelos detentores do capital financeiro internacional, sancionou a Lei n. 4.504, que implantou o “Estatuto da Terra” como modelo de reforma agrária a ser implementada em todo o território nacional, considerada de fundamental importância como suporte infraestrutural de apoio à futura regionalização do País, via Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND). 

Juntamente com a ampliação crescente da malha rodoviária nacional, criaram-se as condições favoráveis à implantação da grande empresa multinacional no meio rural brasileiro. Inicialmente, instalaram-se em forma de empresas agrícolas; depois, de complexos agroindustriais. Os agentes nacionais contratados e direcionados à produção dos monocultivos para a exportação são, em sua grande maioria, produtores sulinos – gaúchos, paranaenses, paulistas – e também mineiros e goianos.  

Estimulados a plantarem soja, milho, algodão, arroz, feijão etc. para a grande empresa, buscam novas terras agricultáveis, detentoras de fortes perspectivas de lucros imediatos. Para produzirem, passam a contar com a carteira creditícia do Banco do Brasil (BB), de que obtêm financiamentos. Em suma, o próprio capital externo emprestado ao governo brasileiro, que deveria ser utilizado para desenvolver a agropecuária de base nacional, retorna ao seu primitivo dono, acrescido de juros, taxas e correção monetária, ao ser direcionado para financiar parte dos investimentos locados na cadeia produtiva da grande empresa multinacional, instalada nas regiões preferenciais do País, ou, no dizer de Milton Santos (2000), nos “lugares luminosos”. 

Exemplo concreto é o “cinturão verde”, com destaque para a sojicultura (6,5 milhões de toneladas em 2003) que cobre no território goiano áreas de cerrado do sul-sudoeste, e também do leste, regiões onde operam as maiores empresas ligadas ao agronegócio. 

Atualmente, essas regiões respondem por mais de 77% das exportações do estado. Nelas, o setor primário corresponde a aproximadamente 60% do PIB de Goiás. Quanto aos fatores locacionais favoráveis à e a agropecuária intensiva, tem-se:

  • Naturais: relevo com topografia plano-ondulada; condições climáticas favoráveis em termos de pluviosidade, temperatura, umidade; aeração dos solos facilitada pela natureza das rochas; recursos hídricos abundantes em termos de drenagem de superfície e subterrânea; vastidão de terras agricultáveis.
  • Econômicos: dimensão do alqueire goiano – 48.800 m2 –, correspondente ao dobro da dos estados do Sul do Brasil; preço das terras do Cerrado, ainda acessível atualmente; existência de mão de obra disponível e barata;
  • Financeiro-comerciais: política de incentivo dos governos federal, estadual e municipais; existência de um “cinturão financeiro-comercial” formado por centros regionais metropolitanos como Goiânia, Anápolis e Brasília. Esse grande cinturão alimenta as empresas com capitais de empréstimos e viabilizam as transações comerciais de veículos e acessórios, de máquinas e ferramentas, de implementos e insumos de toda natureza, enfim, a gama de produtos indispensáveis à operacionalização das empresas. Em Goiás, Rio Verde e Jataí – polos regionais intermediários no Sudoeste – e Itumbiara – no sudeste –, são também exemplos, além de cidades gestoras que cumprem as citadas funções. No entanto, todas, sem exceção, são centros de riqueza e pobreza, que concentram elevada população migrada e marginalizada nas periferias.

A partir da anexação do campo à economia de mercado, implementada de forma agressiva e acelerada, tem-se a destruição da unidade familiar campesina pela grande empresa monocultora, na medida em que essa última, ao se instalar no território regional preferido, necessita cada vez mais de terras para incrementar a produção e expandir os monocultivos e criatórios, intensivos e extensivos, destinados ao abastecimento do mercado nacional e externo.

Consequentemente, para os nacionais que persistem pelo trabalho em permanecer livres na própria terra, ocorre a contínua e progressiva redução dos espaços habitados e habitáveis.

