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Garimpo ameaça vida do povo Yanomami

Garimpo ameaça do Yanomami

O jornal francês Le Monde traz uma longa reportagem na edição de quarta- feira (10) informando que no os índios Yanomami são ameaçados pelos garimpos. Segundo a correspondente Claire Gatinois, encorajados pelo discurso do presidente Jair Bolsonaro, milhares de garimpeiros clandestinos têm invadido as terras indígenas.

Do Le Monde

O jornal lembra que esse fenômeno não é novo. Desde os anos 1980, importantes riquezas minerais em terras indígenas estimularam uma verdadeira corrida do ouro, conduzindo a um massacre por homicídios ou em aproximadamente 30% dos Yanomami.

A situação agora está fora de controle, disse à reportagem Marcos Wesley, do Instituto Socioambiental (ISA). A crise econômica que atinge o Brasil há quatro anos, assim como a onda de imigração daqueles que fogem do regime de Nicolás Maduro, na Venezuela, explicam, em parte, a retomada das explorações em busca de ouro na Amazônia.

 

Ao entrevistar especialistas na área, a  reportagem do Le Monde diz que os discursos do presidente Jair Bolsonaro, de armar os fazendeiros e grandes proprietários de terra, e de acabar com a transformação de terras indígenas em santuários e integrar os índios à sociedade, através da de suas terras, é, na realidade, o principal fator de motivação para as invasões.

Sarah Shenker, pesquisadora da ONG Survival Internacional afirma que, em essência, Bolsonaro declarou às populações indígenas.

“Não existem mais regras na região”, ressalta o missionário italiano Carlo Zacquini, outro ativista ouvido pelo Le Monde. Frequentador das terras Yanomami desde 1965, e co-fundador da Comissão pró-Yanomami, ele denuncia que nem mesmo a Funai tem mais os meios de fazer um bom nas florestas devido à restrições orçamentárias.

 

De acordo com a reportagem, esses grupos carregam, também, epidemias mortais, brigas e prostituição que colocam em risco a vida nas aldeias. Seriam entre sete e dez mil garimpeiros, segundo estimativas da fundação Nacional do Índio, a Funai, e não menos do que 20 mil, de acordo com o cacique Yanomami .

“Eles vêm de avião, de barco e mesmo a pé. Nos ameaçam com armas, poluem nossos rios com mercúrio, trazem malária e pneumonia”, diz Dario Kopenawa, vice-presidente da Associação Yanomami. Entrevistado pela reportagem do Le Monde, o lider denuncia, ainda, que o governo brasileiro não os protege e quer autorizar a mineração em seus territórios.

O texto da reportagem diz que as atividades desse garimpos seriam financiadas por empresas obscuras e mesmo por políticos. E que a atividade cresceu a partir de setembro de 2018, a ponto de as exportações de ouro, a partir de Roraima, terem chegado a 194 quilos no período. O Estado localizado ao norte do país, na fronteira com a Guiana, não tem, no entanto, nenhuma jazida legal em exploração recenseada pelo governo.

O impacto socioambiental dessas atividades é enorme, de acordo com Guilherme Augusto Gomes Martins, membro da Funai ouvido pelo Le Monde.

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Fonte: Le Monde

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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