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Afrobeges: colorismo que refuta a lógica racista

Afrobeges: colorismo que refuta a lógica racista

Morena, moreninha, cor de canela, marrom bombom, mulata, café com leite e tantas as variações e nomes que já foram inventados para encobrir e camuflar a negritude de mais de 50% da população brasileira…

Por Laila Oliveira 

A ideia de “brasilidade” nos fez crer que todas essas categorias de “cor” eram elogiosas, motivos de orgulho da nossa mistura, a mistura das 3 raças, que por muitos foi defendida como uma “mistura” harmoniosa, fazendo boa parte da população acreditar que raça e racismo não existiam no Brasil, e que essa conversa de negro/preto era um insulto, era coisa de africano, aqui o que tinha era mulatos/mulatas.

Aqui na terra da democracia racial, se vendia a ideia de quanto mais claro e mais distante dos/das negros/as africanos/as, maior a possibilidade de ascensão e aceitação social. O processo de pardonização encontrou no Brasil raízes fortes, com direito a estudo encomendado pela UNESCO, e diversos estudiosos das ciências sociais vindos dos EUA. No Brasil essa escola também foi forte, é só nos voltarmos para os estudos de Gilberto Freire, que deixou para a população negra uma herança de estereótipos quase inabaláveis e acionados até os dias atuais.

Diante dessa investida secular, ao longo dos anos, o movimento negro atuou no intuito de incentivar o orgulho de ser negro/a, sendo assim, de romper com a ideia do clareamento e de fomentar uma unidade entre negros, reconhecendo a diversidade de tons e traços. Não foi e não é um caminho fácil, existe uma conveniência ou afroconveniência para alguns em estar nas fronteiras desse reconhecimento, seja por má fé para ter acesso às políticas afirmativas como as cotas em concursos e universidades, ou seja pela própria confusão de não saber o que se é, até porque a atravessia pode ser um caminho sem volta, outros ainda não se olham no espelho, preferem não tomar pra si o que se é também por medo. Quantos/as de nós nos olhamos verdadeiramente no espelho?

Conceição Evaristo nos brinda com sua sabedoria ancestral ao falar que precisamos nos olhar no espelho de Oxum, e não no de Narciso. Nossa origem, nossa ancestralidade africana tem como premissa a coletividade, o espelho de Oxum, o abebé, é a retomada dessa dignidade, é o reconhecimento da nossa beleza, ao nos reconhecermos belas/belos como indivíduos, nos reconhecemos também na coletividade.

Não descartando as afroconveniências, convido os/as leitores/as para uma reflexão, se estamos há tantos anos, provando através de nossas experiências com o racismo cotidiano, que o problema no Brasil tem sua origem na discriminação racial e não na discriminação de classe, como os estudiosos da questão racial afirmaram após estudos no Brasil, porque vamos reproduzir a lógica racista do branqueamento? Com isso, não coloco na mesma balança aqueles que usam o termo como uma afronta e os/as racistas brancos/as, mas chamo a atenção para que avaliemos que não é possível usar a mesma lógica daqueles que nos oprimem cotidianamente.

Sem dúvida, uma mulher negra de pele clara jamais saberá a experiência com o racismo vivenciada por uma irmã negra retinta, são caminhos diferentes de uma mesma moeda, principalmente diante de um racismo conduzido pelos fenótipos como se evidencia no Brasil. Mas não seria fortalecedor para a nossa luta trazê-la para lutar principalmente pelo direito das suas irmãs retintas, do que permitir que ela se engane no papel de uma mulher embranquecida, em um meio que sempre vai lembrá-la de que ali não é o seu lugar?

Se a polícia tem exterminado corpos pretos e pardos nas periferias do país, como tem sido friamente computado nos dados do IBGE, mostrando que não tem duvida de quem é negro e branco, porque é que nós ainda insistimos em segregar os nossos/as classificando em pretos e afrobeges?

Fonte: Blogueiras Negras

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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