No início, a família rural (una e autônoma, fraterna e solidária, profissionalmente uniforme), conjuntamente com a Igreja e a Escola, constituíram-se nas três relevantes instituições de sustentação e desenvolvimento do mundo rural goiano. As relações de produção e de trabalho eram mais solidárias, e entre o Homem e a Natureza havia uma espécie de simbiose, de respeito mútuo, em que a terra oferecia a sua fertilidade potencial e o homem a respeitava em seus ciclos de produção e reprodução (Gomes; Teixeira Neto, 1995, p. 5-6). 

Nos anos subsequentes, no meio rural/regional, foram-se avolumando as situações conflitivas entre as forças produtivas dominantes – empresas e grupos nacionais e estrangeiros – e as relações de produção dominadas – pequenos e médios proprietários e rurais. As contradições surgidas entre agentes da velha estrutura fundiária nacional e os da nova estrutura emergente – os que detêm a força do capital financeiro – tornaram-se cada vez mais antagônicas e desiguais, a ponto de romper, em questão de alguns anos, o lado mais fraco da cadeia produtiva. 

Desestabiliza- se a tradicional estrutura agrária brasileira, carente de suporte de capitais, de assistência técnica e de política pública que garanta empréstimos e preços competitivos aos seus produtos. Agrava esse quadro uma situação de maior flexibilidade na cobrança de dívidas bancárias contraídas.

Também a venda e a partilha de heranças ocasionaram acelerada fragmentação da propriedade do produtor nacional, acompanhada de rápida desestabilização do seu “modo de vida”. Em contrapartida, a compra induzida e efetivada a favor de empresários e empresas conduziu à concentração da propriedade da terra nas mãos dos magnatas do capital. 

Essas transações, com os seus respectivos desdobramentos econômicos e sociais, contribuíram para a perda da estabilidade do trabalhador rural brasileiro, juntamente com a sua família, nos moldes dos seus padrões de vivência campesina. 

A progressiva desestabilização do seu modus vivendi econômico, social e cultural terminou por expulsá-lo do meio onde vivia na condição de pequeno ou médio proprietário ou de trabalhador agregado como meeiro, posseiro, tarefeiro, diarista etc. Rapidamente, ocorreu a queda de sua vivência coletiva uno familiar, obrigando-o a ser um itinerante-peregrino, boia-fria, a perambular pelas estradas do Brasil à procura de terra e trabalho, terminando o seu percurso migratório como mão de obra explorada nas médias e grandes cidades brasileiras, lugares onde a vida é totalmente monetária, onde tudo se compra e tudo se paga. 

Nelas, na maioria das vezes, passa a viver como marginalizado social, na condição de subempregado ou de assalariado urbano ou de desempregado. Nessa última condição, faz parte do contingente de reserva de mão de obra barata a ser utilizada, no amanhã, quando se fizer necessário. 

Muitos, para se manterem no plano existencial, procuram se incorporar à economia informal – atualmente, aproximando aos 50% dos ativos – como única opção de sobrevivência no meio citadino.

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A família secular, una e homogênea, perde a sua base de sustentação e permanência na terra, e a mobilidade acelerada horizontal (êxodo forçado) torna-se rotina na vida de milhares (milhões no Brasil) de trabalhadores diaristas, volantes, boias-frias etc. O destino final dos itinerantes é a vivência na promiscuidade urbana. As novas relações de produção no campo passam a ser sub e assalariadas (Gomes, 1999, p. 320).

De 1980 a 1990, dá-se, definitivamente, a incorporação do campo à economia de mercado. Agora, o novo modelo de desenvolvimento econômico capitalista, neoliberal e flexível, no contexto da economia globalizada em contínua substituição ao modelo taylorista-fordista, capitaliza a favor dos grandes complexos agrícolas e agroindustriais que operam os denominados agronegócios.

