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BOITATÁ: A LENDA DO FOGO QUE CORRE

BOITATÁ: A LENDA DO FOGO QUE CORRE

Boitatá: A lenda do fogo que corre

O boitatá, no folclore brasileiro, é uma grande cobra de fogo. A lenda do boitatá é muito antiga. Essa cobra de fogo, cujo nome vem da junção das palavras da língua indígena mboi (cobra) e tata (fogo), foi citada pela primeira vez em 1560, em um texto do jesuíta José de Anchieta, que a denominou com o termo tupi Mbaetatá (coisa de fogo).

Diz a lenda que, muito tempo atrás, houve um período de noite sem fim, de grande escuridão nas matas brasileiras. Era um tempo sem estrelas, sem luz, sem vento. Depois, veio uma enorme enchente causada por chuvas torrenciais. Assustados, os animais correram para um ponto mais elevado para se protegerem.

Foi então que a boiguaçu, cujo nome significa cobra grande, do tupi mboi (cobra) e guaçu (grande), uma cobra que vivia numa gruta escura e era o único bicho acostumado a enxergar na escuridão, acordou com a inundação e, faminta, saiu em busca de alimento.

Os dias foram passando, e a chuva não parava. Choveu tanto que inundou tudo e muitos animais acabaram morrendo. Então, a boiguaçu começou a comer os olhos de animais mortos que brilhavam, boiando nas águas.

De tantos olhos brilhantes que a cobra comeu, ela se transformou nesse monstro brilhante que é o boitatá, cujo fogo não se apaga nem dentro d’água.  É um fogo mágico, que não queima as plantações nem os bichos das florestas, mas é capaz de cegar, enlouquecer ou até mesmo matar quem maltrata a natureza.

Dizem que o boitatá assusta as pessoas quando elas entram na floresta para desmatar ou para provocar incêndios.  Nessa hora, é capaz de se transformar em um grande tronco que cospe fogo, de quem não adianta correr. Em caso de ataque de um boitatá, a melhor solução é a pessoa ficar parada, de olhos fechados, parecendo não respirar.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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