A lenda da Água: Antigamente não existia água no mundo…
Antigamente não existia água no mundo. Havia somente um homem, chamado Sagakagagu, que tinha seis cabaças de água.
Por Sepé Kuikuro
O deus Taũgi foi procurar esse homem, pois diziam que ele vivia muito melhor do que todos os outros seres. Taũgi procurou o dono da água, até que chegou na aldeia onde Sagakagagu morava. O dono da água falou:
– Taũgi, você chegou?
– Eu cheguei.
– O que você quer comigo?
– Eu venho atrás do senhor para lhe pedir pelo menos uma cabacinha de água.
– Senhor Taũgi, eu tenho água aqui, mas não é água boa para tomar banho. Eu tenho água salgada e água doce.
O dono da água, Sagakagagu, não queria mostrar a água para Taũgi.
Taũgi já tinha percebido que ele não queria lhe dar a água.
No dia seguinte, o deus Taũgi quebrou todas as cabaças de água que estavam penduradas na casa do dono da água. Então, apareceu o mar, que tem água salgada, e os igarapés, os lagos, os rios e as lagoas de água doce. A água se espalhou pelo Brasil e pelo mundo inteiro.
Foi assim a origem da água no Brasil. Quem trouxe a água para nós foi o deus Taũgi.
Sepé Kuikuro – em “Livro das Águas – Índios do Xingu”, 2002. Narrativa mítica do povo indígena Kuikuro, que vive no Parque Indígena do Xingu, sobre a origem das águas no Brasil.
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A Lenda da Vitória-Régia, fruto da paixão de Naiá pela Lua
Diz a lenda que, no começo do mundo, a Lua era um deus que sempre se escondia por trás das serras para namorar as jovens mais lindas das aldeias indígenas. A lenda diz também que, quando a Lua se enamorava, transformava a jovem por quem estava apaixonada em estrela e a levava para junto dela, no céu.
Em uma aldeia havia uma jovem guerreira chamada Naiá, muita linda, que se apaixonou pela Lua e sonhava em ir com ela para o céu. Todas as noites, enquanto seu povo dormia, Naiá subia as colinas esperando pela Lua, na esperança de virar estrela e seguir com ela para o céu. Mas a Lua parecia não notar a paixão de Naiá, que virou obsessão.
A obsessão de Naiá era tanta que chegou a um ponto em que a jovem não queria nem comer nem beber mais nada, só admirar a Lua. À noite, Naiá saía pela floresta soluçando e clamando pelo amor do deus Lua. Em uma dessas noites, Naiá viu a Lua refletida nas águas de um lago e pensou que era o próprio deus que se banhava ali, bem perto dos seus olhos.
Emocionada, Naiá jogou-se no lago, na direção em que via sua paixão, e não mais voltou. Comovido por tanto amor, o deus Lua recompensou Naiá, transformando-a em uma estrela diferente: Naiá virou uma linda vitória-régia, a “estrela das águas”, cujas lindas flores são brancas durante a noite e tornam-se rosadas com o nascer do dia.