AS SEM PÁTRIA
O que é um país? Uma pátria, uma nação? O que é uma fronteira?
Por Kate Schatz

É um rio, um mar, uma linha em um mapa? Um em cada 122 humanos na Terra é refugiado expatriado ou está em busca de asilo.
O que quer dizer ser de um lugar? Ou ser estrangeiro?
Pertencer, não pertencer. pátria
Você nasce onde nasce Floresta ou deserto, montanha ou litoral.
Uma casa, uma cabana, uma barraca. Um abrigo. Um campo de refugiados
Um em cada 122 humanos não tem um lugar.
De onde você vem? pátria
De que grupo, de que povo?
Quem segura você lá? A boca de quem fala sua língua?pátria
Como eu cheguei aqui? Como você chegou aí?
Das 60 milhões de pessoas expatriadas à força no mundo, quase 80 por cento são mulheres e crianças. Elas deixam suas casas, cidades e países por causa de guerra, violência, discriminação, fome, catástrofes ambientais.
Imigrante. Refugiado Migrante. Sem-teto. Sem pátria. Sem Estado. Humano.
Essas pessoas fugiram do Leste Europeu, do Norte da África, do Oriente Médio, do Sudão do Sul, da América Central.
Por cima de cercas, por subterrâneos. Enfrentando soldados, polícias, milícias. Contrabandistas, traficantes, patrulhas de fronteira. Procurando segurança, comida, educação. Asilo, aceitação, cidadania.
Fugindo de Myanmar, da Síria, do Afeganistão, da Eritreia. Do México, da Somália, da Turquia, da Ucrânia. Da Guatemala, do Iraque.
Um mundo sem guerra, uma noite sem bombas, uma escola sem armas, um dia sem gangues. Uma chance. Um lar. Uma vida.
Elas se despedem de amigos, de familiares, de escolas e de empregos e partem na esperança de que, em algum lugar, de alguma forma, consigam encontrar um novo lugar. Às vezes, partem com as famílias inteiras, às vezes, maridos e pais morreram na guerra, em brigas.
Milhões de mães andam no escuro frio, com bebês nas costas e crianças nos braços.
Elas as acalmam em barcos enquanto atravessam mares negros, cantam cantigas de ninar em barracas em acampamentos perigosos.
Elas fogem grávidas, dão à luz na estrada, aninham novas esperanças. Elas seguem em frente.
Vão recusá-la? Tem lugar na terra? Nos nossos corações?
Forçadas para fora da Irlanda, do Congo, da Alemanha, de Cuba. Têm que sair da Palestina, da Sérvia, do Vietnã, do Camboja.
Elas passam bebés por cima de cercas, dão nas mãos de outras pessoas.
Mandam filhas por desertos, para longe de guerras nas quais nasceram.
Atravessam desertos e oceanos para terras novas.
E, às vezes, elas chegam a estações de trem e a aeroportos, onde multidões ansiosas com sapatos e casacos as esperam.
Refeições e brinquedos, fraldas e livros, cartazes que dizem
“Bem-vindos/as” em línguas desconhecidas.
Salas de aulas e livros, a chance de sonhar, de ter um futuro.
O que quer dizer ajudar, aceitar? Ser amigo, vizinho, irmã?
Nenhum ser humano é ilegal.
Quem pertence? Quem ajuda? Nós.
Kate Schatz – Escritora. Em Mulheres incríveis: artistas e atletas, piratas e punks, militantes e outras revolucionárias que moldaram a história do mundo. Editora Alto Astral, 2017.
Capa: Marcelo Camargo/Agência Brasil