São empresas de grande porte que passam a operar em todos os ramos da cadeia produtiva e utilizam-se de todas as redes disponíveis viabilizadas pelos avanços do “meio técnico/científico informacional” (Santos, 1994). São cadeias fundamentais e necessárias à viabilização de todas as fases do processo de capitalização ampliada do capital, compreendendo produção, industrialização e comercialização. 

Essa integração produtiva totalizante que parte do lócus regional atinge, pela variável mercado, praticamente todos os lugares da Terra, por meio de imagens de satélite e da linguagem virtual dos computadores, pela qual a informação manipulada e transmitida viabiliza, em fração de segundo, as relações de produção e trabalho e as transações comerciais. Na análise precisa do consagrado geógrafo Ruy Moreira (1997, p. 3), 

consolida o espaço em rede, e extinguem-se, assim, os espaços do mundo organizado em regiões singulares e de compartimentos fechados, aumentam ainda mais a intensidade e globalidade das interligações, a mobilidade territorial mais se agiliza, a distância entre os lugares e suas coisas mais se encurta, a espessura do tecido espacial mais se adensa, e o espaço do planeta se comprime.

No presente, no marco do território regionalizado, o empreendimento empresarial agrícola ou agroindustrial é plenamente favorecido por todo um conjunto de condições concretas, objetivas e subjetivas, que visam alcançar interesses pragmáticos ditados pelo lema “produzir a baixo custo e vender onde a demanda é melhor em termos de lucratividade”. Entre os fatores favoráveis ao sucesso da empresa, relacionam-se:

  • A política oficial do governo brasileiro de subordinação ao capital financeiro internacional, oficial e privado, motivada pela dependência dos estados hegemônicos e das empresas privadas – detentores de capitais, ciência e tecnologia. Em troca de capitais de empréstimo o governo brasileiro permite, via “concessões”, que as empresas multinacionais se instalem em determinadas “superfícies favoráveis” do território nacional e passem a utilizá-las, a seu bel-prazer, sem nenhum respeito pelas “vocações” da terra, isto é, pelas condições naturais do meio ambiente e as comunidades nelas inseridas – vocações culturais;
  • A política oficial estadual de amparo e incentivo às iniciativas empresariais no gênero de produção de bens primários; 
  • A fusão do capital industrial ao bancário, gerando o capital financeiro, principal responsável pela manutenção e pelo fortalecimento dos estabelecimentos agrícolas e agroindustriais, via financiamento de capitais direcionados à compra de máquinas agroindustriais, veículos, ferramentas, implementos agrícolas e à contratação de serviços etc., assim como subsídio aos produtores nacionais na condição de parceiros/agentes, responsáveis diretos pela produção de grãos e carnes;
  • A comercialização, por empresas estrangeiras e subsidiárias nacionais, de insumos, em geral importados, representados por múltiplas linhas de produtos químicos agropecuários indispensáveis à alimentação do sistema produtivo. Esses produtos, em sua maioria importados, são produzidos e comercializados por firmas estrangeiras e subsidiárias nacionais que operam, principalmente nos principais eixos industriais do País: São Paulo–Campinas, São Paulo–Rio de Janeiro e São Paulo–Belo Horizonte;
  • Os investimentos direcionados à produção para exportação, praticamente de produtos alimentares – grãos e carnes –, couros, e minerais básicos destinados à metalurgia e siderurgia, a exemplo do Japão, da China, da Índia, da Rússia etc.;
  • A construção de rede de armazéns e silos, de cunho oficial ou privado, em áreas estratégicas e produtivas do território, e de fácil acesso à rede viária, ao transporte e ao comércio.

