Ataques do 8/1 completam seis meses com 1290 processados e 253 presos
STF ainda deve analisar pedidos da PGR contra os incentivadores dos atos, como Bolsonaro, que já depôs; em paralelo CPMI convocou o ex-ajudante de ordens Mauro Cid
Por Murilo da Silva/Portal Vermelho
No último sábado (8) se completou 6 meses dos ataques golpistas contra as sedes dos Três Poderes, em Brasília (DF). Desde então o Supremo Tribunal Federal já abriu processos contra 1290 acusados de envolvimento com as ações do 8 de Janeiro, de acordo com o g1. As acusações foram aceitas a partir das denúncias feitas pela Procuradoria Geral da República (PGR).
Como é informado pela Corte, 253 réus continuam presos e cem denúncias aguardam julgamento. O Supremo está em recesso entre 2 e 31 de julho. No retorno para os trabalhos do segundo semestre, a Corte começará a julgar os casos.
Ainda é necessário analisar inquéritos da PGR sobre os instigadores dos atos de vandalismo que tem foro privilegiado. Constam neste seleto grupo de ‘mentores intelectuais’ o ex-presidente Jair Bolsonaro (que depôs em abril), o governador do DF Ibaneis Rocha, o ex-ministro Anderson Torres e os deputados General Girão, André Fernandes, Clarissa Tércio e Silvia Waiãpi. No caso das deputadas a PGR pediu arquivamento com o avanço das investigações.
CPMI
Enquanto o STF está em recesso, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), que investiga os atos golpistas do dia 8 de janeiro, avança na próxima semana. Na terça-feira (11), o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, terá que comparecer à CPMI.
Não se sabe se ficará calado para não se autoincriminar, ou se prestará esclarecimentos. Cid está preso acusado de falsificar cartões de vacinação desde 3 de maio.
Agora novas acusações podem pesar contra ele após ter seu celular apreendido pela justiça. Nas mensagens encontradas pela Polícia Federal foi visto que Cid participava de conversas sobre um possível golpe militar.
Algumas das trocas de mensagens se davam com o coronel Jean Lawand Junior que já prestou depoimento na CPMI. Lawand foi criticado por parlamentares ao menosprezar o trabalho realizado e por mentir na oitiva. Ele pode ser processado por falso testemunho.
Fonte: Portal Vermelho Capa: Divulgação/STF
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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