BOTAFOGO, UMA PAIXÃO

BOTAFOGO, UMA PAIXÃO

BOTAFOGO, UMA PAIXÃO

Athos e eu tínhamos em comum o gosto por um bom vinho e a paixão pelo futebol, além da preferência política. Ele, militante; eu, no meu canto, com mulher militante do PT. No futebol, a gente torcia para times diferentes, e digo que era difícil aguentar o Athos nas raras vezes em que o Botafogo dele surrou o meu Vasco. Agora, quando vejo a boa fase do Botafogo, não tem como não lembrar dele!

Pedro Irlei Resende Silva 

Passei a conviver com o Athos nos primórdios do PT em Goiás, em 1980, e da minha carreira de jornalista na Rádio Difusora de Goiânia. Nossa ligação se fortaleceu quando soube que ele também torcia para o Botafogo. Outra estrela em nosso caminho. É salutar lembrar que Athos só pode ser considerado, realmente, um ser humano quase pleno devido ao seu bom humor exacerbado. Ele me lembra, às vezes, o Fradim, personagem do Henfil. Humor afiado, utilizado com precisão em suas falas nas plenárias do PT, em Goiânia, que irritavam seus opositores. É muita responsabilidade falar sobre ele. Quando se trata de política, ele é muito sério, comprometido e com vasto conhecimento acadêmico. Não podemos, de forma alguma, desconhecer sua contribuição na formação de tantas lideranças petistas que passaram pelo Congresso Nacional. Suas reflexões políticas fortalecem até hoje a sigla. Por essas e outras razões, podemos assegurar que Athos Pereira está presente.

Armando Neto Machado de Araújo 

Falar do Athos, o sogro do meu filho Diego, pra mim é como se eu estivesse com ele sentado conversando sobre futebol. Assim como eu, ele era um torcedor do Botafogo, justo e fanático. Dele, ganhei um livro sobre o Mendonça, ex-jogador do Botafogo, que guardo com imenso carinho. 

Edmilson Belchior

Entre Athos e eu, sempre houve duas estrelas: a vermelha do PT e a solitária do Botafogo, que tanto nos fez rir e chorar. Partilhávamos nossas duas grandes paixões, o futebol e a política, empunhando as mesmas bandeiras e torcendo sempre do mesmo lado. Se o início da jornada já foi fantástico, o caminhar junto foi melhor ainda. Dono de um humor refinado, suas “tiradas” tornavam o nosso estar-junto sempre festivo e agradável. Com ele não tinha tempo ruim. Fez da militância causa e consequência de vida. Lutar fez parte da sua vida até o fim. Não conseguiu vencer a doença, mas foi capaz de deixar prontinha uma supernova, esse fenômeno astronômico que ocorre durante os últimos estágios evolutivos de uma estrela, ou seja, quando uma estrela gigante chega ao fim. O brilho que vem dessa explosão atinge milhões de vezes a luminosidade de uma estrela antes de ela estourar. O Athos é a supernova, nasceu para ser estrela e se transformar em um astro gigante. Ao partir, deixou um rastro de luminosidade sempre presente em mim e, com certeza, em muitos e muitas de nós. 

Edson Dantas

Já ouvira amigos em comum falarem do Athos, mas só nos conhecemos em 2003, na Liderança do PT na Câmara, onde ele deixou uma legião de amigos. Deu preciosas contribuições para a Bancada do PT e para quem trabalhava ao lado dele, com suas análises de conjuntura. Ria quando contava que fugiu da repressão da ditadura militar disfarçado de padre e foi parar numa igreja na minha querida Uberaba (MG). Sua paixão pelo futebol, com o seu precioso Botafogo, também era outro ponto de convergência. Como sou cruzeirense, me lembro que em 1996 escreveu uma crônica sobre o time, publicada na Folha de S. Paulo, assinada pela então líder do PT, Sandra Starling: “O destino numeroso de torcer pelo Cruzeiro”. Está lá: “Antes de ser um time, o Cruzeiro, para mim, é uma paixão, e é da natureza das paixões não se deixarem reduzir aos parâmetros e equações da economia. Porque, se a economia é cinza, a terra é azul como a camisa do Cruzeiro”. Ambos os times, Botafogo e Cruzeiro, têm camisas com estrelas e, por sinal, neste ano de 2024 enfrentam disputas cruciais: o primeiro, a decisão da Libertadores da América, o outro, a final da Copa Sul-Americana. Um momento de celebração para quem sabe da paixão de Athos pelo seu time. 

Paulo Paiva Nogueira

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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