O saldo negativo dessa política oficial de livre expansão da fronteira agrícola no Brasil são os sucessivos impactos ambientais, sociais e culturais de toda ordem que a natureza e a sociedade brasileira vêm sofrendo. Sob essa prática de tratamento aético da natureza tratada como objeto de uso e desuso, descartável, mencionam-se:

  • A fragmentação da estrutura geológico-geomorfológica como embasamento físico do território; 
  • A degradação e a destruição da cobertura vegetal como protetora do solo e do subsolo; 
  • A redução da biodiversidade animal, vegetal e genética – em espécies, nichos e ecossistemas – como reprodutora da vida;  
  • O assoreamento e a diminuição da rede de drenagem de superfície e subterrânea, das cabeceiras dos cursos d’água, das veredas, berço das águas, com suas matas ciliares ripárias, seus buritizais e buritiranas e suas vegetações campestres; 
  • A destruição das vocações culturais centenárias das comunidades interioranas; 
  • A destruição de monumentos naturais e sítios arqueológicos milenares.

Enfim, grande parte do patrimônio natural, biótico e cultural são destruídos ante a voracidade e cobiça dos expropriadores da natureza.

Infelizmente, governantes e governados plasmados na ética e moral capitalista, por adesão ao modelo econômico esposado pelo capitalismo flexível, neoliberal, ou, por desconhecimento do território regional-nacional, em termos de sustentabilidade natural, biótica e cultural, batem palmas às supersafras “salvadoras” e aos êxitos alcançados no cenário nacional pelas lideranças produtivas dos agronegócios, como se a conquista econômica fosse a melhor solução para os problemas econômicos, sociais e culturais da nação brasileira.

Exemplo concreto é o fato de o Brasil ter assumido a vanguarda no ranking mundial da comercialização da soja, tendo a balança comercial alcançado, em 2003, a cifra de 8 bilhões de dólares em exportação, gerando superávit primário, o grande responsável pela redução do “risco Brasil”.  O discurso e as ações louvam e eternizam o modelo de desenvolvimento econômico capitalista neoliberal, justificado por gerar mais progresso, mais empregos, melhor padrão de vida social para o povo brasileiro. 

No caso da soja, sua monocultura é justificada pelo fato de essa oleaginosa contribuir para a dieta alimentar das famílias brasileiras de baixa renda, por beneficiar outros cultivos, em razão de o seu cultivo aumentar a fertilidade natural do solo; por contribuir para o equilíbrio da balança comercial brasileira além de muitos outros méritos e vantagens.

Será verdadeiro esse progresso tão alardeado por governantes e empresários capitalistas? Não haveria outro modelo de desenvolvimento econômico, em termos de produção/rentabilidade/ sustentabilidade, capaz de gerar progresso social e ser, ao mesmo tempo, compatível com a preservação do meio ambiente?

Para responder a essa questão, é necessário, inicialmente, proceder a algumas análises atinentes à realidade espaço/temporal do território nacional/ regional, no que diz respeito às suas condições geoambientais e a correspondente utilização por empresas multinacionais. 

A primeira grande questão posta à sociedade é uma indagação necessária: como fica o ambiente de vida para as gerações do presente e do futuro, se o território brasileiro – matriz primária da vida orgânica – está perdendo, aceleradamente, as suas potencialidades em termos de sustentabilidade natural? 

Isso significa dizer que a base física do território brasileiro está sendo degradada e destruída, de forma acelerada, pela monocultura intensiva e tecnificada implementada pela grande empresa exportadora. 

No fundamental, os principais agentes da destruição são grandes empresários que, direta ou indiretamente, detêm grande parcela do controle do poder econômico e financeiro do País, e que não têm identidade com a nação brasileira – povo, território e governo –, pois são movidos por interesses pragmáticos bem determinados em termos de reprodução ampliada do capital – acumulação e concentração. 

Como é público e notório, o melhor da produção obtida em sua totalidade está direcionado ao mercado externo, com vista a atender aos países carentes de produtos alimentares e de outros bens primários, que, sabiamente, canalizam grande montante de seus capitais em educação, pesquisa e tecnologia de ponta, atividades geradoras de elevada capitalização.

