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Águas e Mágoas do Rio São Francisco

ÁGUAS E MÁGOAS DO RIO SÃO FRANCISCO

Águas e Mágoas do
 
Um belíssimo poema de Carlos Drummond de Andrade
 
ÁGUAS E MÁGOAS DO RIO SÃO FRANCISCO
Foto: EBC

Está secando o velho Chico.
Está mirrando, está morrendo.
Já não quer saber de lanchas-ônibus
nem de chatas e seus empurradores.
Cansou-se de gaiolas e literatura encomiástica e mostra o leito pobre,
as pedras, as areias desoladas
onde nenhum minhocão
ou cachorrinha-d'água,
cativados a nacos de fumo forte,
restam para semente
de contos fabulosos e assustados.

ÁGUAS E MÁGOAS DO RIO SÃO FRANCISCO
Foto: MST

Ei, velho Chico, deixas teus barqueiros
e barranqueiros na pior?
Recusas frete em Pirapora
e ir levando pro Norte as alegrias?
Negas teus surubins,
teus mitos e dourados,
teus postais alucinantes de crepúsculo
à gula dos turistas?
Ou é apenas seca de junho-julho
para descanso
e volta mais barrenta na explosão
da chuva gorda?

Já te estranham, meu Chico. Desta vez,
encolheste demais. O cemitério
de barcos encalhados se desdobra
na lama que deixaste. O fio d'água
(ou lágrimas?) escorre
entre carcaças novas: é brinquedo
de curumins, os únicos navios
que aceitas transportar com desenfado.
Mulheres quebram pedra
no pátio ressequido
que foi teu leito e esboça teu fantasma.
Não escutas, ó Chico, as rezas músicas
dos fiéis que em procissão
imploram chuva?
São amigos que te querem,
companheiros que carecem
de teu deslizar sem pressa
(tão suave que corrias, embora tão artioso
que muitas vezes tiravas
a terra de um lado e a punhas
mais adiante, de moleque).
É gente que vai murchando
em frente à lavoura morta
e ao esqueleto do gado,
por entre portos de lenha
e comercinhos decrépitos;
a dura gente sofrida
que carregas (carregavas)
no teu lombo de água turva
mas afinal água santa,
meu rio, amigo roteiro
de Pirapora a Juazeiro.
Responde, Chico, responde!
Não vem resposta de Chico,
e vai sumindo seu rastro
como rastro da viola
se esgarça no vão do vento.
E na secura da terra
e no barro que ele deixa
onde Martius viu seu reino,
na carranca dos remeiros
(memória de outras carrancas,
há muito peças de living),
nas tortas margens que o homem
não soube retificar
(não soube ou não quis? paciência),
de pontes sobre o vazio,
na negra ausência de verde,
no sacrifício das árvores
cortadas, carbonizadas,
no azul, que virou fumaça,
nas araras capturadas
que não mandam mais seus guinchos
à paisagem de seca
(onde o tapete de finas gramíneas,
dos antigos?),
no chão deserto, na fome
dos subnutridos nus,
não colho qualquer resposta,
nada fala, nada conta
das tristuras e renúncias,
dos desencantos, dos males,
das ofensas, das rapinas
que no giro de três séculos
fazem secar e morrer
a flor de água de um rio.

ÁGUAS E MÁGOAS DO RIO SÃO FRANCISCO
Foto: Escola

ONDE NASCE O RIO SÃO FRANCISCO?

O Rio São Francisco tem sua nascente histórica no alto do Parque Nacional da Serra da Canastra, em Minas Gerais, no município de São Roque de Minas, região considerada um grande berço de rios.

Contudo, segundo o Ministério do , foi determinado que a nascente geográfica do Rio São Francisco encontra-se no município de Medeiros, em Minas Gerais.

O rio liga as regiões Nordeste e Sudeste do Brasil, desaguando no Oceano Atlântico, na divisa dos estados de Alagoas e Sergipe.

A BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO

rIO SAO fRANCISCO bacia hidrografica rio sao francisco
Mapa da região hidrográfica do Rio São Francisco – Fonte: Agência Nacional das Águas/IBGE

A bacia do Rio São Francisco é a mais extensa entre as bacias exclusivamente nacionais e possui uma área total de 639.219,4 km2, sendo que: 62,5% dessa área localiza-se na região Nordeste do Brasil; 36,8%, na região Sudeste; e 0,7%, na região Centro-Oeste. A bacia abrange os estados de Goiás (e o Distrito Federal), Bahia, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Minas Gerais.

O Rio São Francisco possui 168 afluentes distribuídos entre rios perenes e rios intermitentes. A bacia divide-se em quatro regiões fisiográficas (características físicas presentes em uma área), segundo dados do Ministério do Meio Ambiente:

1) Alto São Francisco: corresponde a um trecho de, aproximadamente, 702 km de extensão, situado entre as áreas das nascentes do Rio São Francisco até Pirapora e Montes Claros, em Minas Gerais. Corresponde a 16% da área da bacia. As chuvas nessa região são frequentes, com precipitações anuais entre 1.600 mm a 1.100 mm no verão, entre os meses de outubro a abril.

– Principais cidades dessa área: Região Metropolitana de Belo Horizonte, Ouro Preto e Divinópolis.

2) Médio São Francisco: Corresponde a um trecho com cerca de 1.230 km de extensão (maior parte da bacia), onde começa o trecho navegável, entre a área de Pirapora, em Minas, e Remanso, na Bahia. Representa, aproximadamente, de 63% da área da bacia.

– Principais cidades dessa área: Pirapora, Montes Claros, Paracatu, e Bom Jesus da Lapa.

3) Submédio São Francisco: Corresponde à área dos estados de Pernambuco e Bahia, indo de Remanso à cidade de Paulo Afonso, com cerca de 440 km de extensão. Representa, aproximadamente, 17% da área da bacia. A precipitação média nessa região fica entre 450 mm e 800 mm, anualmente.

– Principais cidades dessa área: Juazeiro, Ouricuri e Arcoverde.

4) Baixo São Francisco: Compreende a área de Paulo Afonso até a foz entre Alagoas e Sergipe, com cerca de 214 km de extensão. Representa, aproximadamente, 4% da bacia. A precipitação média anual nessa área varia entre 1.300 mm a 500 mm.

– Principais cidades dessa área: Jeremoabo, Bom Conselho, Nossa Senhora da Glória e Penedo.

O Rio São Francisco é o principal curso d'água da bacia e apresenta 168 afluentes. A bacia abrange a área de três , o (entre os estados de Minas Gerais e Bahia); a (compreende o nordeste da Bahia) e a (na região do Alto São Francisco). Já no que diz respeito ao clima da área abrangida pela bacia, esse é influenciado por diversas massas de ar e diferentes altitudes e relevo. O rio está na região intertropical com elevada incidência solar, fazendo com que também seja elevado o índice de evapotranspiração, principalmente na região norte da bacia.

As enchentes e as secas ocorrem em diferentes regiões da bacia. Normalmente, as cheias (período de dezembro a março) são características do Alto São Francisco, e as secas ocorrem geralmente no Médio e no Submédio São Francisco.

Em relação às características sociais da região da bacia do Rio São Francisco: trata-se de uma área de elevada densidade demográfica e com pontos em que há população em situação de miséria.

A população total da bacia, segundo o IBGE, é de quase 14 milhões de habitantes (predominantemente urbana), e a densidade demográfica é de, aproximadamente, 20,0 habitantes por km2. A maior parte da população localiza-se no Alto do São Francisco (48,8%), e a região com menor concentração de população é o Baixo São Francisco (10,7%).

ÁGUAS E MÁGOAS DO RIO SÃO FRANCISCO
Arte: Otoniel Fernandes Neto

 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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