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“As pessoas não morrem. Ficam encantadas.” Vidal Vive!

Vidal Vive!

do do Distrito Federal (PTDF) ao militante revoluncionário, camarada  e companheiro José Carlos Vidal, o que lutou a boa luta!  

As pessoas não morrem. Ficam encantadas” – Guimarães Rosa 

Tem gente que não passou a em branca nuvem.

Tem gente que sentiu a violência da tortura.

Tem gente que sofreu, mas foi um ser vivo por inteiro.

Tem gente que viveu intensamente seu tempo.

Tem gente que lutou a boa luta. A luta alegre e feliz por um melhor.

Dentre esta ousada, atuante e inquieta gente, com certeza estava José Carlos Vidal.

Vidal, faleceu nesta madrugada de segunda feira dia 25 de março de 2019.

Vidal, militante revolucionário, resistiu e enfrentou a .

Nesta triste e terrível época, ficou preso por um longo tempo e foi barbaramente torturado.

Depois de solto se sentiu novamente ameaçado. Para não morrer se autoexilou.

No exílio, com outros brasileiros, participou ativamente da luta por anistia ampla no .

Após a anistia retornou ao Brasil, ajudou a construir o PT e foi um dos seus fundadores.

Economista e pós graduado foi no primeiro governo Petista do DF presidente da CEB, de 1996 a 1998.

No primeiro Governo foi assessor do Presidente da Petrobras José Eduardo Dutra (falecido).

Sem querer mostrar seu extenso currículo, é preciso registrar que Vidal sempre lutou por um Brasil farto, justo e mais igual.

Homem íntegro, competente na execução de serviços por onde passou, em especial na CEB e na Petrobras. Candangos e brasileiros agradecem.

Neste momento em que o presidente eleito do Brasil, admirador do torturador Ustra, orienta e incentiva seu governo a comemorar o truculento de 31 de março de 1964, reabre-se a ferida.

Com certeza milhões de Vidais empunharão bandeiras democráticas e libertárias.

(Texto lido por Rubem Fonseca durante a cerimônia de despedida de José Carlos Vidal no dia 26 de março de 2019).

Vidal ViVe!

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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