Como se sabe, o cultivo agrícola intensivo, a exemplo do praticado no sul-sudoeste de Goiás, é facilitado pela topografia plano-ondulada de suas chapadas e chapadões, e é totalmente calcado na mecanização, pivotização e contaminação química dos solos. Não se leva em conta:

  • A natureza geológico-geomorfológica da matriz territorial, vista em termos de , evolução e dinâmica do relevo, assim como os níveis de resistência mecânica e química das rochas ao intemperismo; 
  • Os malefícios causados pela retirada da cobertura vegetal nativa em todos os subsistemas do Cerrado; 
  • Os males produzidos pela pivotização intensiva, atinentes aos lençóis freáticos e à drenagem de superfície, sem a necessária correspondência da bacia hidrográfica com a bacia hidrogeológica; 
  • A destruição da rede de drenagem resultante de contínuos assoreamentos dos cursos e espelhos d’água de superfície e da contaminação dos aquíferos subterrâneos por toda gama de poluentes; 
  • A destruição das paisagens, inclusive dos cenários patrimoniais; 
  • O rápido desaparecimento de muitas espécies de plantas e animais, em função da perda de seus habitats de vivência e de nichos ecológicos, locais onde as espécies realizam suas funções vitais de circulação, alimentação, reprodução e polinização.

Enfim, não se leva em conta as reais “vocações” da terra e do homem – econômicas, sociais e culturais – plasmadas pelas comunidades em seus habitats de vivência sociocomunitária. O que os donos do capital não revelaram – nem revelarão – à população são os impactos ambientais causados por suas empresas sobre o espaço geográfico. Indiferentes e insensíveis aos danos causados à natureza, adotam como logomarca ética e moral o cifrão, brasão de identidade empresarial.

A compreensão da realidade ambiental passa pelo conhecimento da gênese do Cerrado, lócus preferencial das empresas monocultoras/exportadoras A grande maioria dos pesquisadores – botânicos, biólogos, ecologistas, fito e zoogeógrafos, geógrafos, geólogos, geomorfólogos, agrônomos, pedólogos, edafólogos, especialistas em análise polínica etc. – se inclina para a afirmação de ser a vegetação do Cerrado, quanto à estrutura e à fisionomia, de “natureza clímax”, levando-se em conta principalmente as condições climáticas e edáficas. 

Significa dizer ser o Cerrado uma vegetação “primária”, e não secundária, e que o seu ciclo evolutivo alcançou o seu limite de desenvolvimento e maturidade, entre 30 e 40 milhões de anos pretéritos. Caso ocorra a sua destruição, como já vem acontecendo de maneira irracional nessas três últimas décadas, não será mais possível a reposição das espécies em termos de regeneração natural.

Eugênio Warming (1908), por exemplo, no século passado, já confirmava a natureza clímax do Cerrado, enquanto Félix Rawitshcher, Mário Guimarães Ferri e M. Rachid (1943) confirmaram ser uma vegetação clímax alterada (subclímax). Leo Waibel (1948), em sua pesquisa situada em Goiás, considerou o gradiente de campo cerrado uma vegetação sui generis, bem distinta da mata e do campo.

Toda essa singularidade traduzida em gênese, evolução e estádio atual do Cerrado como bioma natural que possui fisionomia e fisiologia peculiares tem de ser levada em conta, a fim de que se possa protegê-lo para as gerações do presente e do futuro.

No presente, a nova matriz econômica de ocupação do território goiano pelos detentores do capital financeiro, calcada na monocultura intensiva e na pecuária de abate para a exportação, evoluiu a ponto de firmar linhas preferenciais na cadeia produtiva que desafiam a própria natureza a se perpetuar como natureza viva, pois procuram exaurir, ao máximo, os recursos naturais para manter a produtividade desejada.

