ATINGIDOS DENUNCIAM CRIMES AMBIENTAIS DA VALE

Atingidos denunciam crimes ambientais da Vale durante COP28 em Dubai

A principal queixa dos manifestantes foi a falta de escuta às populações diretamente afetadas pelos empreendimentos.

Por Redação/Mídia Ninja

Atingidos por crimes ambientais da Vale realizaram um protesto durante um dos eventos da COP28, em Dubai, cobrando reparação de direitos. A representante da Vale presente, Ludmila Nascimento, anunciada como diretora de Energia e Descarbonização, participou de uma atividade sobre “Política Nacional de Transição Energética do Brasil sob diferentes perspectivas: setor público, privado e sociedade civil”.

O Secretário de Transição Energética do Ministério de Minas e Energia, Thiago Barral, também foi confrontado por representantes de movimentos sociais.

A principal queixa dos manifestantes foi a falta de escuta às populações diretamente afetadas pelos empreendimentos. Luciane Souza, da rede Vozes Negras pelo Clima, questionou a justiça e inclusividade da transição energética proposta pelo governo. “A que preço vai sair essa transição energética? Queremos, sim, participar do debate”, afirmou.

Camila Aragão, também da rede Vozes Negras pelo Clima, abordou questões ambientais cruciais, como a seca e a contaminação pelo garimpo. “Nós sofremos isso na base. Quando nossos povos originários estão bebendo água com minério, quando não tem peixe mais na Amazônia e tem seca. Queremos participar das decisões na mesa”, acrescentou.

A falta de representatividade e diálogo verdadeiro com as comunidades foi destacada por Thiago Guarani, liderança da Terra Indígena Jaraguá. “Não queremos ser consultados como estatística, empregos industriais ou subempregos. Queremos viver conforme nossa história, nossa percepção de território, de tecnologias ancestrais e de vida. Nós queremos estar vivos e sobreviver a isso”, enfatizou.

As críticas incluíram também um lembrete doloroso sobre o desastre ambiental no rio Doce, destacando a responsabilidade do governo em relação às vidas à beira da extinção. “Lembrem do que fizeram com o rio Doce, colocando vidas à beira da extinção. Vocês não representam nossos territórios”, ressaltou Thiago Guarani.

Veja o vídeo:

Quatro anos da tragédia em Brumadinho: 270 mortes, três desaparecidos e nenhuma punição

Passados quatro anos desde o trágico rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, que deixou 270 pessoas mortas e despejou milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração na bacia do Rio Paraopeba, a busca por responsabilização ganha novo capítulo. No início deste ano, a Justiça Federal aceitou a denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal (MPF) contra 16 pessoas e as empresas Vale e Tüv Süd. Os envolvidos foram denunciados por homicídio qualificado, crimes contra a fauna, crimes contra a flora e crime de poluição.

As investigações indicam que perfurações verticais foram o gatilho para a liquefação que provocou o rompimento da estrutura em janeiro de 2019. A Tüv Süd, consultora responsável pela estabilidade, emitiu Declarações de Condição de Estabilidade, permitindo que a estrutura operasse com fator de segurança abaixo do recomendado. Apesar da ciência dos problemas, a mineradora apresentou documentos às autoridades, contribuindo para a tragédia.

A recomendação de não utilização da água bruta do Rio Paraopeba persiste mais de 1,4 mil dias após o desastre, afetando diversas regiões. A pesca de espécies nativas permanece proibida. Enquanto a busca por responsabilização criminal avança, familiares de vítimas aguardam justiça.

Brumadinho Pleno.News
Foto: Pleno News
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Brumadinho, Mariana, e os versos proféticos de Drummond:

“O Rio? É doce. A Vale? Amarga.”

“Sim, podemos também escolher uma morte de súbito pela derrama dos minérios, sem anúncio, com ameaças públicas, feito bravata. Não haverá tempo para escapar. Nada de poder seguir para outro abrigo, outro lugar de exílio, pois de súbito cai a lama tóxica, podre de rica, com um valor admirável agreado da mineração. Nosso ouro virou veneno. “A Terra virou uma ferida,” disse, há tempo, o poeta.”  –   Ailton Krenak.
Por Zezé Weiss
Em 5 de novembro de 2015, um crime ambiental ainda sem punição permitiu o rompimento da barragem de rejeitos do Fundão, da Samarco Mineradora, controlada pela Vale e BHP/Biliton, no distrito de Bento Rodrigues, no município de Mariana, estado de Minas Gerais.
Com 19 vidas humanas perdidas e um dano ambiental incalculável para toda a bacia do Rio Doce, a tragédia de Mariana foi anunciada e documentada por pesquisadores e cientistas como o maior desastre associado à exploração de minérios até então registrado em todo o mundo.
Em 25 de janeiro de 2019, pouco mais de três anos depois, deu-se outra tragédia em terras mineiras, em uma barragem rejeitos da Vale. Em 25 de janeiro, uma outra barragem desabou, no município de Brumadinho, a pouco mais de 120 quilômetros da barragem do Fundão.
Em Brumadinho, a  lama de rejeitos cobrou mais vidas humanas: 270 pessoas mortas e 6 desaparecidas até hoje..
O rio atingido foi o Paraopeba. Pro meio dele, os rejeitos já passaram pela aldeia indígena dos Pataxó e avançaram, rumo ao São Francisco. Estudo realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica concluiu que os rejeitos de minério de ferro derramados mataram vários trechos do rio Paraopeba. O tsunami de lama e rejeitos de minérios carreou para o rio, árvores e animais mortos, restos de casas, fossas sépticas e bactérias.
Em 1984, Carlos Drummond de Andrade publicou seu poema “Lira Itabira”, versos proféticos sobre o conflito entre a mineradora Vale e a vida ribeirinha nos sertões mineiros. Era pra ser sobre o Rio Doce. Hoje a dimensão do poema alcança também o Rio Paraopeba. Em sua profecia, Drummond nunca foi tão doído, tão cortante, tão pungente e tão atual.
Brumadinho Minas Gerais 33198855108 Wikipedia

Foto: Wikipédia

LIRA ITABIRANA
I
“O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.
II
Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!
III
A dívida interna
A dívida externa
A dívida eterna
IV
Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?
Brumadinho Rio Paraopeba Agencia Brasil EBC

Foto: Agência Brasil

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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