O Brasil é uma democracia em decadência, onde a Justiça não é para todos, diz Le Monde
Le Monde: “A elite de Brasília se banha num clima de impunidade suscetível de desgostar o povo. Há poucos meses da eleição presidencial, o Brasil, um dos países mais desiguais do mundo, retorna a sua imagem de uma sociedade de castas onde os líderes não obedecem as mesmas leis que os pobres, é indigno e perigoso para a maior democracia da América Latina.”
Em editorial, o Le Monde, principal jornal francês, diz em sua edição deste sábado, 27 de janeiro, que a condenação de Lula abre uma nova frente no caos da história política brasileira, em derrocada desde o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, no ano de 2016.
Segundo o Le Monde, “a desgraça de Lula mostra um espetáculo lamentável de um velho mundo político em decadência”. Para o jornal, a condenação de Lula mostra o que há de pior em uma sociedade de castas, desigual, onde a justiça não é a mesma para a elite política e para os mais pobres, o que coloca em risco a democracia no maior país da América Latina.
Nesse sentido, o Le Monde considera a condenação sem crime e sem provas de Lula no último dia 24, pelo TRF4, em Porto Alegre, por corrupção, lavagem de dinheiro e propriedade de um apartamento que foi penhorado para pagar dívidas de sua real proprietária, a empreiteira OAS, só acirra o caos político.
A entrega do passaporte de Lula aos agentes da polícia federal, nesta sexta-feira, é “mais uma humilhação para o ex-sindicalista, símbolo da luta operária na ditadura militar, um dos maiores dirigentes do país e estrela de cúpulas internacionais no auge de sua carreira”, lembra o jornal. Por isso, o destino de Lula, o “pai dos pobres” gera todo tido de reação extrema dentro e fora do país.
“Sociedade de castas”
Ao mesmo tempo, ressalta o jornal, o mal-estar no país cresce desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff. A saída da presidente, diz o Le Monde, não serviu “à causa ética prometida pela operação anti-corrupção Lava Jato”, muito pelo contrário. Para o jornal, “a desgraça de Lula mostra um espetáculo lamentável de um velho mundo político em decadência”.
O Le Monde lembra que, no mesmo momento em que os juízes pronunciavam a sentença contra Lula, o presidente Michel Temer, acusado de corrupção passiva, obstrução à Justiça, e participação em organização criminosa, participava da Cúpula de Davos, tentando dar um ar de normalidade à sua gestão.
“Até agora, o chefe de estado conseguiu suspender os processos na Justiça que o visam negociando favores com parlamentares que também são alvo do Judiciário”, diz o texto, lembrando que pelo menos 45 dos 81 senadores foram indiciados por crimes variados. “Lava-Jato só traz à tona práticas bem anteriores a Lula”, ressalta o Le Monde.
Foto: Gazeta do Povo
ANOTE AÍ:
FonteS desta matéria (com edições):
http://mobile.lemonde.fr/idees/article/2018/01/27/deliquescence-de-la-democratie-bresilienne
Foto: UOL Notícias
VEJA O TEXTO EM FRANCÊS:
« Editorial du Monde. » Après les bravades, les larmes et les outrances, Luiz Inacio Lula da Silva, dit « Lula », président du Brésil de 2003 à 2011, a obtempéré. Vendredi 26 janvier, ses avocats sont venus remettre le passeport de l’ancien chef d’Etat aux autorités policières de Sao Paulo. Cette mesure était réclamée par un juge de Brasilia, au lendemain de sa condamnation à douze ans et un mois de prison pour corruption passive et blanchiment d’argent.
Une humiliation de plus pour l’ex-syndicaliste, figure de la lutte ouvrière sous la dictature militaire (1964-1985), qui fut l’un des plus grands dirigeants politiques du pays et la star des sommets internationaux au temps de sa splendeur. Le sort de Lula, « père des pauvres » dont la politique sociale a sorti des millions de Brésiliens de l’indigence, déchaîne les passions.
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Immunité dévoyée
Mais le malaise grandit depuis l’« impeachement » controversé, en 2016, de la présidente Dilma Rousseff, héritière et successeure de Lula. Loin de servir la cause de l’éthique promise depuis le déclenchement de l’opération anti-corruption « Lava Jato » (« lavage express »), la disgrâce de Lula offre le spectacle affligeant d’un vieux monde politique en déliquescence.
Au moment où les juges prononçaient la sentence contre l’ex-métallo, l’actuel président, Michel Temer, participait au sommet de Davos, tentant de faire oublier les lourdes accusations qui pèsent contre lui : corruption passive, participation à une organisation criminelle et obstruction à la justice.
Jusqu’à présent, le chef de l’Etat est parvenu à suspendre les procédures qui le visent au prix d’un marchandage éhonté avec des parlementaires, eux-mêmes en délicatesse avec la justice. Au Congrès brésilien, pas moins de 45 sénateurs sur 81 doivent répondre d’accusations criminelles, pointe le site Congresso em Foco, qui scrute l’activité parlementaire. Rien de neuf. « Lava Jato » n’a fait que mettre en lumière des pratiques bien antérieures à l’arrivée au pouvoir de Lula.
Après les manifestations monstres de 2015 et 2016 réclamant au nom de la « morale » le départ de Dilma Rousseff, les scandales, dignes d’un film de série B, mêlant mallettes d’argent sale et tractations en sous-sol, se sont succédé au point d’étourdir les Brésiliens. Mais le statut de foro privilegidao (« citoyen privilégié ») protège les politiciens en fonctions ; l’immunité dont ils bénéficient, légitime dans son principe, est dévoyée et instrumentalisée avec le plus grand cynisme.
L’élite de Brasilia baigne dans un climat d’impunité de nature à écœurer le peuple. A quelques mois de l’élection présidentielle, le Brésil, pays parmi les plus inégalitaires au monde, renvoie l’image d’une société de castes où les dirigeants n’obéissent pas aux mêmes lois que les miséreux. C’est indigne et dangereux pour la plus grande démocratie d’Amérique latine