Na do Cerrado, lançada em 25 de agosto de 2004, no recinto da Assembleia Legislativa de Goiás, pontua-se:

Como fica o Cerrado diante de tantas agressões contra a sua natureza? Como fica o Cerrado que, em partes já deixa de existir para as gerações do presente, representadas por nossos filhos, netos e bisnetos? Que perspectiva de existência feliz elas terão no futuro? Que perspectiva de resgate temos da nossa “essência natural” (somos e devemos existir como uma única natureza), a fim de que possamos recompor a nossa unidade perdida? Que condições objetivas e subjetivas de vivência terrena, material e espiritual, as novas gerações terão no amanhã, se o seu meio natural deixar de existir? (Gomes, 2004).

São interrogações pertinentes ao universo de preocupações maiores, que levam em conta a política do governo central – a principal responsável pelo mau uso que se faz do território nacional – de deixar acontecer e até mesmo fomentar o acontecimento, por injetar milhões de reais nos complexos agroindustriais, contribuindo de forma decisiva para reforçar a corrida frenética de expansão e ocupação do território pelos detentores do capital financeiro internacional e nacional. Agindo assim, na mesma sequência de seus antecessores, a partir do início da década de 1970, os governos vêm canalizando recursos para as áreas do Cerrado.  

A política governamental se articula para transformar as “regiões contempladas”, a exemplo do sudoeste e sudeste de Goiás, num celeiro agrícola e agroindustrial. Haja vista os incentivos financeiros e fiscais, as linhas de crédito agrícola, a política de preços mínimos, os investimentos diretos em infraestrutura, os programas de desenvolvimento etc., canalizados para essas regiões. 

Com essas medidas, o governo central, acompanhado por seus súditos estaduais, além de reforçar a hegemonia do capital monopolista em detrimento do médio e do pequeno produtor rural brasileiro, continua favorável à expansão especulativa da fronteira agrícola do Cerrado. 

Insensível aos impactos causados ao meio ambiente, o governo central não enfrenta à altura o crucial problema ecológico/ambiental colocado à sociedade brasileira, traduzido em múltiplas agressões irreversíveis ao meio ambiente, morada de todos os seres vivos.

Os defensores dessa política governamental procuram justificar as ações do governo, alegando a necessidade de equilíbrio da balança comercial via exportação de bens primários – grãos, carnes e derivados –, para estar em dia com o ajuste fiscal do FMI e de outros credores. 

Porém, há alguns dados a ressaltar: primeiro, os cidadãos da nação brasileira não são os responsáveis pelo montante de sua dívida externa e interna; segundo, os países que se desenvolveram optaram pela via de implantação de indústrias de base, por maciços investimentos em escolarização, educação pública em todos os níveis e em investigação científica e tecnológica de ponta, por fazer efetiva reforma agrária e por priorizar investimentos na economia interna, a principal geradora da estabilidade econômico/financeira de um país; terceiro, é falsa a alegação de que as grandes empresas monocultoras e os complexos agroindustriais são importantes como geradores de bons empregos, de distribuição de rendas e de desenvolvimento social. 

Na verdade, o que se verifica é a incorporação crescente da terceirização do trabalho na cadeia produtiva dos complexos agroindustriais e até mesmo a “quarterização” em marcha crescente no Brasil. No geral, esses setores da economia geram novas modalidades de exploração de trabalho, traduzidas na apropriação da mais-valia – absoluta e relativa – do trabalhador, criando um subassalariado que, na aparência, está travestido de assalariado.  

Tal realidade pode ser vista de forma mais transparente nos principais centros regionais do sudoeste de Goiás, onde o número dos socialmente excluídos cresce rapidamente. A realidade é bem transparente, como salientou Arrais (2002, p. 168):

Basta observar que a modernidade produzida no sudoeste não foi capaz, até o momento, de minimizar o flagelo de parte significativa da população que vive nas favelas ou nas periferias de Rio Verde, Jataí, Mineiros e Santa Helena, entre tantos outros municípios. A questão é que se o sudoeste produziu a modernidade modernização conservadora –, também não devemos esquecer, produziu o seu oposto, ou seja, a miséria e a proletarização de parte significativa da população que os indicadores sociais podem camuflar.

