brumadinho

Uma reflexão sobre Brumadinho

Uma reflexão sobre Brumadinho

Há menos de três anos, a cidade de e o Distrito de Bento Rodrigues, ambos em (MG), agonizavam na tragédia que seria uma das maiores que o teria vivenciado: o rompimento de uma barragem de rejeitos da Samarco. Muitas vidas ceifadas, muitas pessoas sem ter onde morar e o , mais uma vez, sofrendo com a inércia do poder público e os desmandos de gananciosos pelo lucro a qualquer preço.

E a tragédia logo se repete, com as vidas perdidas, os danos patrimoniais, ambientais e sociais com a tragédia de Brumadinho (MG). Tudo isso deixa mais distante do Brasil o alcance dos Objetivos de – ODS, cujas metas buscam concretizar os direitos humanos de todos e equilibram as três dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental.

Desde que o ser humano surgiu no planeta, entre 350 a 500 mil anos atrás, a relação com o ambiente tem se transformado a partir do desenvolvimento das civilizações. A dependência da nossa espécie pelos recursos naturais estava inicialmente clara, pois os primeiros agrupamentos humanos migravam em busca de disponibilidade de alimentos, água e abrigo. O desenvolvimento da agricultura e de outras tecnologias permitiu que fixássemos residência, já que as nossas necessidades começaram a ser atendidas com a produção de alimentos e a oferta de bens de consumo e serviços.

Conforme caminhamos para condições mais confortáveis de vida, a nossa dependência pelos recursos naturais fica menos evidente, demandando a reflexão a respeito do quanto somos vulneráveis. Atraídos pelas tentações do consumo e de padrões de vida que exigem a substituição e o descarte de materiais, já não enxergamos o quanto estamos impactando o ambiente. Poucas pessoas compreendem, por exemplo, que os meios de transporte e os eletrodomésticos que utilizam diariamente são o resultado de processos produtivos como a mineração, que extraem os recursos naturais e geram resíduos perigosos.

Os processos produtivos ganharam dimensões inimagináveis, para atender um maior número de pessoas no planeta e o consequente aumento na demanda por bens e serviços. Além disso, a questão da lucratividade tem grande influência para o quadro atual de degradação. Em busca de maiores ganhos, algumas empresas inclusive colocam em risco a vida de muitos seres vivos ao “economizarem” com estruturas de e por não investirem o suficiente em gestão de resíduos. Ressalta-se que o desenvolvimento sustentável somente será alcançado com os princípios da Agenda ODS para 2030, que prevê um plano de ação para as pessoas, para o planeta e para a prosperidade.

Todo esse cenário torna ainda mais graves as questões expostas com o rompimento da barragem de rejeitos na cidade de Brumadinho, que tirou a vida de centenas de pessoas e causou impactos ambientais incalculáveis. A busca pelo lucro a qualquer custo fica evidente quando nos encontramos em um contexto no qual há três anos a cidade de Mariana esteve inserida: quando foi atingida por rejeitos produzidos pela empresa pertencente ao mesmo grupo que contaminou Brumadinho. Por que não investir em um processo mais seguro para a destinação dos resíduos de mineração? A resposta é simples: investir em destinação de resíduos resulta em menor lucratividade. Entretanto, a tragédia nos mostra o quanto essa afirmação está equivocada.

Esse contexto só reforça o imperativo do comprometimento global com a conservação dos recursos naturais e do desenvolvimento sustentável. Iniciativas como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) contribuem para repensar o modelo de desenvolvimento vigente, que negligencia as questões ambientais e não reflete sobre a igualdade social, saúde e da população. Acidentes como os observados em Mariana e Brumadinho seguramente não ocorreriam se as metas, estabelecidas nos ODS, estivessem de fato fazendo parte da agenda dos países signatários, como o Brasil, e houvesse um real comprometimento com essas causas. A nossa comodidade frente ao atual sistema produtivo é outro fator que dificulta ainda mais atingir as metas propostas nos ODS.

Fica cada vez mais evidente a necessidade de dialogar com a sociedade sobre a complexidade dessas questões, pois o modelo de consumo, de descarte e de lucro a qualquer custo já mostrou que não tem sustentabilidade. Temos a opção de repensar as nossas escolhas diárias ou sofrer as consequências pela falta de água segura, de solo fértil e do ar limpo para respirar. Os recursos naturais pertencem a toda humanidade, e a cada crime ambiental, a cada nova contaminação, a cada nova espécie extinta, a cada ser humano que morre para outro lucrar, toda a humanidade perde. Não se olvidem, se tantas outras, passarem por tragédias semelhantes, pois o dever de casa e o aprendizado se tornou algo secundário para esses empreendedores.

Augusto Lima da Silveira – coordenador do Curso Superior Tecnologia em Saneamento Ambiental na modalidade a distância do Centro Universitário Internacional Uninter. Atualmente é doutorando em Ecologia e Conservação.

Ivana Maria Saes Busato – coordenadora dos Cursos Superiores de Tecnologia em Gestão Hospitalar e Gestão de do Centro Universitário Internacional Uninter, ambos na modalidade a distância. Tem atuado na área de Saúde Pública, Gestão Pública e possui doutorado em Odontologia.

Rodrigo Berté – diretor da Superior de Saúde, Biociências, Meio Ambiente e Humanidades do Centro Universitário Internacional Uninter. Atua na área de Meio Ambiente e Sustentabilidade. É Pós-Doutor em Educação e Ciências Ambientais pela Nacional de Ensino à Distância – Madrid (Espanha).

ANOTE:

Esta matéria nos foi enviada por Giulia El Halabi da Pg1:

SeloPg1

Assessoria de imprensa da Uninter

Giulia El Halabi

email giulia@pg1com.com

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!