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Ação do governo contra o fogo na Amazônia expõe colapso na fiscalização em Altamira

Ação do governo contra o na Amazônia expõe colapso na fiscalização em Altamira

“Não é questão de mandar o avião vir para apagar o fogo”, diz representante do Ministério Público.

Por Débora Álvares/ HuffPostBrasil

JOAO LAET VIA GETTY IMAGES
Fumaça na Floresta Amazônica denuncia foco de incêndio.

Ausência de Estado

A procuradora da República Thais Santi, do Ministério Público Federal em Altamira, defende as ações conjuntas, mas ressalta a importância de atacar a “origem do problema”, que é fundiário e econômico, em sua visão.
Porém, ela chama a atenção para uma questão mais profunda. “Não é questão de mandar o avião vir para apagar o fogo”, diz a procuradora. Para ela, é preciso “estruturar o estado” de forma geral. Uma das razões citadas pelo Ministério Público no Pará para o “colapso” é a do Estado.
De imediato, ela diz não restar dúvidas sobre o fato de os incêndios que têm tomado a Amazônia – “e não só neste ano”, ressalta – serem de origem criminosa. A procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, determinou a investigação do que ficou conhecido como “dia do fogo”, com o argumento de  haver indícios de uma “ação orquestrada” no início do mês, na beirada da BR-163.
Para o delegado Mário Sérgio Nery, “a prova da materialidade [dos incêndios] não é difícil”. No entanto, mais uma vez, volta-se a esbarrar no problema estrutural.

A PF de Altamira atende o próprio município – e por isso vai investigar, de forma conjunta com a polícia de outras regiões, o que se deu no “dia do fogo” -, mas também as cidades de Anapú, Pacajá, SenadorJosé Porfírio, Brasil Novo, Medicilândia, Porto de Moz e Vitória do Xingu.

Altamira se estende do meio do estado do Pará até a fronteira com Mato Grosso – tem mais de 159 mil quilômetros quadrados. Segundo o delegados da PF Mário Sérgio Nery, se fosse um estado, seria o 17º maior. Para atravessar de uma ponta a outra, pode ser necessário viajar até dois dias devido às condições adversas das estradas que cortam a região, além dos perigos das travessias à noite.

“Cachoeira da Serra, que é dentro do município de Altamira, fica a 1,2 mil km daqui. Além disso, não são áreas urbanas. É gasto de , pessoal, material. Não temos efetivo pra uma demanda tão grande que a região exige”, afirma o delegado da PF.

A PF de Altamira nem sequer começou a investigar o “dia do fogo” ainda. “Não pude mandar efetivo para lá [Castelo dos Sonhos]. Somos apenas 25 pessoas aqui [delegacia de Altamira]. Agora chegaram mais 25. Vamos nos dividir esta semana e planejar operações. Quem sabe aproveitar o que já está sendo tocado pela Polícia Civil de lá a respeito”, disse à reportagem.

De acordo com o delegado, além da distância, é necessário destacar também as peculiaridades da região. Altamira é conhecida pelos inúmeros conflitos de terras com grileiros, madeireiros e , além de abrigar a majestosa hidrelétrica de Belo Monte, que ampliou todas as questões que já existiam então.
Quem também sofre com o abandono do estado é a Polícia Rodoviária Federal (PRF), que admitiu ao HuffPost não fiscalizar as estradas de forma adequada. “Ideal seria pelo menos quatro pessoas [no posto de fiscalização por dia] pelas condições adversas que enfrentamos aqui, de perigo”, disse o policial Ítalo Carneiro. Contudo, eles trabalham normalmente em duplas. O policial conta que encontram, muitas vezes, dezenas de pessoas fazendo transportes ilegais de cargas, especialmente de madeiras ilegais e, entre elas, há inclusive quem esteja armado. Só quando recebem reforços conseguem montar operações maiores e, aí sim, abranger áreas mais distantes.

De acordo com Carneiro, madeireiros, pra levar carga pro , conseguem desviar por alguns locais que os policias rodoviários federais conhecem. Mas a ausência de efetivo deixa, mais uma vez, a irregularidade passar. “Quando estamos em três pessoas aqui [no posto da PRF], fica um aqui, o que já é perigoso nessa região, e vão dois. Nunca saímos sozinhos.”

DEBORA ALVARES/HUFFPOST BRASIL

Governo diz que fogo é alarde

A situação de Altamira é um exemplo de como está a área de Floresta Amazônica no País. Na contramão do que dizem as autoridades locais, o Ministério da Defesa e o presidente Jair Bolsonaro dizem que o fogo está sob controle.

“Tem se alardeado um pouco de que a situação está fora de controle. Não está mesmo. Já tivemos picos de queimadas em outros anos muitos maiores”, disse o ministro da Defesa, Azevedo e , na segunda (26). “A situação não é simples, mas ela está sob controle e já arrefecendo bem”, completou.

De acordo com ele, foram mobilizados aproximadamente 2.500 militares para combater as chamas. Até o momento, sete estados já acionaram o governo federal por ajuda para conter os focos de incêndio. Foram liberados também R$ 38 milhões para custear a ação.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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