Uma segunda faceta da matriz geográfica, tão preocupante como a espacial/rural, é a espacial/urbana que, atualmente, assume índices alarmantes em termos de vivência sociocomunitária. Os 246 municípios goianos distribuem-se por 5 mesorregiões – norte, noroeste, leste, centro e sul goianos – e ocupam áreas de grandes adensamentos populacionais, como é o caso da Região Metropolitana de Goiânia e do Entorno de Brasília, que juntas totalizam mais de 50% da população do estado, e áreas rarefeitas, de ocupação mínima. 

O meio rural constitui um grande vazio demográfico resultante do êxodo imposto pela entrada maciça do grande capital no campo, com cerca de 12% da população – 606.583 habitantes.  

O universo urbano concentra 87,88%, com 4.396.645 habitantes. Há de se ter em conta a virada da população rural para urbana a partir da década de 1970, momento em que se dá a incorporação do campo à economia de mercado, com o advento do império do capital financeiro das grandes empresas monocultoras, recebendo efetivo apoio logístico das políticas públicas.

Rompeu-se assim, em algumas décadas, o predomínio da população rural, que em 1940 totalizava 83% do efetivo populacional; em 1950, menos de 80%; em 1960, menos de 70%, em 1970, cerca de 58%. Vê-se, explicitamente, que a grande mudança ocorreu notadamente a partir da década de 1970, com a inserção de Goiás na economia globalizada. 

Uma vez rompida a secular unidade unofamiliar da estrutura fundiária brasileira, associada ao abandono a que políticas governamentais relegam regiões do estado consideradas atrasadas, como é o caso do nordeste goiano, o despovoamento do campo tornou-se patente. 

Por serem prestadoras de serviços públicos e privados de diferentes naturezas, inclusive de funções especializadas por serem centros operacionais de política financeira e creditícia, centros industriais e comerciais de bens de consumo, de fornecimento de mercadorias à demanda solicitada por empresas agrícolas e agroindustriais que, entre outras características, concentram homens e funções dentro do espaço citadino, as urbes vêm criando inúmeros bolsões de miséria e gerando profundas desigualdades sociais entre os urbanitas, concentrando riqueza para poucos e expandindo pobreza para muitos, traduzida em inclusão e exclusão social.

Na atualidade, a nova matriz econômica coloca o estado de Goiás com 25.100.684 ha (73,81%) ocupados pela agricultura intensiva e 4.142.224 ha (12,18%) pela agricultura irrigada. Soja, milho, sorgo, cana, feijão, arroz, algodão e tomate são os produtos mais cultivados. Na pecuária, destaca-se o criatório de bovinos, que corresponde a quase 20 milhões de cabeças – mais de 10% do rebanho nacional; suínos e equinos, no conjunto, totalizam mais de 11% do rebanho nacional. Destacada é a produção de galináceos, que equivale a quase 7% da produção nacional. 

Entretanto, toda essa criação traduzida em carne, couro, e derivados, que em grande parte abastece as cadeias produtivas dos complexos agroindustriais, capitaliza muito mais a favor dos detentores do capital multinacional do que distribui riqueza social à população do campo. É a lógica da economia de mercado calcada nos agronegócios.

Finalmente, nas condições em que o Sistema Biogeográfico do Cerrado – principal matriz territorial/ambiental do Brasil-Central –, se encontra no momento submetido à vontade humana regida pela cobiça do lucro imediato, sua total extinção já é prevista para ocorrer em menos de 50 anos. Há quem a estime em torno de 25 a 30 anos. 

