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Avon lança campanha “Essa é minha cor”, a empresa publicou um manifesto antirracista

Avon lança campanha “Essa é minha cor”, a empresa publicou um manifesto antirracista

O artigo apresenta o texto de Larissa Luz, uma baiana arretada, artista incrível e negra sensível, que foi adotado em campanha pela Avon, com o tema “Essa é minha cor”, como forma de combater o e dar voz ao preto

247 – A empresa de cosméticos Avon lançou uma nova campanha contra o racismo. Com o lema “Essa é minha cor”, a empresa publicou um manifesto antirracista escrito por Larissa Luz.

Segundo a escritora, a ideia é “amplificar vozes femininas negras que são diariamente invisibilizadas num país racista é uma contribuição efetiva em prol de uma transformação necessária, e participar desse processo onde misturam-se não só tons, mas, também, grandes talentos, é potente e inspirador”.

ESSA É MINHA COR

“Ser mulher negra no é acordar todos os dias e bolar estratégias de resistência, de resiliência, estratégias para ser feliz, estratégias para amar.

Planejar o seu destino acreditando no aparente impossível, apostar no invisível, investir no que todos parecem duvidar.

Não ter muito pra chorar, não ter muito tempo pra se divertir, não ter muito tempo pra comemorar, não ter muito tempo porque o tempo parece ser sempre pouco pro tanto a se fazer.

Ser mulher negra é nascer com uma missão: sobreviver.

Porque parece que estamos sempre no risco, senão de morrer, ao menos de enlouquecer.

Mas mesmo com tudo, quando estamos juntas, deixamos de ser apenas mulheres de e passamos a ser mulheres de , de sensibilidade, de acolhimento, afeto…

Quando percebemos nos nossos diferentes tons, uma essência em comum, entendemos que, na mistura das nossas tintas, mora o tom do abraço, e ele é reluzente, é consistente.

O tom ideal vem da nossa união.

E na construção dessa paleta o único objetivo é achar o nosso lugar.

Poder assumir a nossa verdade, na pele crua, é acessar a , não sentir medo de estar nua.

Seguir com a e a convicção de que o é nosso e seremos a revolução.

Bater no peito e dizer com vontade:

“Me chama de preta. Me chame de negra. Essa é a minha Cor.”

Fonte: Brasil 247

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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