A NOVA REVOLUÇÃO VERDE: BRASIL E CHINA LIDERAM PARCERIA SUL GLOBAL POR AGROECOLOGIA E SOBERANIA ALIMENTAR

A NOVA REVOLUÇÃO VERDE: BRASIL E CHINA LIDERAM PARCERIA SUL GLOBAL POR AGROECOLOGIA

A NOVA REVOLUÇÃO VERDE: BRASIL E CHINA LIDERAM PARCERIA SUL GLOBAL POR AGROECOLOGIA E SOBERANIA ALIMENTAR

O futuro do mundo não está no domínio de poucos, mas na união de muitos contra a miséria e as injustiças sociais. O século XXI nos convoca a reformular a ordem mundial imposta pelo colonialismo, pelo neoliberalismo e pelo poder militar e financeiro das grandes potências imperialistas que exploram as riquezas dos povos e territórios do Sul Global. 

Por Marina do MST

Nossa resposta deve ser coletiva e firme, em busca de um projeto humanitário de emancipação social. Neste contexto, a parceria entre Brasil e China adquire um significado estratégico para além de fluxos comerciais: trata-se da construção de alternativas concretas, de um caminho autônomo de desenvolvimento baseado na justiça social, na paz e no respeito mútuo entre as nações. 

No Brasil, o Partido dos Trabalhadores (PT) vem protagonizando o debate e a construção de políticas públicas que priorizam a ampliação dos direitos sociais e trabalhistas, a participação popular e o acesso à saúde e à educação. Enraizado nas mobilizações sociais, o partido tem como fundamento o compromisso com uma política anti-imperialista, solidária e altiva, e acredita que a cooperação externa deve ser voltada ao bem-estar dos povos.

A parceria entre os governos brasileiro e chinês começou a se consolidar a partir de 2003, quando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumiu a presidência. Logo em 2004, foram realizadas uma visita oficial de Lula ao país, a assinatura de acordos bilaterais e a criação do Fórum de Diálogo China-Brasil. O companheirismo entre as nações continuou a se expandir durante o governo de Dilma Rousseff (PT), que visitou o país em 2012, e recebeu Xi Jinping em sua primeira visita ao Brasil em 2014. 

Historicamente, a relação entre o partido chinês e o Partido dos Trabalhadores tem sido guiada por princípios de solidariedade e respeito. Em visita inédita à China, a delegação de parlamentares representantes do MST, da qual faço parte, ao lado dos deputados Rosa Amorim (PT-PE), Mauro Rubem (PT-GO), Missias do MST (PT-CE) e Goura Nataraj (PDT-PR) e dos vereadores Edilson do MST (PT-PE) e Tito do MST (PT-PA), foi recebida pelo Departamento Internacional do Comitê Central do Partido Comunista em um gesto de solidificação desses laços. 

Estou convencida de que essa amizade pode gerar frutos concretos para a integração do Sul Global e para o fortalecimento da agricultura familiar, da produção de alimentos saudáveis e da dignidade no campo. 

A governança de Xi Jinping acumula experiências valiosas em extensão rural, mecanização e uso de inteligência artificial aplicadas à pequena produção, além de um histórico recente de superação da fome em áreas rurais. Por sua vez, o Brasil possui uma vasta rede de movimentos sociais, cooperativas, escolas técnicas e saberes tradicionais, que podem dialogar com essas experiências em pé de igualdade. 

A China é hoje a principal parceira econômica do Brasil, tendo como carro-chefe as commodities agrícolas, que, embora sejam importantes para a balança comercial, estão associados a um modelo de produção latifundiário, ancorado no uso intensivo de agrotóxicos e no desmatamento. 

Contudo, existe um Brasil formado por pequenos agricultores, quilombolas, povos indígenas e comunidades tradicionais, responsáveis por mais de 70% dos alimentos consumidos pela população. É este Brasil, de produção sustentável e diversificada, que precisa ser reconhecido e integrado de maneira ativa na cooperação com a China. 

Durante o encontro, foi destacada a importância de investirmos conjuntamente em ciência, tecnologia e inovação voltadas para a agricultura camponesa, priorizando áreas como mecanização agrícola, produção de bioinsumos e o intercâmbio de políticas públicas. 

É essencial o desenvolvimento de um planejamento de médio prazo para a inserção de máquinas agrícolas de pequeno porte no Brasil, visando a criação de fábricas chinesas em território brasileiro, preferencialmente por meio de joint-ventures. O exemplo exitoso das parcerias da Universidade Agrícola da China com a Universidade de Brasília e com o Consórcio Nordeste evidencia a qualidade dos produtos chineses e constitui um importante marco para novas iniciativas. 

O compartilhamento de tecnologias para o desenvolvimento de bioinsumos, especialmente os derivados do tratamento de resíduos sólidos e urbanos, se configura como mais um pilar da parceria entre as duas nações. O Brasil é um líder em diversas áreas desse setor, como o estudo microbiológico. Além de ser uma prática sustentável, essa atividade tem um enorme potencial econômico: o mercado de bioinsumos atingiu US$900 milhões na safra 2023/2024, com pelo menos 17% da área agrícola utilizando algum tipo de “bioinsumo”. 

Outras propostas defendidas na parceria incluem: o estabelecimento de intercâmbios técnicos e científicos entre universidades, institutos de pesquisa e cooperativas com foco em agroecologia, recuperação de solos e tecnologias limpas; investimentos conjuntos em infraestrutura logística adaptada à pequena produção; e a abertura de mercado na China para produtos de base familiar brasileira, a exemplo de mel, frutas, castanhas, cafés especiais e fitoterápicos. 

Em novembro de 2024, tive a oportunidade de prestigiar o lançamento da edição traduzida para o português do livro Superar a Pobreza, do presidente Xi Jinping, organizado pela Fundação Perseu Abramo, no Rio de Janeiro. 

A leitura desta obra me proporcionou uma compreensão mais profunda das políticas chinesas de combate à pobreza e seu papel central no desenvolvimento do país. Com base nesse aprendizado, acredito ser fundamental fortalecer o intercâmbio de políticas públicas entre Brasil e China no enfrentamento da extrema pobreza, a fim de promover um desenvolvimento mais inclusivo. 

A soberania alimentar será um tema central do século XXI. Precisamos garantir que a produção de alimentos esteja nas mãos do povo, respeite o meio ambiente e seja capaz de alimentar todos com dignidade. 

O Partido dos Trabalhadores está comprometido com essa agenda, e tenho plena confiança de que o Partido Comunista da China reconhecerá o valor estratégico da agricultura camponesa como um pilar fundamental de uma cooperação mais justa, humana e transformadora. 

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Marina do MST Deputada estadual pelo PT-RJ. Publicada originalmente em Fpabramo.org.br.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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