O Cerrado goiano está hoje reduzido a menos de 20% de sua cobertura original. Além da diminuição de água pela evaporação, com a retirada da vegetação, seus solos ficam expostos a toda sorte de intempéries, acrescidas das ações predatórias do homem “civilizado”. 

Desse intenso processo de meteorização química e mecânica das rochas, decorrem diferentes formas de erosão que produzem solos lixiviados, assoreamentos de cursos d’água, diminuição do potencial hídrico de superfície e subterrâneo, em marcha crescente, entre outras modalidades de impactos ambientais que colocam em risco a relação de interdependência homem–natureza e a própria sobrevivência das espécies, inclusive a humana. 

A título de exemplificação, utilizando-se os tópicos vegetação, solo, subsolo e águas, inseridos no Mapa da Cobertura Vegetal do Estado de Goiás (Miranda; Guimarães, 2002) e relacionando-os com a Matriz “Pressão Impacto Ambiental”, tem-se que:

  • O desmatamento, as emissões de poluentes industriais, os transportes e a energia causam altos impactos ambientais, principalmente quanto à poluição atmosférica e à emissão de gases de efeito estufa, que pioram as condições climáticas que permitem a vida; 
  • Os solos, submetidos ao uso intensivo de fertilizantes e agrotóxicos, às irrigações e aos cultivos rudimentares, ao sobrepastoreio, ao tratamento insuficiente dos efluentes químicos e orgânicos, sofrem altos impactos causados por diversas forças erosivas, pela contaminação e salinização; nos subsolos, a contaminação e a degradação atingem, também, o nível alto na escala de elementos impactantes, em decorrência dos mesmos elementos, somados à deposição inadequada de resíduos da extração mineral; 
  • As águas, submetidas ao derrame de efluentes químicos insuficientemente tratados, sofrem altos níveis de assoreamento, de redução dos aquíferos, e de contaminação e poluição, tanto na superfície de abrangência do Cerrado quanto no estado de Goiás. A perda de quantidade e qualidade da água potável é uma gritante realidade.

Por fim, para preservar o pouco que ainda existe de base ecológico-ambiental-territorial do Sistema Biogeográfico do Cerrado, deve-se tomar consciência da atual situação de extrema gravidade e posicionar-se contra o modelo político/econômico de desenvolvimento capitalista assumido pelo governo brasileiro, e lutar para erradicá-lo. 

Deve-se também pugnar pela implantação do desenvolvimento sustentável, calcado nas vocações da terra e nas vocações culturais das comunidades, via implementação da agricultura familiar, da agricultura doméstica, da pequena e média empresa, do cooperativismo comunitário etc., em todo o País. 

Há de se investir em uma reforma agrária efetiva, em que a terra seja distribuída sob a condição de “usufruto” produtivo, e não como propriedade privada, particular de indivíduo ou de grupo. Uma reforma agrária assistida técnica, financeira e socioculturalmente pelo poder público, envolvendo as três instâncias institucionais – Estado nacional, Estados federados e Municípios. Caso contrário, resta aceitar esse status quo e permanecer na legião dos indiferentes, dos dependentes e submissos existenciais.

BIBLIOGRAFIA

BARBOSA, Altair Sales et al. O Piar da Juriti PepenaNarrativa ecológica da ocupação humana no Cerrado. PUC Goiás, 2014.

GOMES, Horieste. A Produção Geográfica em Goiás. Goiânia. Ed, da UFG, 1999. 

SANTOS, Milton et al. O papel ativo da geografia: um manifesto. In: Encontro Nacional e Geógrafos da AGB, 12, Florianópolis, 2000. Mimeogr. 

WAIBEL. Leo. Vegetation and Land use in the Planalto Central of Brazil. Geogr. Rev., v. 38, n. 4, p. 529-554, 1948. WARMING, E. Lagoa Santa.  Tradução de A Loefgren. Belo Horizonte: Imprensa Oficial; Estado de Minas Gerais, 1908.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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